sábado, agosto 30, 2008

Bizarria


Hoje é Dia Europeu dos Morcegos. Dia Europeu dos Morcegos!?

Para assinalar com a pompa devida tão extraordinária efeméride, o Público associou-se a um projecto intitulado Morcegos na Web (não é lá muito imaginativo...) que lança hoje um novo e estranho site que pode ser encontrado aqui.

A partir do dia de hoje estarão disponíveis online imagens de uma gruta habitada por diferentes espécies de morcegos 24 horas sobre 24. Para podermos ter uma noção do que isto significa note-se que, nessa gruta, cohabitam as seguintes espécies de morcegos: Morcego-de-peluche, Morcego-rato-grande, Morcego-lanudo, Morcego-de-ferradura-mediterrânico, Morcego-de-ferradura-grande, Morcego-de-ferradura-pequeno, Morcego-rato-pequeno, Morcego-de-franja, Morcego de Bechstein, Morcego-de-ferradura-mourisco, Morcego-hortelão e, last but not the least, o patusco Morcego-de-água.

Tem todo o aspecto de ser uma chatice do caraças. Para já podemos admirar nos arquivos disponíveis momentos de grande espectáculo: um Morcego-de-ferradura-grande a fazer higiene corporal, naquilo que parece um gajo com espasmos a morder-se todo ou ainda um Morcego-de-peluche a beber água de uma estalactite, esta uma estranha cena em que podemos observar o vulto de um morcego que parece mamar directamente de uma teta gigante que descai do tecto da gruta.

Um lugar bizarro que comemora uma bizarra efeméride mas que, estou certo, representa um triunfo e uma alegria imensa para aqueles que se empenharam no projecto e nutrem uma admiração sem limites por estes horripilantes pequenos seres, os únicos mamíferos voadores de toda a Criação.
Há pessoas capazes de eleger as mais inesperadas causas e ainda lutarem por elas. São essas pessoas que mantêm acesa a chama da esperança numa loucura qualquer que possa transformar este mundo num outro.

Morcegos de todo o mundo, uni-vos! O 100 Cabeças saúda-vos.

sexta-feira, agosto 29, 2008

Arte (o que é isso?)


A Arte é uma daquelas coisas que todos sabemos o que é mas não conseguimos explicar.
Como tal, um post sobre este assunto terá de ser um pouco longo, como o que se segue.

Não deixa de ser curioso que sejamos capazes de afirmar com um certo grau de certeza "isto não é Arte" perante um objecto que nos repugna plasticamente, mas já nos seja um pouco (ou muito) mais difícil explicar porquê. O mesmo se passa com aquilo que consideramos como Arte.

Importa tentar perceber o que é Arte? Primeiro que tudo poderemos partir do princípio que um objecto artístico, sendo produto de uma actividade humana, está dependente de um tempo e de um espaço. Esse objecto é um reflexo de um momento determinado na História e as suas características, formais (os aspectos relacionados com a técnica) e iconológicas (o que normalmente designamos por mensagem ou conteúdo), são matéria e produto dessa conjuntura espácio-temporal.

A História da Arte mostra-nos bem a evolução das formas e dos discursos artísticos ao longo dos tempos e o modo como a Arte foi um poderoso meio de propaganda. Mas, tal como as sociedades evoluíram e transformaram os seus paradigmas sociais e políticos, também a Arte se transformou. É lógico.

Mas, para tentar perceber afinal o que é (ou não é) Arte, temos de confiar essa missão em alguém. Quer dizer, nós, simples mortais, não temos a capacidade de decidir sobre a natureza artística de um objecto embora possamos formar uma opinião que, tal como disse aí mais atrás, acaba por ser intuitiva e pouco fundamentada. É do género "gosto disto" ou "não gosto disto" como se nos estivessemos a referir a um prato de bacalhau cozido. E a Arte não parece ser bem a mesma coisa que bacalhau cozido, embora por vezes se possam confundir.

Chegamos então a uma questão fundamental: quem é que sabe o que é Arte? Ou, quem valida a natureza artística de um objecto? Pois é, aqui é que a porca torce o rabo e o pessoal costuma começar a sacudir a água do capote. "Para mim é Arte" arriscamos por vezes "ou não acho que seja Arte" podemos afirmar com um encolher de ombros. Assumimos uma postura que nos desresponsabiliza. Não sendo nós peritos, podemos apenas dar uma opinião... intuitiva.

A História da Arte mostra-nos como essa validação foi passando de mãos ao longo dos séculos. Entidades religiosas, burgueses ricos ou Academias Reais de Belas Artes foram decidindo sobre a natureza da Arte. Forças de sinais contrários ou com raízes sociais diversas, todas tiveram , no entanto, uma coisa em comum: riqueza ou capacidade económica para encomendar e pagar o trabalho daqueles que hoje designamos por artistas. Em última análise poderemos considerar que é o valor comercial, a capacidade de angariar divisas que valida o objecto artístico.

Esta visão é demasiado redutora, dirão alguns, mas uma análise superficial do fenómeno permite-nos mantê-la com argumentos bastante sólidos. Esta perspectiva economicista sofreu um primeiro abalo com o Romantismo do século XIX quando os artistas se assumiram como tal e reclamaram liberdade criativa fora das esferas de poder habituais. As revoluções liberais retiraram muita da capacidade económica e política às forças religiosas tradicionais. O crescimento do sentimento Democrático fez que, como seria de esperar, também se democratizasse a perspectiva que temos sobre a produção artística.

Quando Marcel Duchamp criou os seus ready-mades, provocou uma transformação radical nos mecanismos que validam a natureza artística dos objectos. É paradigmático que a sua "Fonte" (o célebre urinol) seja consensualmente considerada a mais importante obra de arte de século XX. Não porque seja uma exibição de cpacidades técnicas supreendentes ou mesmo um objecto que possamos considerar belo, mas porque transferiu a capacidade de validar a Arte para o comum dos mortais, para o observador ocasional, que, neste universo criativo, é chamado a tomar uma posição perante aquilo que observa.

A Arte Contemporânea responsabiliza o próprio observador na construção do objecto artístico que apenas se completa através da sua leitura pessoal e particular. Todos sabemos que, no mundo actual, a crítica de arte publicada nos jornais e nas revistas da especialidade carimba e certifica definitivamente a natureza de um objecto. Mas isso serve principalmente para atrair os tais gajos com poder e capacidade económica para investir na compra dos objectos. Daí que seja difícil compreender como pode um sapo verde pregado numa cruz valer mais do que uma tela da Ju, como foi notado num comentário ao post anterior.

