Aqui há dias, andava eu a sonhar acordado, tive a visão clara e límpida de uma final do campeonato da Europa entre Portugal e a Itália.
Nestas coisas do futebol torço sempre pelo teoricamente mais fraco. Espanha-Portugal? Ganha Portugal! Alemanha-Itália? Ganha a Itália! Pois. A minha visão cumpriu-se apenas em parte, já que Portugal acabou por cair de pé, como se diz em "futebolês", após um jogo chato e interminável contra os nossos vizinhos.
Portugal não foi mais fraco mas perdeu nos penaltis. Já a Itália mandou os alemães para casa com o rabinho entre as pernas, após um jogo em que poderia ter humilhado os "senhores da Europa" mas, à boa maneira latina, andou para ali aos saltos e a correr e não encontrou maneira de dar cabo dos alemães. A Itália foi mais forte que os mais fortes. Gosto disso.
Vencedores antecipados incham como sapos fumadores e esquecem-se que é preciso vencer dentro do campo. Aconteceu aos alemães. Não aconteceu aos espanhóis porque, ainda assim, fartaram-se de lutar de igual para igual com os nossos "muchachos", acabando por ser felizes nos pontapés na sorte.
Enfim, entre mundiais e europeus, seis meias-finais já foram jogadas pela nossa equipa nacional e apenas uma vez chegámos à final, foi em Lisboa, e perdemos.
Continuamos sem saber a que sabe uma vitória numa competição internacional de jogadores séniores (nos juniores já ganhámos dois mundiais, que me lembre... europeus não sei).
O sonho acordado acabou mas, espero, uma noite destas ainda vou sonhar com uma vitória extraordinária mas, agora, vou precisar de estar a dormir.
quinta-feira, junho 28, 2012
terça-feira, junho 26, 2012
Monstros
Cristo à conversa com Nessie durante um passeio sobre as águas, lá para o fim da tarde
O fanatismo é uma doença. Manifesta-se das mais variadas formas e não é fácil encontrar processos de cura para tão arrasadora maleita.
Um fanático é como um vírus instalado no tecido social. Muitos fanáticos podem provocar convulsões sociais que detrioram o aspecto das comunidades que parasitam.
Atente-se nesta notícia sobre a forma como os alunos que frequentam as escolas cristãs do ensino privado no sul do estado da Louisiana estão a aprender a história do mundo em que vivemos.
À falta de dados históricos que corroborem os textos bíblicos, a solução encontrada para encaixar os mitos cristãos naquilo que chamamos de realidade, é retorcer os factos até tudo ficar de acordo com a crença e a fé dos professores.
Ok, eu sei que há quem conteste a Teoria da Evolução e olhe para Darwin com o nariz torcido. Tudo bem, o universo científico é feito de discussão e comparação de dados numa eterna tentativa de escrever uma história que faça sentido e seja sustentada por dados o mais objectivos possível. A comunidade científica não envia ninguém para o inferno só por discordar ou pôr em causa este ou aquele postulado.
Os fundamentalistas cristãos, aqueles que seguem a Bíblia como os seus émulos islâmicos seguem o Corão, não admitem outra perspectiva do universo que não seja a deles que, por ser tão hermética e autoritária, resulta frágil como uma erva daninha.
Esta história dos dinossauros e do monstro do Lago Ness tem o seu quê de anedótico, é quase infantil. Ou melhor, seria anedótica e infantil se não tivesse aquele ferrete fanático a incomodar o pessoal.
Atenção aos monstros, sejam reais ou imaginários.
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quinta-feira, junho 21, 2012
Portugal
Tenho estado a evitar falar de futebol, apesar do campeonato da Europa da modalidade. Mas, que porra! Hoje não aguento mais. A selecção portuguesa acaba de carimbar o passaporte para a meia-final e já não consigo fazer de conta que não estou a reparar.
Eu sei que os jogadores são isto e aquilo fora do campo. Que são vaidosos (aqueles penteados...), que são limitados culturalmente (aquelas birras, aquelas declarações...) mas, dentro do campo, temos ali verdadeiros intelectuais.
Ronaldo é um cientista, Moutinho um geómetra exemplar, Nani uma espécie de poeta incompreendido e Coentrão é uma pequena máquina de fazer mal ao adversário. O Nosso Mister, Paulo Bento, até mudou o penteado ridículo por uma coisa mais sóbria e tem demonstrado uma capacidade invejável na gestão da empresa que é a nossa equipa de futebol.
