As Benevolentes intimidam o leitor lá do alto das suas 896 páginas. Ao olhar o volume, que na edição portuguesa tem na capa vermelha uma reprodução de uma tela de Lucio Fontana, um gajo menos corajoso fica logo a pensar em coisas como: "que tijolo!" ou "ler isto é como ter um emprego". Mas não é pela escala do discurso, nas suas páginas de texto denso e compacto, que este livro pode ser considerado um monumento.
Do mesmo modo O Francoatirador Paciente, livrinho de 240 páginas bem polvilhadas por animados diálogos que lhe aligeiram o peso global, não poderá ser por isso considerado um bibelot poisado num naperon rendilhado. Até porque o tema de Pérez-Reverte é muito interessante e actual e a essência da sua história transporta uma certa mistura de melancolia e raiva, mistura, a meu ver, bem espanhola.
Não será por As Benevolentes me terem transportado para lá das fronteiras da imagem que eu tinha do Ser Humano e por O Francoatirador me ter parecido redondinho e rechonchudo no final da leitura. Não. Não é por nenhuma destas razões que um livro me parece um monumento e outro me sugere um bibelot.
A sensação que tenho é que Littell escreveu o seu tijolo exactamente da forma que tinha de fazê-lo. Aquilo é uma coisa em se acredita e é aí que reside o sublime desconforto de o ler. Já Pérez-Reverte dá a sensação de estar a escrever a sua renda de casa, o jantar com a família e a viagem de férias. O livro é bem escrito mas falta-lhe qualquer coisinha para descolar a sensação de estarmos a ler uma obrigação editorial.
Seja como for não dou por mal empregue nem um dos minutos que levei a ler um e outro destes livros. Não me interpretes mal, gentil leitor. Tanto me sinto maravilhado quando entro no espaço infinito da Sagrada Família como quando descanso o olhar no bibelot do menino que mija entre um gole e outro e mais um sorriso da minha querida tia, que é muito velhota mas gosta sempre de me ver.
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