Concluindo, numa sociedade democrática contemporânea, os indivíduos são considerados responsáveis pelos seus actos. A igreja já não tem o direito de nos condenar por blasfemarmos ou simplesmente porque lhe desagradamos, como aconteceu ao longo da Idade das Trevas. Isso é assim na esfera da nossa vida quotidiana e também no campo da Arte. Daí que o triste episódio do sapo verde seja apenas mais um tique intolerante de uma igreja que ainda não percebeu em definitivo qual é o seu verdadeiro lugar no mundo actual. A perspectiva que a Igreja tem da arte não é altruísta nem desinteressada, tradicionalmente vê-a como uma ferramenta de propaganda e divulgação.

Deixem o sapo em paz. Aquilo é Arte! Ou não?

quinta-feira, agosto 28, 2008

Por falar em blasfémias...



Fotografia: Cortesia Museion/Reuters

28-08-2008 13:03:00

Arte Contemporânea ou blasfémia?

Uma escultura de madeira com um sapo verde crucificado exposto no Museion, Museu de Arte Contemporânea em Bolzano, norte de Itália, provocou a ira do Papa Bento XVI. Em solidariedade com o presidente do Governo regional, Franz Pahl , que no início do Verão entrou em greve de fome para que removessem a peça de arte contemporânea da exposição, o Papa considerou, em carta enviada ao museu, que a obra era uma blasfémia: “É ofensiva para os cristãos que vêem na cruz o símbolo da salvação”. A direcção do museu reúne-se hoje para decidir se retira ou não o sapo da exposição.

Texto retirado do Público online

Segundo fonte do dito museu, a escultura é um auto-retrato do artista alemão Martin Kippenberg em estado de crise profunda. Crise existencial, poderemos nós depreender. É de salientar que Kippenberg faleceu em 1997, com 44 anos de idade e, portanto, já cá não está para apreciar a polémica causada pela sua obra.

Como é seu timbre, a Igreja Católica reagiu violentamente contra o objecto em causa, dando-lhe a habitual publicidade que, se estivesse menos actuante no campo da censura, nunca teria.

Pelas fotos trata-se de uma obra, no mínimo, grotesca. Um sapo de louça verde e vidrada, com uma caneca (de cerveja?) numa mão e um ovo cozido na outra, pregado numa cruz... que raio de ideia! Ainda por cima tratando-se de um auto-retrato. É caso para bradar: meu Deus!!! Mas pouco mais do que isso.

Ao pretenderem fazer justiça divina, castigando os mortos (o artista) e os vivos (os responsáveis do museu), o Papa, o bispo e até o presidente do governo regional, estão apenas a fazer figuras tristes, mostrando aos mais distraídos que não são capazes de conviver pacificamente com um mundo onde a igreja ocupa um lugar que já não lhe permite mandar ninguém para a fogueira nem estigmatizar obras no Index, de má memória.


Esquecemo-nos frequentemente que a Igreja Católica tem estes instintos e apetites. O facto de estar domada vai para quase um século, não lhe apagou totalmente os tiques absolutistas, herdados ao longo de séculos em que se manteve ao lado dos poderosos e fez a vida negra a todos quantos punham o pé na frágil e instável linha do que era e do que não era permitido pela lei divina. Lei essa bem terrena nos seus propósitos e características. Tal como agora, com esta história do sapo.

Deus, se existir, poderá sentir-Se insultado por tão pueril espantalho? Deus, se existir, será muito superior a qualquer tipo de insulto que um mero ser humano possa fazer-Lhe. O mesmo não se pode dizer dos homenzinhos que dizem (será que acreditam?) representá-Lo aqui na Terra.
A haver blasfémia, neste caso, será mais contra a Arte que contra Deus, mas isso já é outra conversa...

Arte & Alta Finança

ver aqui uma interessante sequência de fotos que mostra como Hirst produziu este "For The Love Of God"


No passado dia 3 de Agosto coloquei este post sobre o leilão de obras de Damien Hirst, a realizar na muito respeitável Sotheby's nos próximos dias 15 e 16 de Setembro.
Este acontecimento é aguardado com muita expectativa pela originalidade de um artista que "salta" sobre as galerias para colocar o seu trabalho no mercado.


Hoje li um artigo no Público que relata a (discutível?) descoberta de uma colaboradora do Art Newspaper, Cristina Ruiz. A jornalista chegou à conclusão que a inédita atitude de Hirst estará relacionada com o facto de ele ter, amontoadas, aproximadamente 200 obras que a sua galeria de Londres, a White Cube, não conseguiu vender ao longo dos últimos 6 anos.


Ainda segundo Cristina Ruiz, a verdadeira questão prende-se com a produção desenfreada de trabalhos assinados pelo artista que saem de uma espécie de fábrica que conta com 100 colaboradores, espalhados por vários ateliers. As séries de spin paintings e butterfly paintings, etc., parecem não ter fim à vista e o mercado estará saturado de tanta obra... sobrinha da obra prima.


O boss da White Cube já veio desmentir esta história (ler aqui) afirmando que o apetite do mercado pelas obras de Hirst é tanto que nunca tem obras suficientes para o satisfazer. Seja como for, a promoção do leilão está em andamento e abre já hoje no Hotel Oberoi, em Nova Deli, uma exposição de trabalhos do artista a que apenas terão acesso visitantes escolhidos a dedo entre os mais ricaços daquelas bandas.


Esta aventura mostra-nos como existe uma dimensão especial no mundo da arte onde apenas se movem seres extraordinários. Os que produzem objectos cotados a preços astronómicos e os que têm capacidade económica para os adquirir. Um outro universo, com o seu panteão de divindades próprio e exclusivo. De momento Hirst é um dos deuses mais brilhantes desta constelação de estrelas mais ou menos conhecidas do pessoalzinho que se move cá em baixo.


Isto já ultrapassa as vagas e complicadas noções de Arte que tentamos estabelecer nas nossas cabeças vagamente românticas no que diz respeito a este assunto. "Beautyful Inside My Head Forever", o leilão-acontecimento do ano, entra como um meteoro no mundo da alta finança.

terça-feira, agosto 26, 2008

Em defesa do Grande Blogger


Já começa a chatear esta conversa sobre a questão do problema que afectou o 100 Cabeças aqui há uns dias atrás.

No entanto queria deixar uma forte palavra de agradecimento a esse Grande Blogger, o génio no écrã, que tão prontamente respondeu às minhas preces.

Temos de reconhecer a dificuldade em manter aberto e a funcionar em condições aceitáveis um universo tão vasto e complexo como é este, do Blogger, em que nos movemos e quase existimos.