O nosso problema é meter a bola na baliza adversária. Ao longo de um jogo criamos inúmeras oportunidades de o fazer mas, na hora da verdade, fica a sensação de que temos pena dos adversários. Rematamos ao lado, rematamos ao poste, atiramos por cima ou contra o cú do defesa adversário. Há quem diga que se o futebol fosse um jogo sem balizas Portugal ganhava sempre. Mas não ganha sempre, é preciso marcar golos para ganhar.
Como de costume andamos meio esquizofrénicos. Se ganhamos podíamos ter ganho por mais. Se perdemos (como aconteceu no primeiro jogo contra os monstros alemães) foi porque tivemos azar (e tivemos mesmo).
Agora ficamos à espera de saber se jogamos contra a Espanha ou com a nossa "bête noire". a odiosa França do irritante Michel, o Platini.
A novidade é que, desta vez, venha quem vier é encarada com grande confiança. Podemos ganhar ou perder, mas, por uma vez, não estamos cagados de medo. O que se passa? Estará Portugal a mudar? Será que as novas sonoridades do Fado estão a surtir efeito no espírito lusitano?
Seja o que for, venha quem vier, Portugal está a viver com uma calma inesperada a campanha deste Europeu. Pessoalmente desejo que sejamos campeões. Espero por isso desde que me lembro de ser quem sou. Já lá vão quase 50 anos...
Eu sei que os jogadores são isto e aquilo fora do campo. Que são vaidosos (aqueles penteados...), que são limitados culturalmente (aquelas birras, aquelas declarações...) mas, dentro do campo, temos ali verdadeiros intelectuais.
Ronaldo é um cientista, Moutinho um geómetra exemplar, Nani uma espécie de poeta incompreendido e Coentrão é uma pequena máquina de fazer mal ao adversário. O Nosso Mister, Paulo Bento, até mudou o penteado ridículo por uma coisa mais sóbria e tem demonstrado uma capacidade invejável na gestão da empresa que é a nossa equipa de futebol.
O nosso problema é meter a bola na baliza adversária. Ao longo de um jogo criamos inúmeras oportunidades de o fazer mas, na hora da verdade, fica a sensação de que temos pena dos adversários. Rematamos ao lado, rematamos ao poste, atiramos por cima ou contra o cú do defesa adversário. Há quem diga que se o futebol fosse um jogo sem balizas Portugal ganhava sempre. Mas não ganha sempre, é preciso marcar golos para ganhar.
Como de costume andamos meio esquizofrénicos. Se ganhamos podíamos ter ganho por mais. Se perdemos (como aconteceu no primeiro jogo contra os monstros alemães) foi porque tivemos azar (e tivemos mesmo).
Agora ficamos à espera de saber se jogamos contra a Espanha ou com a nossa "bête noire". a odiosa França do irritante Michel, o Platini.
A novidade é que, desta vez, venha quem vier é encarada com grande confiança. Podemos ganhar ou perder, mas, por uma vez, não estamos cagados de medo. O que se passa? Estará Portugal a mudar? Será que as novas sonoridades do Fado estão a surtir efeito no espírito lusitano?
Seja o que for, venha quem vier, Portugal está a viver com uma calma inesperada a campanha deste Europeu. Pessoalmente desejo que sejamos campeões. Espero por isso desde que me lembro de ser quem sou. Já lá vão quase 50 anos...
quarta-feira, junho 20, 2012
Verdura
Fica a impressão de que eventuais avanços na adopção de políticas energéticas "amigas do ambiente" estão dependentes da maior ou menor rapidez com que os vampiros do costume consigam adaptar os seus meios de recolha de capital às características específicas das tecnologias verdes.
A frase anterior pode soar um pouco confusa; resumindo: a questão do desenvolvimento de meios de produção de energia menos poluentes é económica. Apenas e mais nada. A amizade com o ambiente é conversa.
Enquanto os grandes capitalistas detiverem, maioritariamente, interesses em empresas petrolíferas e outras formas tradicionais de enriquecimento a qualquer custo, as energias verdes vão avançar muito devagar ou, então, apenas devagarinho, como tem vindo a acontecer nos últimos anos.
Quando esses tipos transferirem os seus métodos de enriquecimento para empresas relacionadas com o vento, o sol, as marés ou outras forças do género, então veremos os níveis de poluição a serem paulatinamente reduzidos e o paraíso a chegar aí à porta.
