Não deveria esquecer-me de que todos os dias podem começar como este começou. Começou com a leitura de uma das conferências de Borges publicadas em Sete Noites (esta versando a Divina Comédia). Não tanto pela imensa erudição que irradia das palavras escritas, não tanto pela beleza rítmica da forma (que mesmo na tradução para português não é perdida), não tanto pelo poço celestial do conteúdo: os dias deviam começar desta forma pois é leitura que me faz recordar o prazer que é estar vivo.
Dou por mim a pensar como seria agradável que após a hora da nossa morte pudéssemos continuar a ler; como seria agradável que o universo continuasse para lá da cortina dos sentidos, uma infindável biblioteca, como o terá sonhado Borges; dou por mim a pensar que o inferno decerto será semelhante ao silencioso deserto de ideias que imaginei ainda há pouco.
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