Deus (que é Deus) não está tão atento ao resultado da sua criação quanto está o Grande Blogger. A rapidez com que foi reposto o livre acesso a este Blogue permite-nos acreditar que há uma possibilidade de justiça no mundo virtual. Uma justiça mais rápida e eficaz do que aquela que temos à nossa disposição no mundo real, onde um vigarista engravatado passa com muito maior facilidade pelo buraco de uma agulha que qualquer outro camelo, ao contrário do que nos foi prometido no texto bíblico.

É evidente que as coisas são imperfeitas, que nos confrontamos com problemas que nem sequer havíamos imaginado, mas, uma vez dado o alerta, constatamos que fazemos parte de uma vastíssima comunidade com uma capacidade solidária absolutamente extraordinária! Quando um de nós está "ferido" logo surgem dezenas de amigos e conhecidos que trazem consigo centenas de desconhecidos, prontos a fazer o que for necessário para que os nossos ferimentos sarem com a maior rapidez possível. Isto, no mundo virtual, significa pouco esforço, eu sei, precisamente porque se trata de um esforço virtual. Mas sabe bem!

Neste universo a nossa existência não é garantida através da respiração. Aqui o que importa não é a quantidade de oxigénio mas sim a quantidade de liberdade de expressão. É isso que nos traz aqui e por aqui nos mantém. A ilusão de um espaço onde as nossas palvras ecoem livremente e sem constrangimentos.

É por isso que devemos bater-nos, pela manutenção de uma liberdade absoluta neste espaço que (virtualmente) ocupamos. Devemos bater-nos pela liberdade que não conseguimos fazer valer no mundo real. Devemos bater-nos pela solidariedade que não alcançamos nas ruas da cidade, pelo respeito mútuo que nos é recusado por todos os sacanas mentirosos que nos sorriem e logo nos passam a perna na primeira oportunidade.

Não podemos desistir deste universo.

Se as coisas nos correm mal podemos pensar em mudar de poiso, procurar outro lugar. Mas os problemas irão surgir de novo, outro demónio, até aí desconhecido, irá surgir para nos infernizar a renovada existência.

Daí que seja importante mantermos o passo no caminho que trilhamos. Se aparecer algum demónio cá estaremos para lhe fazer frente e demonstrarmos que é a liberdade de expressão o que prezamos acima de tudo neste universo.

Por mim estou com o Grande Blogger. Penso que ele fará justiça sempre que formos capazes de lhe mostrar que ela é necessária.

Posso estar enganado. No dia em que chegar a essa conclusão (que fui enganado) então poderei ponderar a possibilidade de me mudar para outro universo. Nos tempos que correm acredito no Grande Blogger. Por razões óbvias.

Foi assim...

Seguindo o conselho do Eduardo contactei a Luma que já tinha sofrido o mesmo tipo de "ataque" no seu Blogue Luz de Luma, yes party! . Trocámos algumas mensagens e a Luma explicou-me exactamente o que fazer na que se segue:

Silvares com certeza, há males que vem para o bem! (rs*)
Vamos lá!

Em primeiro lugar acesse a página do Google Grupos e entre com a sua senha do googlehttp://groups.google.com/?hl=pt-BR

Se inscreva no "Grupo de Ajuda do Google" se acaso não estiver inscritohttp://groups.google.com.br/group/google-pt?hl=pt-BR

Entrará em uma página com os dizeres "Bem-vindo ao grupo de ajuda do Google!"Procure abaixo: "2 fórums individuais" e acesse "blogger"

Na coluna lateral direita onde está escrito "Ajuda do Blogger"

Clique em "+post your question"Coloque o título do tópico, algo como "conteúdo impróprio" e relate o que aconteceu.

Deixe o nome do blogue, mostre a sua indignação, peça vistoria do blogger team e relaxe! Está em casa, são patrícios que irão respondê-lo.

Aguarde a resposta, se não optou por receber mensagens por e-mail acesse a página outras vezes para saber da resposta. Talvez somente após 24 hs. Se dar sorte seu problema poderá ser resolvido antes desta hora.

Espero ajudar! Qualquer coisa estou aqui!

Beijus,

Luma

Segui estes passos um por um e enviei a seguinte mensagem:

Estou a contactar-te, ó Grande Blogger, pois alguém resolveu classificar o meu Blogue (http://www100cabecas.blogspot.com/) como impróprio ou indecente ou imoral, nem percebi bem e agora para lá entrar é necessário ultrapassar um aviso inicial o que faz com que aqueles que não o conhecem hesitem e não entrem, com medo do que poderão encontrar.

Esta situação é absolutamente incompreensível para mim e para todos os que normalmente acessam ao meu Blogue. Não há nada que justifique tal classificação a não ser uma grande falta de inteligência ou uma hipocrisia sem limites.

Se fores lá (http://www100cabecas.blogspot.com/) e verificares os comentários e manifestações de solidariedade que tenho recebido decerto compreenderás que não há qualquer razão objectiva para considerar o 100 Cabeças como impróprio.

Esta situação é bastante desagradável e vem abalar a noção instalada entre o utilizadores do Blogger de que existe liberdade e possibilidade de democracia no espaço virtual. O que leva o Blogger a colocar aquele aviso, como um cão de guarda? Basta uma denúncia? Quem me denunciou? Nem sequer imagino quem o fez ou sequer porque o fez.Não tenho hipótese de me defender e de rebater aquela infâmia?

Não querendo abusar, Grande Blogger, peço que dês atenção a esta situação injusta e vergonhosa e reponhas o livre acesso aohttp://www100cabecas.blogspot.com/ para que a confiança na liberdadede expressão possa renascer entre muitos navegantes que por ali costumam passear.

Fico a aguardar ansiosamente a tua acção que, estou convicto, irá repor o livre acesso ao 100 Cabeças.

Sem mais.

Rui Silvares

Hoje de manhã, ao abrir o meu blogue já o encontrei limpo e regenerado aos olhos do mundo. Agradeço a todos os que manifestaram a sua solidariedade com o 100 Cabeças, muito particularmente ao Eduardo por me ter encaminhado em direcção à luz da Luma :-) e à Luma por me ter ensinado o caminho que me levou até ao Grande Blogger.

Afinal a justiça sobrepõe-se à baixeza de espírito e, desta vez, tudo acaba como num filme de cowboys em que os bons triunfam partindo em direcção ao pôr-do-sol e os maus acabam encostados a um canto a contar as balas que lhes restam no cinturão.

