O palestrante deambulava para a esquerda e para a direita numa linha vagamente recta. Aqui e ali uma paragem, acolá uma suspensão no discurso, tudo razoavelmente dramático. Esboçou uma narrativa carregada com traços terroríficos. O gesto, o tom, o estilo, tudo para convocar um sentimento piedoso entre nós, na plateia. E a coisa funcionou. Os espectadores pareceram irmanados pela compreensão do sofrimento alheio. Tudo muito piedoso, tudo muito solidário em retrospectiva. Bastaria olhar os rostos comprimidos dos que escutavam o professor para perceber que se tratava de boa gente, que era tudo boa gente.
Algo me incomodou a ponto de retirar o meu bloco do bolso para registar o que se segue: "muito evocamos os tormentos e pouco falamos de alegrias."
Voltei a guardar o bloco no bolso do casaco e continuei a seguir o passeio do professor à minha frente; direita, esquerda, parado, em andamento. No fim todos batemos palmas.
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