A decisão de manter as tais 85 obras de Miró em Portugal é notável. O
facto de virem a ficar no Porto é uma notícia excelente. Podem Passos Coelho e
os seus rapazes franzir o depilado sobrolho pretendendo fazer passar a ideia de
que as questões culturais não são tratadas de forma diferente quando temos a
direita ou a esquerda no poder que, perante esta exemplar evidência, todos
percebemos a realidade. A esquerda (ainda) encara a Cultura sob uma perspectiva
muito diferente daquela que orienta a miopia direitista neste capítulo da nossa
vida colectiva. Não vale a pena discursar, basta-nos olhar. E ver.
Os que se aprontavam para vender em leilão a célebre colecção Miró e
lucrar com isso devem estar a roer nervosamente as unhas por terem deixado
escapar entre os dedos tão apetecível oportunidade de negócio. Foi por pouco! Mesmo
em termos meramente economicistas a venda em leilão seria um negócio fatela.
Por muito elevado que fosse o montante amealhado tratar-se-ia de fraco lenitivo
económico. A instalação da colecção na Cidade Invicta acrescenta valor ao
Porto, à Região Norte e ao país. É uma espécie de produto de exportação ao
contrário que atrai riqueza sem sair de Portugal. Ainda por cima significará
mais alguns postos de trabalho directos e indirectos… qualquer pessoa que olhe
para isto com boa-fé só vislumbra vantagens na decisão política tomada pela “geringonça”.
O lucro será conseguido a longo prazo e, no fim das contas, o erário público
irá ganhar muitíssimo mais do que ganharia com um negócio de mercearia feito à
pressa como se tem feito quase sempre que se trata de vender a coisa pública a benevolentes
e desinteressados investidores privados.
A rapaziada da direita precisa de estudar as fábulas moralistas com
mais atenção. Talvez os jovens governantes laranjinhas não tenham compreendido bem
a história da Galinha dos Ovos de Ouro; reconheço que não está ao alcance de
todos. Deixo a sugestão de que abordem essa e outras fábulas na próxima
Universidade de Verão do PSD em vez de andarem a aprender a fazer spin ou a descobrir a melhor forma de
dar graxa ao chefe. Iam ficar melhores pessoas e líderes mais preparados, disso
não tenho dúvidas.