Portanto, caro navegante, se por acaso te colarem uma porcaria daquelas à porta do teu Blogue aqui ficam os sábios conselhos da Luma que te poderão levar à fala com o Grande Blogger que tem o poder de repor as coisas no seu devido lugar.

Obrigado também a ti, ó Grande Blogger!

segunda-feira, agosto 25, 2008

Venus de Anoraque

Eu vi a luz! Compreendo agora como andava desviado e a minha Venus Renascida foi uma mancha na decência e no bom gosto. Hoje percebo que a História da Arte é um mundo de depravação visual e muitas das obras que consideramos primas são, afinal, tias desavergonhadas a merecerem as chamas do inferno! Percebo agora que o corpo humano é um ninho de víboras prontas a injectar-nos o seu veneno mortal, que o mais pequeno vislumbre de um sexo feminino pode deitar a minha alma no caixote do lixo da moralidade e da rectidão. Compreendo com repulsa como tenho pecado dia após dia ao permitir-me olhar imagens que reproduzem o tecto da capela Sistina ou os nus abjectos de Egon Schiele, esse verdadeiro demónio! Como pude gastar tanto do meu tempo procurando respostas a perguntas que não devia sequer atrever-me a pensar? Pornografia e arte? Meu deus, que atrevimento insensato!
Agradeço-te, ó anónimo iluminado, ó arauto da salvação da alma, o facto de teres rotulado o meu Blogue como indecente e reprovável. Como tens razão. Obrigado pelo castigo que tão piedosamente me infligiste pois que me entregaste de novo ao bom caminho de que andava há tanto tempo transviado. Ganhaste em mim um adepto fervoroso da moral e dos bons costumes. Para to provar aqui apresento uma estátua indecente retocada de maneira a poder ser colocada perante os olhos da humanidade sem temer ofender a deus ou lá quem é que eu ofendi com os meus posts indecentes.
Já agora, será que podes desfazer o que fizeste?

Uma pequena dor

Content Warning. Some readers of this blog have contacted Google because they believe this blog's content is objectionable. In general, Google does not ...
Gostava de perceber como aparece aquela coisa ali atrás que tiveste de "saltar" para chegares à vista destas palavras. O aviso diz que vários leitores do 100 Cabeças consideraram que o seu conteúdo merecia reprovação daí a necessidade de alertar os incautos cibernautas da existência de atrozes monstruosidades aqui por estas bandas.

Quantas queixas serão necessárias para que nos enfeitem o Blogue com um aviso daqueles? Uma, duas, cem, mil? Quantas queixinhas levarão as divindades que orientam o universo dos blogues a porem um cão a guardar a nossa porta? Há por aí blogues bem mais chocantes que não provocam tal aversão. Já visitei blogues com imagens e textos absolutamente desabridos que estão ali, de porta escancarada para quem os queira visitar.

Esse facto leva-me a imaginar que o 100 Cabeças poderá ter sido alvo de alguma acção concertada levada a cabo por um grupo de terroristas da moral que andam por aí a pôr ordem na blogosfera. Qualquer coisa do género.

Ao fim de um dia a conviver com esta espécie de censura encapotada ainda não consegui descobrir como me poderei livrar daquilo (aquela coisa infame que me incomoda), nem sequer como raio foi ali aparecer! O mais frustrante é não fazer ideia se haverá alguma divindade à qual possa endereçar as minhas preces, algum webmaster glorioso e brilhante com o poder de pulverizar aquele estigma que me revolve as entranhas num simples gesto, um mágico premir da tecla certa no momento exacto.

Tão frustante como a frustração anteriormente descrita é não imaginar sequer quem poderá ter feito semelhante canalhice.

Enfim, alguma coisa se há-de passar que transforme o actual estado do 100 Cabeças. Pode ser hoje, amanhã, daqui por 29 anos. Seja quando for eu estarei cá para ver.

Até amanhã.

domingo, agosto 24, 2008

Blogue imoral!?


Hoje, ao abrir o meu Blogue, deparei com um aviso que (me) alertava para o facto de o 100 Cabeças ter sido marcado como imoral. Achei estranho, porque o mundo virtual não é muito dado a erros deste género, e o comentário do Eduardo ao meu post anterior confirmou o que eu tinha visto. Afinal sempre era (é) verdade: alguém me considera um perigoso pornógrafo ou um depravado capaz de cometer crimes condenáveis em algum tribunal dos bons costumes.


Imagino que tal acto de terrorismo moral esteja relacionado com os posts "Leda e o Cisne" e a "Venus renascida". Talvez tenha passado por aqui algum bispo ou, mais simplesmente, alguma ratazana de sacristia com a braguilha aberta, e se tenha sentido indignado com a crueza das imagens. Decerto não leu os textos nem os comentários, de tal modo ficou em estado de choque perante as curvas do pescoço do cisne de Boucher que imediatamente premiu o acusador botão que faz do 100 Cabeças um blogue pária da decência. Que imbecilidade!


Sinceramente gostava de saber quem fez semelhante coisa. Gostava de poder explicar à pessoa que fez isso que, caso o tenha feito conscientemente, não deveria tê-lo feito sem discutir primeiro aquilo que a levou a fazê-lo. Caso o tenha feito sem querer devia pedir desculpas. Há a possibilidade ter sido um engano. Muitas coisas poderão ter acontecido.


Neste momento estou apenas profundamente ofendido e não sei com quem. Não sei se com um canalha, se com uma pessoa bem intencionada mas simplesmente ignorante. Não sei se estou ofendido com razão ou sem ela. Não sei de nada. O facto de alguém marcar o 100 Cabeças como imoral sem dizer nada não abona em favor da personagem.


Termino este post com um apelo: tu, que consideras este blogue imoral, mostra-te e vem à luta. Se estás tão convicto(a) da tua moralidade não tenhas receio de avançar. Se não disseres nada é porque além de seres aquilo que estou a pensar neste momento não tens estatura moral para depreciar nem uma hiena que seja. E a hiena ri-se de coisas como tu.

sexta-feira, agosto 22, 2008

Um filme infernal!




