quarta-feira, outubro 08, 2014

Espírito tuga

três destes gajos já voltaram para a sombra mas a maioria mantem-se no poder

Tenho alguma dificuldade em compreender o modo de pensar da maioria dos portugueses que ainda se dignam ir votar quando são chamados a participar em eleições. Ontem ao fim da tarde, quando fui, como é meu hábito, à tasca da esquina beber uma imperial e passar os olhos pelo jornal desportivo tive uma desconcertante conversa com um cliente meu conhecido e a senhora, do outro lado do balcão.

Foi o meu amigo quem puxou o tema de conversa: que o ministro da educação é um incompetente, a senhora sabia que eu sou professor e juntou mais uma ou outra acha para a fogueira que acendi alegremente e com alguma fúria à mistura.

Quem me conhece sabe que fervo em pouca água e que sou capaz de arrancar num discurso inflamado com uma velocidade estonteante, não preciso de ganhar embalagem. Deram-me os meios para fazer um pequeno comício anti-governo e não enjeitei a oportunidade, falando para quem quisesse ouvir.

Toda a gente concordou que estes governantes são péssimos, que o trabalho por eles desenvolvido cheira a vigarice, que a sua preocupação com o povo português soa a conversa fiada. Ainda assim, alguém trouxe a questão da eventual substituição do actual primeiro ministro e restante associação de malfeitores por outra gente. Foi aqui que voltei a deparar com o povo que somos.
Estava esquecido.

Embora todos estivéssemos de acordo quanto à falta de qualidade destes gajos, as dúvidas surgiram: mas, se eles saírem, quem colocamos lá? A vontade de mudar depressa se transformou em receio e conformismo.

A crítica desapareceu tão depressa quanto havia surgido. Confrontada com a responsabilidade de escolher uma alternativa toda a minha companhia preferiu encontrar razões para não mudar nada e manter a merda em que vivemos tal qual ela está. Ah, este bom e velho espírito tuga!

Fiz notar que a porcaria de governo que temos não surgiu por obra e graça do Espírito Santo (ou terá surgido?), que fomos nós, o povo, quem escolheu a malandragem que nos governa; a responsabilidade é nossa.

Tentei argumentar a favor da possibilidade de deitar tudo fora e começar de novo: se isto, assim, não funciona, é tempo de experimentar algo completamente diferente.

Nada a fazer, todos os presentes falaram para dentro, abanaram as cabeças e balbuciaram qualquer coisa acerca de com este governo, ao menos, já sabermos o que nos espera. Inacreditável! Inacreditável? Nããããããooo, qual é a surpresa!? Isto é portugal.

Saímos dali exactamente da mesma forma que havíamos entrado: com o rabo entre as penas e a nossa condição animal pura e intocada.

2 comentários:

João Menéres disse...

Estava a ler de manhã, quando fui interrompido.
Como agora é tarde, talvez fique para 6ª ou Sábado.
Mas cá voltarei, meu caro Rui.

Um abraço.

Silvares disse...

:-)

Abraço.