A questão é: porque é que só agora se investe cada vez mais na descoberta e desenvolvimento de meios de energia alternativos? Porque se perderam tantas décadas, com o petróleo a ser o motor do desenvolvimento económico mundial com os resultados assustadores que se conhecem?
Ainda a procissão vai no adro mas, leitor amigo, não tens a sensação de que poderíamos conduzir automóveis menos poluentes há muito tempo? Quando esse negócio for rentável e os lucros reverterem para os bolsos certos, podes ter a certeza de que os amigos do ambiente vão estar todos no poder.
A frase anterior pode soar um pouco confusa; resumindo: a questão do desenvolvimento de meios de produção de energia menos poluentes é económica. Apenas e mais nada. A amizade com o ambiente é conversa.
Enquanto os grandes capitalistas detiverem, maioritariamente, interesses em empresas petrolíferas e outras formas tradicionais de enriquecimento a qualquer custo, as energias verdes vão avançar muito devagar ou, então, apenas devagarinho, como tem vindo a acontecer nos últimos anos.
Quando esses tipos transferirem os seus métodos de enriquecimento para empresas relacionadas com o vento, o sol, as marés ou outras forças do género, então veremos os níveis de poluição a serem paulatinamente reduzidos e o paraíso a chegar aí à porta.
A questão é: porque é que só agora se investe cada vez mais na descoberta e desenvolvimento de meios de energia alternativos? Porque se perderam tantas décadas, com o petróleo a ser o motor do desenvolvimento económico mundial com os resultados assustadores que se conhecem?
Ainda a procissão vai no adro mas, leitor amigo, não tens a sensação de que poderíamos conduzir automóveis menos poluentes há muito tempo? Quando esse negócio for rentável e os lucros reverterem para os bolsos certos, podes ter a certeza de que os amigos do ambiente vão estar todos no poder.
quinta-feira, junho 14, 2012
Prometeu
Ridley Scott realizou muitos filmes mas guardo na memória dois mais um. Os restantes nem por isso. Os dois que guardo são, quanto a mim, os filmes que lançaram as bases mais sólidas do género "ficção científica": Alien e Blade Runner. Neles Scott criou, pela 1ª vez, ambientes cinematográficos convincentes, dando corpo e forma a mundos impossíveis e, até aí, nunca antes vistos. O outro (aquele "mais um") é "The Duellists", não recordo o título em português. Um épico pesadão que se desenrola na época das invasões napoleónicas com uma atmosfera e uma recriação histórica que me agradam. Nada que se chegue aos calcanhares de um Barry Lyndon, de Kubrick mas, ainda assim, um filme que se vê com uma dose de fascínio q.b..
Vem este pequeno exercício de memória a propósito do recentemente estreado Prometeu ou Prometheus, já que o título deste filme não é adaptado à língua de Camões. Se em Alien ou em Blade Runner, Scott e as suas equipas conseguiam criar ambientes de ficção recorrendo a truques, muitas vezes, quase pueris, em Prometeu a coisa sobe uma escadaria de 500 degraus em direcção à espectacularidade.
Além dos efeitos especiais, de uma eficácia cristalina, o filme conta com um elenco de luxo onde se destaca Michael Fassbender no papel de David, o andróide.
Naoomi Rapace constrói também uma personagem bastante credível que, na cena final, deixa tudo em aberto para uma nova investida do realizador nesta trama de argumento. Não vou estar para aqui a contar a história deste filme que, mais uma vez, se situa sobre aquela ambígua linha que une mais do que separa o filme de terror do filme de ficção científica. A não perder para quem gosta do género. A evitar por quem não está disponível a deixar-se levar até planetas distantes habitados por seres capazes de fazer chorar de pavor o mais empedernido dos deuses do Olimpo.
Vem este pequeno exercício de memória a propósito do recentemente estreado Prometeu ou Prometheus, já que o título deste filme não é adaptado à língua de Camões. Se em Alien ou em Blade Runner, Scott e as suas equipas conseguiam criar ambientes de ficção recorrendo a truques, muitas vezes, quase pueris, em Prometeu a coisa sobe uma escadaria de 500 degraus em direcção à espectacularidade.
Além dos efeitos especiais, de uma eficácia cristalina, o filme conta com um elenco de luxo onde se destaca Michael Fassbender no papel de David, o andróide.
