Qualquer cidadão de qualquer nacionalidade é elegível para obter o “golden
visa”, basta-lhe ter dinheiro suficiente para pôr a salivar certos agentes
económicos e as portas da Europa ser-lhe-ão abertas de par em par. Entretanto,
no Mar Mediterrâneo, continuam a naufragar outros aspirantes a habitar este
espaço genuinamente democrático que é a comunidade europeia. É tudo uma questão
de capacidade de investimento.
Os que morrem no Nosso Mar investiram tudo o que
tinham para comprar o seu lugar miserável num bote mortífero, às mãos de
traficantes sem escrúpulos. Os que compram moradias de luxo negoceiam com outro
género de traficantes, nem por isso mais escrupulosos do que os outros mas os
riscos que correm são praticamente nulos.
É tudo uma questão de quantidade. Se
forem podres de ricos, os aspirantes a um lugar deste lado do mar não encontram
obstáculos. Se forem pobres têm assegurada uma aventura inesquecível: ondas,
enjoo, muros, arames farpados, centros de detenção, anilhas e pulseiras, fome
medo e, caso sobrevivam, talvez consigam um buraquito qualquer onde aconchegar
o que restar das suas pessoas e dos seus entes queridos.
Esta diferença na atribuição de autorizações para habitar o espaço
europeu é o retrato perfeito daquilo que somos, enquanto projecto social e político
comum. O dinheiro impera, o dinheiro é deus, o dinheiro justifica tudo, limpa
tudo, limpa-se a si próprio e limpa os crimes cometidos por aqueles que o
acumulam.
Nem quero pensar que algum do capital aplicado a comprar casas de
luxo em Portugal seja proveniente do tráfico de emigrantes no Mediterrâneo ou
do comércio de armamento nas guerras que os obrigam a navegar para a morte.
Se é isto que temos para oferecer aos países não democráticos ou a
democracias pouco genuínas, não admira que nos odeiem e nos combatam com quanta
força têm.
2 comentários:
Gostei do seu texto, Rui !
Mas não encontro solução para esses desgraçados, pois não temos ( a Europa ) capacidade para os receber aos milhares e milhares.
Um abraço.
Não tenho a certeza que não tenhamos capacidade para os receber. Mas, caso isso seja verdade, talvez pudéssemos pensar na maneira de trabalhar para evitar que eles tenham de fugir. As recentes vagas de fugitivos têm mais razões militares do que económicas. Já não são maioritariamente provenientes da África sub-sariana, agora vêm da Síria, da Eritreia, do Norte de África. As coisas mudam excepto a nossa atitude.
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