Hellboy II, O Exército Dourado, é um filme daqueles.
Para quem não gosta de Comics ou de cinema para as massas é um daqueles filmes que fica bem nem saber do que se trata. Um verdadeiro intelectual não se interessa por semelhante barbaridade cinematográfica.
Para quem gosta de Comics e de cinema para as massas é um daqueles filmes que não se pode perder (nem que para isso tenha de se suportar um barulhento comedor de pipocas nervoso na cadeira do lado, remexendo o fundo do balde de papelão de cada vez que um novo monstro entra em cena).
Na verdade é um filme que se situa numa estranha e arejada fronteira. Uma fronteira entre o cinema para as massas (melhor seria dizer, para as pipocas) e uma inovadora forma de tratar um universo fantástico, carregado de referências pouco usuais no cinema para os bárbaros americanos, o que faz dele algo diferente, a merecer um olhar curioso mesmo por parte dos intelectuais mais pedantes.
Talvez por isso apareça no material de promoção a referência ao realizador Guillermo del Toro, apresentado como o "Visionário criador de O Labirinto do Fauno", num evidente piscar de olho a um segmento de público menos disponível para admitir que é capaz de se deslocar a uma sala de cinema para ver um filme no qual o protagonista é um filho do Diabo que corta e raspa os cornos para parecer humano e que gosta de fumar charutos, como Fidel Castro. Sim, porque "o Labirinto..." mostra o talento do realizador apesar de não incluir na sua promoção a frase "do visionário criador de Hellboy "(del Toro realizou o anterior Hellboy, pois, antes de "O Labirinto...", enfim...).
Esquecendo esta conversa importa referir o magnífico festim visual que é este Hellboy II. A quantidade de personagens fantásticas e o recurso a algumas técnicas tradicionais para a sua criação são de sublinhar. É claro que há (muitos) efeitos especiais criados em computador mas as cenas (por exemplo) do mercado Troll (brrrrr, que coisa pode ser essa?) são espectaculares e os bonecos que por ali aparecem absolutamente deslumbrantes.
Fui ver com a minha filha e posso garantir que foram duas horas de pura diversão e que ainda deram para trocar algumas ideias interessantes sobre lendas, mitos e iconografia medieval. Estranho? Absolutamente nada. Nós somos aquilo que comemos!

quinta-feira, agosto 21, 2008

Venus renascida

ilustração trazida do Fanzine MUMIA

Treme na tumba, ó Botticelli, a graciosidade da tua visão é aqui largamente ultrapassada!

quarta-feira, agosto 20, 2008

Leda e o cisne



Leda and the Swan 2003, Gottfried Helnwein
142 cm x 203 cm
mixed media on canvas
Modernism Gallery, San Francisco


Esta versão de "Leda e o Cisne" tem qualquer coisa de estranhamente humorista. O Pato Donald faz o papel de Zeus transformado em animal para seduzir Leda (ver aqui uma explicação do mito e algumas imagens reproduzindo interpretações artísticas deste episódio). Donald olha o observador de soslaio, com um sorriso maroto no bico, enquanto a figura feminina exibe uma pose lânguida e sensual. Estranho, não?




Leda e o Cisne.


François Boucher (atribuído).


1740 (provável). Óleo sobre tela.

Esta pintura atribuída a François Boucher, artista francês activo durante o período Rocócó, suscitou uma questão que me parece interessante e pertinente, colocada por Eduardo Lunardelli no seu blogue Varal de Idéias. Estaremos perante uma imagem pornográfica?

Será o tema, só por si, um convite a desvarios de pendor sexual? Afinal de contas trata-se de um mito clássico, um exemplo da prodigiosa imaginação dos gregos antigos e da sua extraordinária capacidade para inventar histórias que hoje nos parecem estranhas na forma mas riquíssimas de conteúdo. Será a Mitologia grega um manancial infindável de contos pornográficos?

Mmmmmh, aceitam-se opiniões fundamentadas.




segunda-feira, agosto 18, 2008

Excelente, assombroso... genial!


Primeiro que tudo importa frisar que Wall-e (http://www.disney.com.br/cinema/walle/)é um filme excelente. Independentemente de ser cinema de animação, é CINEMA, ponto final. Será certamente um dos melhores filmes de animação jamais realizados mas é também uma lição sobre a forma de contar uma história.

Algumas sequências são absolutamente fabulosas e a caracterização das personagens é tão perfeita que não há palavras que lhe façam justiça. Mais do que um filme para toda a família, estamos perante um filme para toda a gente. Enfim, a melhor forma de provar aquilo que se tem dito acerca deste filme (ler crítica de Jorge Mourinha aqui) é mesmo ir assistir à projecção numa sala de cinema. Fui esta tarde com a minha filha ver a versão original (é difícil uma vez que em são muito poucas as salas que exibem a versão legendada) ao El Corte Inglés, numa sessão extraordinária: não vi e muito menos ouvi quem quer que fosse a mastigar pipocas ou a escurropichar baldes de Pepsi-Cola. Um milagre completo!

domingo, agosto 17, 2008

Presto (outra maravilha!!!)

As animações da Pixar são maravilhosas. Amanhã irei ver Wall-e, a mais recente longa metragem desta produtora assombrosa. Entretanto aqui deixo a mais recente curta-metragem da Pixar: Presto. Desfrutem.




Espectáculo!!!

Outra guerra


Parece ser ponto assente: a Rússia esmagou a Georgia no terreno mas está a perder a outra guerra, aquela que se trava nos mass media por esse mundo fora. Ao impedir o acesso ao terreno de operações dos enviados especiais do meios de comunicação ocidentais, a Rússia terá cometido um erro (ou não?). As primeiras impressões que chegaram aos jornais ocidentais e, imagino, no resto do mundo, foram recolhidas no lado georgiano que se tem assumido como vítima de agressão. Ora isso parece ser uma tremenda mistificação do que realmente aconteceu. Os georgianos terão atacado de forma irresponsável a Ossétia do Sul e a resposta russa foi arrasadora. Mas, uma vez que os jornalistas apenas puderam circular no lado georgiano do conflito, as informações que primeiro chegaram a todos nós mostravam o urso russo no papel de papão.

O que se tem passado a seguir é uma confusão de mentidos e desmentidos. Os russos acusam os georgianos e vice-versa, numa troca de galhardetes impossível de avaliar com clareza.

O que não deixa de ser interessante verificar é que, segundo o Guardian, o presidente Saakashvili, da Geórgia terá pago 500 mil euros à Aspect Consulting, uma empresa promotora de imagem com sede em Bruxelas, para dar um jeitinho por forma a melhorar as suas possibilidades enquanto aspirante à entrada na NATO e na União Europeia. A empresa faz gala de trabalhar para o governo georgiano e oferece os seus préstimos a quem quiser saber mais qualquer coisa sobre o que se passa no conflito. A informação veiculada pela Aspect Consulting poderá ser levada a sério por quem quer que seja? Mesmo que esteja a falar verdade? Basicamente cabe à dita empresa inventar uma Geórgia cuja imagem seja adaptável às suas pretensões.