Naoomi Rapace constrói também uma personagem bastante credível que, na cena final, deixa tudo em aberto para uma nova investida do realizador nesta trama de argumento. Não vou estar para aqui a contar a história deste filme que, mais uma vez, se situa sobre aquela ambígua linha que une mais do que separa o filme de terror do filme de ficção científica. A não perder para quem gosta do género. A evitar por quem não está disponível a deixar-se levar até planetas distantes habitados por seres capazes de fazer chorar de pavor o mais empedernido dos deuses do Olimpo.
domingo, junho 10, 2012
Depravação animal
É certo e sabido que medir os outros utilizando-nos a nós próprios como exemplo-padrão nem sempre é uma grande ideia.
Chamar selvagem a alguém que anda descalço e come a carne de animais que mata à paulada em vez de usar ténis Adidas e comprar carne de perú embalada numa grande superfície comercial, não só é injusto mas também revela uma insuportável soberba civilizacional.
Se esta atitude já é discutível quando aplicada a outros seres humanos, ela passa a raiar o ridículo quando a avaliação é a de outras espécies animais.
Vem isto a propósito da notícia que revela que "A “depravação sexual” dos pinguins ficou um século no armário" só porque os hábitos de truca-truca destes bichos pareceram aberrantes a um cientista inglês que os observou no início do século XX.
Primeiro que tudo o senhor George Murray Levick andou para ali a meter o nariz onde não era chamado, um autêntico voyuer de pinguins o que, lá estou eu a medir outra pessoa pelos meus padrões comportamentais, revela desde logo uma mente pouco saudável.
Segundo, toda a gente pode imaginar que se pudéssemos entrar na mente de um pinguim ia ser uma confusão do caraças para compreender o que raio está um bicho daqueles a pensar das coisas que o rodeiam!
Enfim, a depravação sexual dos pinguins é um escândalo de trazer por casa, uma coisinha menor (como se pode constatar pela leitura da notícia) e até pouco interessante quando comparada com os hábitos sexuais de certos seres humanos neste início do século XXI (não consigo deixar de moralizar...).
Já dizia Freud "se Paulo me fala de Pedro, fico a saber mais de Paulo que de Pedro" (não sei se eram estes os nomes mas a ideia era esta, disso tenho a certeza).
Chamar selvagem a alguém que anda descalço e come a carne de animais que mata à paulada em vez de usar ténis Adidas e comprar carne de perú embalada numa grande superfície comercial, não só é injusto mas também revela uma insuportável soberba civilizacional.
Se esta atitude já é discutível quando aplicada a outros seres humanos, ela passa a raiar o ridículo quando a avaliação é a de outras espécies animais.
Vem isto a propósito da notícia que revela que "A “depravação sexual” dos pinguins ficou um século no armário" só porque os hábitos de truca-truca destes bichos pareceram aberrantes a um cientista inglês que os observou no início do século XX.
Primeiro que tudo o senhor George Murray Levick andou para ali a meter o nariz onde não era chamado, um autêntico voyuer de pinguins o que, lá estou eu a medir outra pessoa pelos meus padrões comportamentais, revela desde logo uma mente pouco saudável.
Segundo, toda a gente pode imaginar que se pudéssemos entrar na mente de um pinguim ia ser uma confusão do caraças para compreender o que raio está um bicho daqueles a pensar das coisas que o rodeiam!
Enfim, a depravação sexual dos pinguins é um escândalo de trazer por casa, uma coisinha menor (como se pode constatar pela leitura da notícia) e até pouco interessante quando comparada com os hábitos sexuais de certos seres humanos neste início do século XXI (não consigo deixar de moralizar...).
Já dizia Freud "se Paulo me fala de Pedro, fico a saber mais de Paulo que de Pedro" (não sei se eram estes os nomes mas a ideia era esta, disso tenho a certeza).
sexta-feira, junho 08, 2012
Falar por falar
Uma frase daquelas: "A paciência é a riqueza dos infelizes." Ui! Escreveu-a Camilo Castelo Branco que se passou para o outro lado nos idos de 1890.
Vem isto a propósito das palavras do 1º ministro português que elogia a "extrema paciência dos portugueses" perante o apagamento inexorável do sonho de virmos a ser um país com um nível de vida razoável. Méééé, eu também faço parte deste imenso rebanho que nós somos.
Na verdade sempre me imaginei um gajo paciente. Não digo paciente ao estilo de um Job, porra, também não vale a pena exagerar, mas paciente, sim. Pelo menos um bocadinho paciente, mesmo apesar de ser capaz de perder as estribeiras com alguma ligeireza.
