Comprei o jornal e um maço de tabaco. Paguei com o meu
cartão de débito. Percorri os corredores do centro comercial até entrar na
FNAC. Hoje era Domingo, dia de contar contos às crianças no palcozinho do bar. O
bar repleto e barulhento (os alarmes estão sempre a apitar, estridentes como
alfinetes a espetarem-se-nos no cérebro). As crianças, no palco, estão
hipnotizadas, os pais, embevecidos, observam. Aquele lugar não é para mim.
Saio da FNAC e dirijo-me ao Starbuck’s. Um café e um muffin
de mirtilo. Sento o cú numa poltrona confortável a abro o jornal. Hoje era
Domingo. O Alentejo, a Uber, a nova temporada de A Guerra dos Tronos, vou lendo
notícias e artigos até que um título capta a minha atenção: “A crise da água
que está a ameaçar a Índia”. A descrição dos factos é aterradora. Crianças que
morrem percorrendo territórios secos em busca de água. Populações inteiras que
migram em busca de água; conflitos, refugiados…
Olho pela vitrina e vejo duas crianças a reclamar qualquer
coisa. Caras feias, caras tristes, os pais, severos, esticam dedos, pregam
moral. De súbito sou assaltado por uma sensação de incomodidade. Penso nas crianças
do outro lado do vidro e tento imaginar as crianças que morrem na Índia, em
busca de água.
Fecho o jornal, dobro-o e meto-o debaixo do braço. Saio dali
meio perdido. Não me lembro bem o que ia a pensar quando entrei no meu carro e
liguei a ignição. O mundo é tão grande e tão diverso… talvez não pensasse em
nada. O que há para pensar?
1 comentário:
Mais um excelente texto para reflectir. Já !
Um abraço.
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