O Kremlin terá uma outra agência, a GPlus, incumbida da missão impossível de transformar o urso russo num teddy bear, um peluche amoroso que toda a gente possa admitir levar para casa.

Enfim, longe dos canhões e dos tanques trava-se uma outra guerra de puro marketing. E, como todos sabemos, os publicitários são uns exagerados! Entretanto, no terreno, as atrocidades são cometidas com maior ou menor impunidade. Há empresas sediadas em países decentes para comporem imagens falsas dos intervenientes e dos acontecimentos. É a Aldeia Global em todo o seu esplendor.

É tudo amor!


ilustração retirada do Fanzine MUMIA http://mumiafanzine.blogspot.com/


Não desconfies; entrega-te!
Não penses demasiado; basta que tenhas fé!
Se te sentes estúpido é porque precisas de acreditar.
As coisas nem sempre são o que parecem.
Muitas vezes são o que não são.
Se o mundo te parece demasiado complexo é porque te estás a esforçar mais do que te permite a tua inteligência.
Na verdade o mundo é simples e o Paraíso só está ao alcance dos pobres de espírito.
Arma-te em esperto e o teu lugar será junto de Lúcifer (que também armou ao pingarelho e acabou a dar um tombo desde o Paraíso até às profundezas do Inferno).
Vá lá, descontrai e curte o mundo que te rodeia.
Afinal de contas é tudo amor!

sábado, agosto 16, 2008

Senhores da Guerra


A guerra na Ossétia está a mostrar a quem quiser ver que estamos entregues nas mãos dos Senhores da Guerra. Fala-se muito da brutalidade e da ausência de lei nos territórios afegãos dominados por esses guerreiros indomáveis, capazes de compreender o mundo apenas quando têm uma arma na mão. A ideia é assustadora.
No Darfur há também terríveis assassinos que não respeitam a vida humana e matam quem lhes apetece, quando lhes dá na real gana. Como estes há muitos mais territórios sem lei mergulhados numa espécie de Idade das Trevas, como a que se viveu na Europa após a desagregação do Império Romano.
A guerra na Ossétia mostra que Putin faz o que muito bem lhe apetece e nem sequer precisa de dar a cara nos media ocidentais. Assina tratados e não os respeita com a maior das calmas. O homem é perigoso e não respeita o direito internacional. A ONU faz figura de corpo presente e pode muito bem não sobreviver a esta palhaçada.
Do outro lado Bush e os seus putativos aliados não têm grande moral para condenar a guerra. O Iraque é uma chaga que não vai sarar tão depressa e, também nessa crise, a ONU foi enxovalhada, servindo de palco à maior e mais descarada mentira da história dos meios de comunicação de massas, quando Colin Powell apresentou as provas de existência de armas de destruição maciça nas mãos de Saddam Hussein.
Bush e Putin são Senhores da Guerra e marcam território, como os outros animais irracionais, mijando aqui e ali. A guerra na Ossétia serve para Putin mostrar quem manda naquela parte do mundo. Qual será o próximo território a reclamar pelos EUA?
A guerra na Ossétia começa a ficar cada vez mais fria.

sexta-feira, agosto 15, 2008

quinta-feira, agosto 14, 2008

Uma maravilha (para variar)



Saíu hoje no Público um artigo sobre Rosa Ramalho. Recordar o trabalho extraordinário dos ceramistas populares cá da nossa terra é uma atitude louvável. O bestiário maravilhoso criado por estes artistas é de uma riqueza invulgar e remete-nos muito mais para a época medieval do que para o imaginário surrealista, como é sugerido no texto do artigo acima referido.

Sendo artistas verdadeiramente populares, muitas vezes analfabetos, a sua cartilha iconográfica terá sido a do imaginário religioso e não a de um movimento muito mais urbano e intelectual, como foi o Surrealismo.

Basta olhar para as sublimes formas criadas pelas mãos de Rosa Ramalho para ali reconhecermos os traços fundamentais da escultura românica seja na desproporção anatómica das figuras ou na criação de estranhas monstruosidades compósitas, tal como era hábito e costume nos capitéis das igrejas medievais. Isto apesar da história da cabra de Picasso referida no texto e que se trata de uma contaminação evidente do imaginário original.

Seja qual for a inspiração das criações dos oleiros populares portugueses do século passado, o que é um facto é que as suas peças possuem uma força telúrica única, uma genuinidade que entretanto foi desaparecendo.

Nos dias que correm é cada mais difícil encontrar este género escultórico à venda nas feiras por esse país fora. Os diabos, os cavaleiros e os padres foram substituídos por jogadores de futebol foleiros e mal amanhados, com grandes pilas que saltam detrás dos galhardetes dos respectivos clubes e peças religiosas de um kitsch que faz doer.

Sinais dos tempos. Agora é tudo made in China. Com um pouco de sorte serão made in Taiwan.

quarta-feira, agosto 13, 2008

O mundo não tira férias


O mundo não tira férias e vive sempre no mesmo lugar de desgraça. Os noticiários puxam um pouco pelos acontecimentos mais aberrantes, é um facto, mas a verdade é que a felicidade raramente capta a atenção do bicho homem. A desgraça é mais fotogénica e proporciona histórias de longe mais interessantes. Quem se interessa por uma intervenção cirúrgica que tenha corrido bem? Se o paciente morrer logo surgem aqueles gajos com camâras de filmar ao ombro e reportagens em directo mal amanhadas, tentando descobrir algum pormenor escabroso. Um cirurgião maneta ou um anestesista mais bêbado que um automóvel. Isso sim, pode merecer honras na abertura de um serviço noticioso.


Mas a notícia mais inquietante na actualidade é a da evolução da guerra na Ossétia, ou será na Geórgia? Não pretendo entrar em considerações sobre os reponsáveis pelo deflagrar do conflito. O que me tem prendido a atenção é a forma como as notícias vão caindo. Esta é uma guerra mediatizada como poucas. As informações vão chegando em catadupa. Nos primeiros dias fornecidas pelos dois lados em confronto. Os russos acusando os georgianos de actos horríveis e vice-versa, num jogo macabro de empurrão de responsabilidades sobre ataques, mortes de civis e desrespeito por regras de boa convivência entre estados. Na impossibilidade de ambos falarem verdade é evidente que alguém fala mentira. Elementar.


Entretanto o jogo vai-se tornando cada vez mais perigoso. A brutalidade das forças militares russas é de todos conhecida. A Geórgia é presa demasiado fácil e vai sofrer grandes dissabores como resultado desta estranha aventura. Cá para mim o urso russo não vai retrair as unhas perante uma oportunidade como esta para meter na ordem o resto do mundo e mostrar quem manda naquela zona do planeta. Onde irá tudo isto parar? Veremos.