Pronto, está bem, se calhar não sou assim tão paciente como me imagino. Isto de estar dentro de mim próprio retira-me algum distanciamento e tolhe-me o espírito crítico. Mas numa coisa o nosso 1º tem razão: ser português requer muita paciência.
Paciência, principalmente, para aturar os restantes 10 milhões de portugueses sem acabar a trilhar uma carreira de assassino em série.
Estou em crer que a dita paciênciazinha tenha a ver com a educação católica. Um gajo é levado a encarar o Purgatório como um lugar aceitável; sempre é melhor que o Inferno e sabemos bem que o Paraíso não está ao nosso alcance.
Ok, segundo o nosso imortal Camilo somos, então, riquíssimos, precisamente por sermos tão infelizes.
Alguém disse, uma turista intelectual (não sei quem, lembro-me que era uma mulher), disse a turista que "os portugueses são os latinos tristes". É bonito, tem aquele toque de agradável melancolia. Ficamos logo com carinha de cãozinho abandonado.
Imagino que a senhora tenha entrado no nosso jardinzinho vinda de Espanha onde nuestros hermanos levam o mundo todo à frente à força de olés e muito salero. São os maiores e fazem muito mais barulho do que nós o que é um feito, sem dúvida, extraordinário!
Agora que a crise que tudo enche de merda, está a bater também à porta dos nossos vizinhos, a coisa começa a aquecer. É que eles, em termos de paciência, são uns pobretanas, quase miseráveis! Têm a mania de sair para a rua a gritar como bezerros desmamados, reclamando por tudo e por nada.
Os espanhóis têm o rei, não na barriga, têm o rei nos tomates ou lá o que é! São uns convencidos do caraças mas até gosto deles. São engraçados, mexem-se muito e falam pelos cotovelos. E as espanholas são umas mulheres do caraças. Pelo menos as poucas que conheci eram umas mulheres do caraças. Acho eu.
Se lhes aplicarem a mesma receita que nos estão a enfiar pela goela abaixo, diminuição de salários, aumento supersónico do desemprego, desinvestimento no estado social, e etc. e tal, como irão eles reagir? É que, se nós somos cordeiros, eles são lobos. Dos maus.
Fico curioso e aguardo. Visto daqui, o desabamento da Europa enquanto utopia e farol da humanidade, é uma coisa assim a dar para o mole. E visto dali, como será?
Vou encher o copo outra vez. Hoje é sexta-feira e amanhã não trabalho. Por enquanto ainda guardamos os sábados e os domingos. É aproveitar enquanto é tempo.
A Península Ibérica ainda está agarrada ao resto do continente mas o que me custa, mesmo, é ser governado por esta gentalha que diz que me governa.
E se a gente, o povinho, descolasse desta merda e fossemos mas é para África que é o que nós somos de verdade; africanos!?
Vem isto a propósito das palavras do 1º ministro português que elogia a "extrema paciência dos portugueses" perante o apagamento inexorável do sonho de virmos a ser um país com um nível de vida razoável. Méééé, eu também faço parte deste imenso rebanho que nós somos.
Na verdade sempre me imaginei um gajo paciente. Não digo paciente ao estilo de um Job, porra, também não vale a pena exagerar, mas paciente, sim. Pelo menos um bocadinho paciente, mesmo apesar de ser capaz de perder as estribeiras com alguma ligeireza.
Pronto, está bem, se calhar não sou assim tão paciente como me imagino. Isto de estar dentro de mim próprio retira-me algum distanciamento e tolhe-me o espírito crítico. Mas numa coisa o nosso 1º tem razão: ser português requer muita paciência.
Paciência, principalmente, para aturar os restantes 10 milhões de portugueses sem acabar a trilhar uma carreira de assassino em série.
Estou em crer que a dita paciênciazinha tenha a ver com a educação católica. Um gajo é levado a encarar o Purgatório como um lugar aceitável; sempre é melhor que o Inferno e sabemos bem que o Paraíso não está ao nosso alcance.
Ok, segundo o nosso imortal Camilo somos, então, riquíssimos, precisamente por sermos tão infelizes.
Alguém disse, uma turista intelectual (não sei quem, lembro-me que era uma mulher), disse a turista que "os portugueses são os latinos tristes". É bonito, tem aquele toque de agradável melancolia. Ficamos logo com carinha de cãozinho abandonado.
