segunda-feira, novembro 02, 2020

Do auroque ao santo de pau carunchoso (1.º episódio)

Embora seja por vezes difícil de especificar, é mais ou menos pacífico para o senso comum que os objectos artísticos são criados com a intenção de satisfazerem algum objectivo concreto. Penso poder afirmar que acreditámos desde sempre na magia das imagens criadas pela mão humana. E essa terá sido a finalidade principal de uma infinidade de objectos artísticos criados ao longo dos tempos: a magia.

Esta crendice virá dos tempos pré-históricos, quando os nossos antepassados se esgueiravam para as entranhas da terra, enfiando-se em grutas e buracos, até encontrarem o spot ideal para a execução dos seus extraordinários grafittis.

Nos dias de hoje tentamos imaginar qual seria razão que os levava tão longe e tão fundo para a execução daquelas enigmáticas pinturas. Manadas de auroques à desfilada nos tectos das grutas de Altamira (?) deixam-nos extasiados e como a decoração de interiores estará, à partida, excluída, desatamos a colocar hipóteses para que aquelas coisas ali estejam e tenham acontecido.

A hipótese mais arreigada na nossa tradição imaginativa é a de que os nossos antepassados fariam aqueles bonecos com a finalidade de mimetizarem a sua captura executando umas momices quaisquer com paus e lanças, tanto quanto a imaginação contemporânea nos permite imaginar que fizessem. Certamente dançando em círculos e soltando urros assim à maneira dos grandes símios. Seria aquilo que se chama uma arte propiciatória.

(continua)

 

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