O mundo não tira férias e mora todo o ano na Rua da Desgraça, Cidade do Choro Eterno.

Para melhor compreender esta salsada recomendo este blogue http://blogs.publico.pt/darussia/.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Pausa

O 100 Cabeças vai a banhos. Entre o dia de amanhã e o dia 13 do corrente mês, dificilmente haverá um computador ligado à NET por perto. Daí que a actividade bloguística se aproxime do zero até o atingir.

Já tenho um montinho de livros prontos para enfiar no saco de viagem e um caderno para tirar apontamentos e fazer alguns desenhos. Na verdade não sei se utilizarei algum desses objectos ou se me entregarei por completo à mais absoluta indolência. O sol costuma provocar sombras profundas no meu interior, levando-me para longe da luz, num reflexo difícil de controlar. Quanto mais sol menos luz interior. Deve ter a ver com um certo derretimento do cérebro.

Mesmo assim, deposito sempre algumas esperanças nas noites de Verão. Esperanças nem sempre concretizadas, é certo, mas que nunca morrem antes da viagem de regresso. Diz o povo que a esperança é a última coisa a morrer. Eu diria que é a última coisa a terminar as férias.

Fiquem bem que eu também.

quarta-feira, agosto 06, 2008

Leonel Moura no Brasil

Leonel Moura em acção de divulgação dos seus famosos "formigões" pintores


Recebi via e-mail a informação de que Leonel Moura levou até ao Brasil os seus famosos robôs pintores também conhecidos por RAP. Nesse e-mail é fornecida a entrada para uma excelente peça jornalística na revista BRAVO!(ler aqui) que recomendo vivamente a quem se interessa pelo fenómeno da criação artísitca.

Nesse texto, escrito de forma muito eficaz e desenvolta, os RAP são apelidados de formigas ou formigões e Leonel Moura é citado em jeito de entrevista, expondo o essencial dos seus pontos de vista que continuam a gerar alguma polémica. A mensagem de Moura vai passando e ganhando consistência. A discussão sobre a natureza artística ou não dos objectos fabricados pelos RAP é muito interessante. Talvez até seja mais interessante a discussão do que os ditos objectos.

Há ainda um texto escrito por Leonel Moura (ler aqui) que pode ajudar a clarificar algumas questões que tenham ficado menos nítidas ao longo do texto-entrevista.

Este tema já foi abordado por mais de uma vez aqui no 100 Cabeças, o link para o Leonel Moura ARTe está aí ao lado na lista permanente deste Blogue. Embora não consiga concordar a 100% com Moura tenho uma profunda curiosidade em reflectir sobre a questão e ver até onde me (nos) pode levar essa reflexão.

Leonel Moura assume-se como um artista conceptual e afirma que a sua obra são os robôs e não os trabalhos por eles realizados. Esses serão da exclusiva "responsabilidade" criativa dos RAP e, diz o criador desses seres artificiais, constituem o paradigma de uma novíssima forma de produção de objectos de arte. Discutível mas apaixonante.

Na Idade Média os pintores e escultores também se consideravam meros veículos da vontade e inspiração divinas. Seriam uma espécie de pincéis manuseados pelo mistério da acção demiúrgica de uma divindade suprema. Daí que muitos deles não assinassem as suas obras.Mas os RAP assinam. É nesse momento que decidem dar as suas obras por terminadas.


terça-feira, agosto 05, 2008

Tapar a mama da Verdade


Em cima: vista global da pintura;
em baixo: antes e depois


A notícia está aí a chegar, vai chegando em ondinhas como a água do mar. Alguém (um discreto assessor, ao que parece) terá tido a ideia de tapar uma mama numa pintura de Tiepolo, exposta na sala onde Berlusconi costuma realizar as suas magníficas conferências de imprensa, no palácio Chigi em Roma.

Em plena Estação Parva esta estranha medida poderia causar pouco mais que um sorriso mas está a fazer correr alguma tinta por esse mundo fora. A razão para o púdico retoque não terá sido tomada num impulso censório. Segundo alguns relatos o que acontecia era que, quando se sentava defronte à pintura para despachar as suas habituais balelas, o seio agora tapado ficava por detrás da ex-careca de Berlusconi, qual auréola mamária.

Estranho seria se Il Cavalieri, conhecido pelos seus ímpetos de galã e macho latino, resolvesse impedir o vislumbre de tão artística imagem por simples pudor. A coisa terá então uma explicação de teor mais mediático, Berlusconi não aceita que a sua incomparável beleza masculina seja ofuscada por uma mama qualquer.

Não deixa de ser significativo que a iconologia alegórica da pintura em causa, A Verdade desvelada pelo Tempo, seja tão toscamente adulterada. O governo de Berlusconi prefere tapar a Verdade, nem que seja apenas uma simples mama.

segunda-feira, agosto 04, 2008

Uma imagem poderosa

04-08-2008

Pedir esmolas em Cabul

Os eufemismos político-militares colocam-nas no grupo dos “danos colaterais”. As crianças são as primeiras vítimas das guerras. No Afeganistão não é diferente. Esta criança ficou sem as pernas e movimenta-se agora com a ajuda de próteses. Amparada pela mãe, pede esmolas numa rua da capital, Cabul.

Fotografia: Adnan Abidi/Reuters

Acabo de dar de caras com esta foto no Público on line. Fiquei profundamente impressionado pela imagem. Um cruzamento de conto medieval com uma cena de ficção científica... uma parábola do mundo contemporâneo, não há palavras à altura. A imagem vale mais que um trilião de palavras, vale mais que todas as palavras do mundo!

Esfaqueie-se a censura (Afinal parece que me enganei...)

Recebi esta mensagem no meu e-mail. Procurei encontrar uma confirmação para o discurso que a seguir transcrevo mas não fui capaz de o fazer. Não fiz uma busca exaustiva mas, no final da mensagem que recebi, chamam a atenção para o facto de o discurso ter sido censurado. Correndo o risco de estar a postar algo que carece de confirmação, resolvi fazê-lo pela originalidade das ideias contidas na mensagem e pela lucidez do discurso, seja ele verdadeiro ou não. Talvez os amigos brasileiros que visitam o 100 Cabeças possam acrescentar algo, confirmando ou não a veracidade do discurso que se segue.