Imagino que a senhora tenha entrado no nosso jardinzinho vinda de Espanha onde nuestros hermanos levam o mundo todo à frente à força de olés e muito salero. São os maiores e fazem muito mais barulho do que nós o que é um feito, sem dúvida, extraordinário!
Agora que a crise que tudo enche de merda, está a bater também à porta dos nossos vizinhos, a coisa começa a aquecer. É que eles, em termos de paciência, são uns pobretanas, quase miseráveis! Têm a mania de sair para a rua a gritar como bezerros desmamados, reclamando por tudo e por nada.
Os espanhóis têm o rei, não na barriga, têm o rei nos tomates ou lá o que é! São uns convencidos do caraças mas até gosto deles. São engraçados, mexem-se muito e falam pelos cotovelos. E as espanholas são umas mulheres do caraças. Pelo menos as poucas que conheci eram umas mulheres do caraças. Acho eu.
Se lhes aplicarem a mesma receita que nos estão a enfiar pela goela abaixo, diminuição de salários, aumento supersónico do desemprego, desinvestimento no estado social, e etc. e tal, como irão eles reagir? É que, se nós somos cordeiros, eles são lobos. Dos maus.
Fico curioso e aguardo. Visto daqui, o desabamento da Europa enquanto utopia e farol da humanidade, é uma coisa assim a dar para o mole. E visto dali, como será?
Vou encher o copo outra vez. Hoje é sexta-feira e amanhã não trabalho. Por enquanto ainda guardamos os sábados e os domingos. É aproveitar enquanto é tempo.
A Península Ibérica ainda está agarrada ao resto do continente mas o que me custa, mesmo, é ser governado por esta gentalha que diz que me governa.
E se a gente, o povinho, descolasse desta merda e fossemos mas é para África que é o que nós somos de verdade; africanos!?
Post scriptum: enquanto andava por aqui a passear a propósito deste escrito deparei com a frase que se segue: "Talvez haja apenas um pecado capital: a impaciência.
Devido à impaciência, fomos expulsos do Paraíso; devido à impaciência,
não podemos voltar." Vê-se logo que isto não foi escrito por um português. É uma frase atribuída a Kafka que, como toda a gente sabe, era um tipo que não interessava, nem ao Menino Jesus!!
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quinta-feira, junho 07, 2012
O barco atraca
Um olhar de soslaio e uma sobrancelha franzida; o livro aguarda paciente (como só os livros sabem ser) o regresso dos teus olhos. Agora sim, os teus olhos focam-se de novo nas letrinhas organizadas em elegantes conjuntos de palavras que sugerem surpreendentes universos de significados.
A tua sobrancelha continua franzida, a leitura não satisfaz a curiosidade que te rói a humidade do cérebro. A intensidade luminosa que o sol atira à janela suja e essa timidez disfarçada de indiferença, impedem que voltes a olhar a mulher sentada a teu lado.
Pensaste que era bela, mas, na contra-luz do astro-rei, a mulher é pouco mais do que uma silhueta enfeitada por tonalidades que viajam entre o amarelo e o cor-de-laranja mais quente que pudeste observar nos últimos tempos.
A curiosidade, o sol, o livro, essa tua sobrancelha, tudo se enrola e te incomoda o desejo de perceber que raio de coisa está para aí a acontecer. Talvez não aconteça nada. Isso é, ainda mais, irritante.
Talvez a mulher não mereça esse levantar de sobrancelha que te vai descobrindo o canto do olho, talvez esse olhar que tentas atirar-lhe não mereça o esforço.
Talvez o livro não seja tão interessante como pensaste quando pagaste a conta na caixa da livraria. A mulher pode não ser tão bela quanto imaginas. O sol não te permite chegar a nenhuma conclusão satisfatória.
O barco está a atracar. A mulher levanta-se e passa por ti. Tens de encolher os joelhos para não lhe tocar. E não lhe tocas nem a olhas nem nada. Enfias os olhos até ao pescoço numa frase qualquer.
Não estás a ler, estás apenas a pensar como podes ser tão mansamente selvagem que devoras o teu próprio desejo como uma fera inventada devora as suas crias recém-nascidas só por serem fofinhas.
Dás por ti a pensar que a banalidade pode ser a mais incomodativa das aventuras, uma dessas aventuras em que não acontece nada. O barco atraca. Chegaste ao teu destino e ficaste só.
