O recente episódio da disciplina de voto dos representantes do PSD no
Parlamento causou algum estrondo na opinião pública mas é bom notar que, longe
de ser um caso isolado, é apenas mais um capítulo na longa telenovela da
história da nossa Assembleia da República. Uma telenovela com argumento de faca
e alguidar e um casting cada vez mais
miserável.
Ao longo dos anos os grupos parlamentares têm oferecido espectáculos
deste nível a todos nós sem que ninguém mexa uma palha para fazer cumprir a lei
que os próprios deputados desrespeitam. A disciplina de voto no Parlamento é
uma aberração democrática e uma alarvidade partidária. Os deputados que a ela
se sujeitam deixam de merecer a confiança de quem os elegeu e mostram que o
número de cadeiras no Parlamento à disposição dos aparelhos partidários é, pelo
menos, exagerado.
Pessoalmente,
o que me preocupa é que se estes tipos se comportam assim à vista de toda a
gente como serão na intimidade e aconchego das respectivas sedes partidárias? Se
perante o país os deputados mostram que a sua liberdade de opinião não vale um
chavo tenho dificuldades em imaginar o que será uma reunião para decidir os
representantes do partido nas listas seja para que eleição for. Será como
escolher cabeças de gado manso para o redil parlamentar?
O sistema
partidário, tal como funciona, é um entrave à Democracia. A opacidade das
decisões políticas, as negociatas feitas à descarada, o evidente aproveitamento
da coisa pública por aqueles que dela deviam zelar sem que isso lhes traga o
mínimo amargo de boca, a sensação que o Zé Povo tem de estar a ser
constantemente roubado e enganado, deveriam fazer pensar os responsáveis pelos
partidos e levá-los a tentar inventar alguma coisa que inverta a actual
situação. Caso contrário, talvez a próxima Revolução seja contra eles.
5 comentários:
Só uma REVOLUÇÃO pode mudar o estado de coisas. Infelizmente.
Eduardo, penso que a revolução necessária, uma vez que vivemos em sistemas democráticos, terá de ser em termos de organização social. A começar nos partidos políticos.
Como já escrevi em tempos num post: "Os Partidos acabam por ser meros lóbis de interesses que funcionam numa lógica de disciplina partidária e auto-protectora. Os Partidos continuam, porém, a ser o cerne da democracia representativa. É neles que votamos e entregamos a nossa confiança democrática de 4 em 4 anos. Este é o tal melhor regime que existe. É, assim, extraordinário que, sendo os Partidos tão essenciais, seja neles que recai todo o ódio. Os Partidos são desprezados, rotulados de corruptos, os deputados são tachistas, não se percebe para que servem e passamos quatro anos a dizer mal deles... E, no entanto, sem eles não há regime. Este é um dos grandes paradoxos da democracia.
Jorge, talvez seja tempo de os partidos se abrirem à opinião dos eleitores independentemente de serem militantes ou não. Talvez...
Claro que seria. Mas isso é a utopia...
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