Discurso do Ministro Brasileiro da Educação nos EUA...Durante um debate numa universidade dos Estados Unidos o actual Ministro da Educação CRISTOVAM BUARQUE foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma insistência nalguns sectores da sociedade americana e que muito incomoda os brasileiros).Um jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro. Esta foi a resposta de Cristovam Buarque :



" De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso.Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também a de tudo o mais que tem importância para a humanidade.Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro... O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não seu preço.Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um país.Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França.Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar esse património cultural, como o património natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola.Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro.Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo.Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa.Só nossa! "


ESTE DISCURSO NÃO FOI PUBLICADO. AJUDE-NOS A DIVULGÁ-LO porque é muito importante... e porque foi CENSURADO!


A mensagem que recebi termina com este apelo. Se na realidade houve censura do discurso de Cristovam Buarque, façamos eco das suas palavras. Todas as facadas que possamos infligir no monstro da censura serão óptimas facadas pois esse bicho não merece mais que a morte violenta.

Depois dos comentários feitos a este post e graças às indicações que me foram dadas pelo Albino nesses comentários pude verificar que o discurso de Cristovam Buarque teve larga difusão na NET e, tanto quanto pude perceber, no Brasil inteiro. Os rumores desse discurso chegaram a este lado do Atlântico e, imagino, espalharam-se um pouco por todo o planeta. Como nota o Eduardo, não parece ter havido censura às palavras de Cristovam. Assim sendo, caro e eventual leitor, fiquemos pela força das ideias de C. Buarque que, apesar de terem sido proferidas há um bom par de anos, não perderam interesse nem actualidade. A questão da protecção da floresta voltou à ordem do dia com a criação do Fundo da Amazónia.

Apesar do equívoco global deste post, o título (fora do parêntesis) mantém toda a sua força absolutamente intacta.

Blu


O 100 Cabeças propõe uma visita a este Blogue e a visualização deste filme.

Se ainda te restar estômago explora a coisa.

Este Blogue é algo estranho.

Tem mais um conjunto de filmes estrambóticos e os desenhos não lhes ficam atrás.

As pinturas em paredes decrépitas são coisas de outro mundo.

Aqui encontras mais fotos de trabalhos extraordinários deste artista italiano. E aqui ainda mais.

Enfim, se Banksy é o maior, Blu é também enorme.

São ambos monstros da arte da rua que produzem monstruosidades diferentes.

domingo, agosto 03, 2008

Beautiful Inside His Head Forever


Damien Hirst ataca de novo. Desta vez o (não tão) jovem artista britânico leva a leilão um número considerável de obras significativas sob o título genérico de Beautiful Inside My Head Forever. Segundo as notícias é a primeira vez que um artista envia directamente para leilão um conjunto de obras (223!!!) ignorando as habituais exposições em galerias de arte.

Hirst é uma supervedeta do universo artístico e este leilão promete entrar direitinho para os livros que contarem a História da Arte do século XXI.

No site da Sotheby's está disponível um vídeo (que podes ver clicando aqui) que mostra algumas das obras comentadas por dois excitados (serenamente excitados) funcionários de topo da leiloeira.

Se estiveres interessado(a) em comprar alguma coisinha podes ver aqui o catálogo e fazer as tuas ofertas. Há por ali obras bem interessantes que ficavam bem na minha sala.

sexta-feira, agosto 01, 2008

Estação Parva


Mestres de cerimónias da Estação Parva: em cima juntos, em baixo um pouco mais ou menos


Os igleses chamam-lhe silly season, ou serão os americanos? Em Portugal, como somos muito bons em línguas estrangeiras apesar de falharmos um bocado no português, adoptamos habitualmente a expressão anglófona. Por mim vou chamar-lhe a Estação Parva, apeadeiro habitual dos tótós e demais matrecos deste nosso país maravilha.

A coisa começa com o calor, com a chegada das férias, começa porque as pessoas ficam com mais tempo livre e os políticos também vão dar banho à minhoca para as praias do Allgarve. As notícias tornam-se mais leves o que não deixa de ser estranho. Parece que quando estamos a trabalhar temos mais capacidade de encaixe para suportarmos as agruras da vida na Aldeia Global. Durante a Estação Parva é tempo de fazer inquéritos imbecis a figuras públicas que depois se imprimem em páginas de jornais que, no resto do ano, são ocupadas com assuntos mais sérios.

Outra coisa que faz desta época uma parvoíce é a forma mais ou menos desenfreada com que desatam a fazer listas de livros para ler nas férias. Toda a gente tem um monte de livros a aconselhar ao povinho que fica meio desnorteado sem saber o que fazer com tão magro orçamento e tanta literatura nas prateleiras das livrarias. Fulano propõe isto, sicrano propõe aquilo, como se nas extensas bibliografias que propõem nos estivessem a enviar uma mensagem cifrada sobre si próprios, a sua eloquência (ou falta dela) e a argúcia dos seus olhos de gavião que lhes permite enxergar mais longe as imagens que este mundo nos oferece.

Portugal fecha as portas. Literalmente. Os tribunais, apesar das toneladas de processos atrasados, encerram com cadeado na porta, as escolas, por falta de substância, aninham-se no fundo da casca, etc. e tal. Toda a gente se desloca o mais que pode em direcção ao mar.

Esse é outro mistério. O calor abrasador do sol de Verão leva as pessoas para os areais, uma espécie de desertos à beira do mar, onde não há árvore nem arbusto que oferça um palmo de sombra. Está sol, está calor, então é tempo de irmos ao molho para o local mais desprotegido e ensolarado que podemos encontrar: a praia.

Eu também vou, comedidamente, é certo, mas não posso evitar responder positivamente a este impulso insano que me obriga a besuntar o lombo com camadas peganhentas de creme protector pois a brancura da minha pele não se dá bem com a potência dos raios solares. Já este ano tive uma bela faixa cor-de-rosa a enfeitar-me as costas por me ter distraído a ler o jornal fora do guarda-sol por mais que 5 minutos.

Enfim, apesar de pouco substancial muito há a dizer sobre a Estação Parva. Não posso deixar de notar que o Presidente Cavaco com a sua comunicação ao país no final da tarde de ontem, abriu com chave de ouro e em grande estilo a época da parvalheira. Não haveria formas menos alarmistas e mais comedidas para o Senhor Silva se referir à questão do Estatuto Político-Administrativo dos Açores?

Há quem considere que a Estação Parva tem a sua abertura oficial com a célebre festa do Chão da Lagoa, na Madeira, e como mestre de cerimónias o tipo que governa lá para aquelas bandas. Concordo. Em termos de parvoíce o homenzinho é imbatível.

Está visto que, quando toca a esparvoar, os nossos governantes sentem-se livres e voam pelo céu fora... o seu limite.