A tua sobrancelha continua franzida, a leitura não satisfaz a curiosidade que te rói a humidade do cérebro. A intensidade luminosa que o sol atira à janela suja e essa timidez disfarçada de indiferença, impedem que voltes a olhar a mulher sentada a teu lado.
Pensaste que era bela, mas, na contra-luz do astro-rei, a mulher é pouco mais do que uma silhueta enfeitada por tonalidades que viajam entre o amarelo e o cor-de-laranja mais quente que pudeste observar nos últimos tempos.
A curiosidade, o sol, o livro, essa tua sobrancelha, tudo se enrola e te incomoda o desejo de perceber que raio de coisa está para aí a acontecer. Talvez não aconteça nada. Isso é, ainda mais, irritante.
Talvez a mulher não mereça esse levantar de sobrancelha que te vai descobrindo o canto do olho, talvez esse olhar que tentas atirar-lhe não mereça o esforço.
Talvez o livro não seja tão interessante como pensaste quando pagaste a conta na caixa da livraria. A mulher pode não ser tão bela quanto imaginas. O sol não te permite chegar a nenhuma conclusão satisfatória.
O barco está a atracar. A mulher levanta-se e passa por ti. Tens de encolher os joelhos para não lhe tocar. E não lhe tocas nem a olhas nem nada. Enfias os olhos até ao pescoço numa frase qualquer.
Não estás a ler, estás apenas a pensar como podes ser tão mansamente selvagem que devoras o teu próprio desejo como uma fera inventada devora as suas crias recém-nascidas só por serem fofinhas.
Dás por ti a pensar que a banalidade pode ser a mais incomodativa das aventuras, uma dessas aventuras em que não acontece nada. O barco atraca. Chegaste ao teu destino e ficaste só.
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sábado, junho 02, 2012
Bizarra nostalgia
Ontem sofri o "ataque" de uma memória mais enterrada no passado que um tesouro de duendes.
Trata-se de uma memória tão difusa que, hoje, ao recordar aquela recordação, fiquei a hesitar sobre se ela me pertence ou a terei pedido emprestada à fértil imaginação com que Deus Nosso Senhor presenteou a minha meninice.
Lembrei-me de um dia ter visto (na Feira de São Mateus, em Viseu?) o Homem Mais Alto do Mundo, o Gigante de Moçambique.
Dei por mim, pequenito, de mão dada a alguém (o meu pai?) dentro de uma tenda de lona mal iluminada com chão de terra batida.
Num pequeno palco de madeira por pintar estava sentado um homem enorme, com uns pés que não pareciam poder ser verdadeiros de tão descomunais. Ao seu lado outro homem, este tão pequenino que, tal como os pés do gigante, também parecia mentira.
O homem pequeno movia-se e sorria com um frenesim próprio da curta distância que separava as diferentes partes do seu corpo.
Alguém falava mas o som das suas palavras não era mais que um ruído de fundo. A imagem do Gigante absorvia tudo o que o rodeava, as coisas à sua volta faziam pouco sentido.
O Gigante levantou-se, muito devagar, em terrível esforço, levantou-se até ficar ali, de pé, meio torto, descaído para o seu lado direito. Tinha um olhar triste e ausente, como se não estivesse ali, o que conferia uma aura ainda mais irreal a toda a cena.
Não tenho a certeza se eu estava mais espantado do que triste, talvez ambas as coisas, em doses equilibradas. Era o primeiro homem negro que via em toda a minha vida e logo havia de ser aquele incrível Gigante.
A minha recordação não é mais do que isto. O resto posso apenas imaginar.
Esta vaga recordação fez-me pensar sobre a natureza estrambólica das imagens que produzo. Que influência poderá ter este episódio na construção do meu imaginário? Se conseguisse recuar no tempo, mergulhando no lodo espesso das memórias, o que iria eu encontrar que pudesse explicar a atracção que tenho pela disformidade, o carinho que sinto pelas coisas feias, o quase amor que destilo pelas coisas horríveis?
Talvez seja melhor continuar esquecido. Talvez esta memória não me pertença. Talvez o meu imaginário seja feito de recordações roubadas. Talvez toda a bizarria que sempre encontro de cada vez que pinto ou desenho seja fruto do momento actual. Talvez seja melhor deixar o passado dormindo a sua morte.
Trata-se de uma memória tão difusa que, hoje, ao recordar aquela recordação, fiquei a hesitar sobre se ela me pertence ou a terei pedido emprestada à fértil imaginação com que Deus Nosso Senhor presenteou a minha meninice.
