sexta-feira, março 12, 2021

Ingenuidade

Há uma certa esperança de que o futuro possa vir a ser melhor do que aquilo que designamos por passado. Essa esperança é o combustível dos sonhos, alimenta mil razões para que não desistamos de ser, que não desistamos de viver. Mas sabemos também que esse tal futuro alberga o dia e a hora da nossa morte. 

Assim, pode parecer paradoxal que ansiemos o tempo do nosso fim, esperando que, algures entre o momento que vivemos e aquele em que seremos coisa morta, haja um tempo de redenção, de concretização de projectos mais ou menos grandiosos que, de algum modo, haverão de nos satisfazer. Fosse a vida coisa eterna e a alegria de atingir um determinado objectivo de vida seria como explodir infinitamente no gozo de continuarmos a ser.

Como resolver esse paradoxo de querermos aproximar-nos do nosso fim enquanto perseguimos as quimeras que inventamos para preenchermos o tempo que vivemos? Continuo a tentar convencer-me que a vida que vivo só faz sentido se contribuir para a construção de uma Humanidade mais completa, mais capaz de conviver com o planeta e consigo própria numa lógica de liberdade individual plasmada no bem comum. Isto exige alguma ingenuidade, mas permite-me continuar a sonhar.

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