Continuamos a tratar os nossos alunos como animaizinhos de
circo. Treinamo-los na repetição de tarefas, oferecemos-lhes um doce quando
cumprem com sucesso o comando que lhes é dado e ficamos todos satisfeitos
(pais, professores, ministro, técnicos especialistas, auxiliares de educação,
pessoal administrativo, tios, primos, avós, padrinhos e demais encarregados de
educação) quando nos momentos de maior pressão, na realização de testes de
exame, a maioria dos meninos alcançam médias a rondar a fronteira da negativa.
É um triunfo, a marca do sucesso do nosso sistema educativo. Se a coisa
funcionar assim, poucos cidadãos irão ficar incomodados com o facto de que a
maioria dos meninos não seja capaz de argumentar a sustentação de um ponto de
vista de forma lógica e fundamentada.
Não é que eles não tenham essa
capacidade, simplesmente não são estimulados a fazê-lo porque não há tempo. Há
um programa a cumprir, muitos meninos na sala, alguma confusão, muito açúcar ao
pequeno-almoço, não sobra espaço para grandes conversas que não se cinjam
estritamente à “matéria”, preferencialmente a “matéria” de exame.
Eles são
treinados: primeiro para copiar o que o professor escreve no quadro e decorar
os textos dos manuaizinhos, depois para perceber a melhor forma de debitar tal
e qual a informação retida no local correcto.
A coisa resume-se muito a isto;
trabalha-se com os meninos como se trabalha com macaquinhos acrobatas ou leões
anestesiados, faz-se da escola uma arena de circo, os professores são como
domadores. Um dia mais tarde os meninos serão adultos e, com alguma sorte,
continuarão a ser acríticos, a torcer o nariz sempre que lhes cheira a
discussão de ideias, dóceis como carneiros de cada vez que os chefes e os
poderosos lhes abram os olhos e os mandem obedecer.
É este o desígnio do nosso
sistema de ensino? Assim se constrói um admirável país novo.