Lembrei-me de um dia ter visto (na Feira de São Mateus, em Viseu?) o Homem Mais Alto do Mundo, o Gigante de Moçambique.
Dei por mim, pequenito, de mão dada a alguém (o meu pai?) dentro de uma tenda de lona mal iluminada com chão de terra batida.
Num pequeno palco de madeira por pintar estava sentado um homem enorme, com uns pés que não pareciam poder ser verdadeiros de tão descomunais. Ao seu lado outro homem, este tão pequenino que, tal como os pés do gigante, também parecia mentira.
O homem pequeno movia-se e sorria com um frenesim próprio da curta distância que separava as diferentes partes do seu corpo.
Alguém falava mas o som das suas palavras não era mais que um ruído de fundo. A imagem do Gigante absorvia tudo o que o rodeava, as coisas à sua volta faziam pouco sentido.
O Gigante levantou-se, muito devagar, em terrível esforço, levantou-se até ficar ali, de pé, meio torto, descaído para o seu lado direito. Tinha um olhar triste e ausente, como se não estivesse ali, o que conferia uma aura ainda mais irreal a toda a cena.
Não tenho a certeza se eu estava mais espantado do que triste, talvez ambas as coisas, em doses equilibradas. Era o primeiro homem negro que via em toda a minha vida e logo havia de ser aquele incrível Gigante.
A minha recordação não é mais do que isto. O resto posso apenas imaginar.
Esta vaga recordação fez-me pensar sobre a natureza estrambólica das imagens que produzo. Que influência poderá ter este episódio na construção do meu imaginário? Se conseguisse recuar no tempo, mergulhando no lodo espesso das memórias, o que iria eu encontrar que pudesse explicar a atracção que tenho pela disformidade, o carinho que sinto pelas coisas feias, o quase amor que destilo pelas coisas horríveis?
Talvez seja melhor continuar esquecido. Talvez esta memória não me pertença. Talvez o meu imaginário seja feito de recordações roubadas. Talvez toda a bizarria que sempre encontro de cada vez que pinto ou desenho seja fruto do momento actual. Talvez seja melhor deixar o passado dormindo a sua morte.
sexta-feira, junho 01, 2012
Introdução
Daqui a pouco mais de uma hora terei o prazer de introduzir uma conversa com a Paula Rosa a propósito do seu trabalho.
A coisa (ver aqui) dar-se-à no Museu da Cidade de Almada. O pretexto é a recente exposição que a Paula teve na Parede (ver aqui).
Escrevi o texto que a seguir apresento mas nada garante que não diga algo completamente diferente.
Seja como for parece-me um post interessante para deixar aqui, no 100 Cabeças.
Aqui
há uma semanas atrás li um artigo no jornal Público sobre umas pinturas
pré-históricas algures num buraco qualquer em terras de França em que se dava
notícia de que os arqueólogos tinham percebido que, afinal, a coisa é feita há
muito mais tempo do que se pensava (ou imaginava).
Pelos
vistos, os nossos antepassados já pintavam imagens magníficas e estonteantes vai
para uns 30 ou 40 mil anos atrás.
Não
sabemos porque o fizeram. Apenas podemos especular sobre as suas motivações.
Algo
nos diz que a criação de imagens tivesse a ver com magia, ou coisa que o valha.
Acredito.
Porque
criar imagens, seja qual for a técnica que nos assiste, é sempre um processo de
excitação e subversão dos sentidos. Uma magia absoluta !
A
arte, disse Picasso, é uma grande mentira… que nos ajuda a compreender melhor a
verdade. Na medida em que formos capazes de a compreender. (não sei se é bem
assim, mas não andará muito longe disto).
Os
trabalhos da Paula Rosa fazem-me reflectir sobre estas questões: porque criamos
imagens? Até que ponto a arte nos pode levar em viagem até aos limites (da
nossa capacidade de perceber o mundo que nos rodeia?)
As
respostas, sinceramente, não as encontro. Mas isso não me preocupa.
O
que me interessa, de facto, são as perguntas.
É
por isso que a observação destas criações visuais é tão fascinante.
Perante
as imagens criadas pela Paula, estas questões crescem, transformam-se, refazem-se
a cada olhar.
As
respostas que encontramos vêm infectadas de silêncio e poesia… quero dizer, as
respostas que eu encontro são como poesia infecciosa, quanto a vocês… não posso
responder por vocês!
Ouçamos
o que a Paula tem para nos dizer…
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