Somos mesmo uns animais um bocadinho irritantes. Não sei se sentes o mesmo, amigo leitor, irritam-me profundamente aqueles que insistem em ter sempre razão. É uma casmurrice imbecil, uma necessidade de afirmação digna de um macaco narigudo: ter razão.
Termos razão quando asseguramos que café sem açúcar é melhor do que com, que o nosso mecânico não só é justo nos preços que cobra como também revela capacidades técnicas e conhecimentos incomparáveis, que o Doutor que nos trata da cabeça tem um dom que só pode ser oferta divina, termos sempre razão equivale a dizer que fazemos sempre a melhor escolha. Sempre, sem margem de erro nem espaço para arrependimentos. Ter sempre razão é ser, sem dúvida, o maior.
Apesar da irritação que me provocam costumo deixar passar sem remoque estas exibições egoístas mais ou menos inofensivas. É como ter uma comichão e evitar coçá-la para não agravar o desconforto. Mesmo quando a nossa ausência de resposta provoca no irritante aquela expressão pouco subtil de superioridade, aquele repuxar discreto do canto do lábio, aquele sobrancelha ligeiramente erguida, o ajeitar do cabelo como se a afirmação de excelência fosse tão forte que tivesse despenteado o soberbo.
Não quero reclamar qualquer tipo de sabedoria especial que me leva a evitar confrontar um ego desmesurado; seria mostrar semelhança com o irritante. Tenho uma vaga esperança de que a minha ausência de reacção o incomode, lhe faça cair o cantinho do lábio, lhe amanse a sobrancelha e o despenteie de facto.
Acho que isto é ficar próximo de estar velho.
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