Quando era pequeno aprendi a respeitar os mais velhos. Num ambiente salazarista isto implicava também respeitar, sem questionar, os chefes, os poderosos, Deus, os apóstolos, o padre, o professor, enfim, toda uma legião de seres, reais ou imaginários, que pareciam investidos de um direito especial para ditar orientações, limites e rezar sentenças definitivas. A vida era simples como as botas do ditador. Se alguém ocupava um cargo de responsabilidade e chefia era porque, decerto, tinha capacidades que o habilitavam a desempenhar as suas funções de acordo com as necessidades do povo e a boa ordem divina.
Depois cresci, deu-se o 25 de Abril e as coisas mudaram. Percebi que a credulidade tem limites e que o respeitinho não é nada bonito.
O direito dos poderosos deixou de ser vitalício, hereditário ou benzido pela nunciatura, agora era o povo que acreditava na sua capacidade para escolher os que governariam a coisa pública. Assim fomos andando até chegarmos aqui mesmo, a este preciso momento: 2014 a morrer.
Já não acredito que quem ocupa cargos de responsabilidade e chefia o faça por ter capacidades especiais para o desempenho das suas funções. Acredito que os governantes e os poderosos resultam de acidentes da História, más escolhas, jogos de influências, interesses inconfessáveis.
Percebo também que a dimensão ética não tem que ter cabelos brancos, que há velhos bem vestidos e perfumados que mentem mais e com maior maldade que um puto que seja simplesmente estúpido e a cheirar a cócó. Já não aceito o exercício da autoridade sem o questionar e não confio em quase ninguém que ocupe um cargo de governação. De crédulo a céptico o caminho foi longo mas surpreendentemente fácil.
O panorama político do “centrão” é uma paisagem árida, povoada por arbustos ressequidos e seres rastejantes, de formas indefinidas, que se movem furtivamente em busca da sombra protectora.
Em 2015 iremos votar outra vez. Terá o povo coragem para escolher governantes diferentes daqueles que nos trouxeram até aqui, à beira do abismo? Faço votos de que seja esse o caminho, ainda que desconhecido ou perigoso.
2 comentários:
Penso que a grande maioria fez esse percurso de descredibilização das instituições e pessoas. O problema é mesmo esse: terão coragem para trocar o establishement corrupto mas conhecido, por uma incógnita? E essa incógnita é o quê? E vai para onde?
A alternativa ideológica a estes 3 partidos do arco da governação são 2 partidos: a CDU e/ou o Bloco. Mas tanto um como outro não são uma incógnita. Todos temos uma ideia mais ou menos precisa do caminho que querem trilhar. E como em tudo na vida, uns concordam com esse caminho e outros não. Por isso não creio que seja uma questão de falta de coragem quando as pessoas votam maioritariamente no PS, PSD e CDS, é antes uma questão de identificação ideológica. Infelizmente esses 3 partidos estão cheios de gente podre e nesse aspecto a CDU e o Bloco parecem ter gente diferente. Mas uma coisa é gente corrupta e outra coisa é a ideologia.
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