Como bons doutores que somos cagamos sentenças e diagnósticos com uma facilidade estonteante. É que o doutoramento mais comum entre os portugueses é o doutoramento em Tudologia. Isto permite a todos e a cada um ter as mais lúcidas e definitivas opiniões sobre o que quer que seja.
Política, ciência, desporto, engenharia, direito, urbanismo são uma pequeníssima amostra de matérias que estão na boca de toda a gente e que toda a gente domina com uma mestria extraordinária. Arte e aeronáutica nem por isso mas estamos a trabalhar para aumentar, também aqui, o número de especialistas.
Por haver tanta gente extraordinária o extraordinário transforma-se em ordinário, perde o "extra". Isso explica porque é que Portugal, um país que os deuses fadaram para os grandes feitos em prol da humanidade, teima em não passar da cepa torta: tanto doutor excelentíssimo transforma o país numa ordinarice.
Precisamos de mais gente simples e boa e dispensamos tanto doutor. Os doutores estão convencidos que o seu estatuto lhes confere direitos especiais (porque são doutores) e o resultado é este: Portugal.
6 comentários:
Ainda não chegamos a esse estágio de DESENVOLVIMENTO. Estamos ainda na escola primária, e nossos dirigentes tem no máximo ginásio... As consequencias são evidentes: o BRASIL !
Eu não creio que sejam os doutores a razão do problema que referes. Os portugueses sempre tiveram tendência para falar sobre tudo e sobre todos com autoridade superior, mesmo quando não eram doutores e mesmo quando não percebem nada do que estão a falar. Acho que é uma característica muito nossa que alguém, um dia, haverá de explicar, que sabe, em tese de doutoramento. Aliás, eu acho que hoje o doutor já está de tal maneira banalizado que o efeito é exatamente o contrário, ou seja não cria complexo de superioridade em quem tem o título mas antes complexo de inferioridade em quem o não tem ( veja-se o caso Relvas ). Mas isto é apenas um pequeno “ à parte”, porque o que me chamou mesmo a atenção no teu post foi a frase “Isso explica porque é que Portugal, um país que os deuses fadaram para os grandes feitos em prol da humanidade, teima em não passar da cepa torta “. Achei curioso sobre diversos aspectos mas gostava de referir apenas um que tem a ver com a forma como nós os portugueses olhamos para nós próprios, ou seja vemo-nos como alguém com a nobre missão de levar a civilização aos 4 cantos do planeta. Há de facto um sentimento qualquer de povo eleito por Deus ( à semelhança do que acontece com os judeus ) para tomar conta do mundo. E nós portugueses estamos convencidíssimos disso ( independentemente de ser verdade ou não). E eu creio que é exactamente essa a razão da nossa profunda infelicidade e baixa auto-estima, ou seja achamo-nos os maiores, os iluminados, os predestinados mas depois olhamos à nossa volta e vemos a realidade nua e crua. Daí à depressão vai um saltinho. Isto é tão mais profundo que quando olhamos para os filósofos portugueses ( com o Padre A. Vieira à cabeça, passando pelo Pascoaes, pelo Pessoa, e acabando nos mais recentes, Agostinho da Silva, Eduardo Lourenço, etc. ) vemos que a grande questão que lhes ocupou a mente durante as suas vidas foi essa coisa do “ o que é ser português “, que dificilmente é uma questão que se encontra em outros países ( com a excessão dos judeus, claro ).
Enfim, foi apenas um pouco da chamada filosofia de taberna que me apeteceu partilhar hoje. Afinal de contas também eu sou um doutor e como tal com autoridade superior para falar de assuntos dos quais não percebo absolutamente nada :-)
.
Eduardo, é uma questão de tempo.
:-)
Rui, belo comentário o teu. Concordo contigo no essencial. Um dia havemos de compreender o que é isto de ser português. Ou talvez seja apenas uma daquelas questões em gostamos de exercitar o nosso doutoramento...
:-)
Rui, muito obrigado pelo Livro/CD . A capa é ótima e as músicas e letras divertidíssimas. Rimos muito. Forte abraço.
Por isso é que já há tanto doutor desempregado por ter habilitações a mais. Estamos no bom caminho.
Eduardo, ainda bem que gostaram.
:-)
Abraço.
Jorge, tens razão, estamos no bom caminho... só não sei bem para onde!
:-)
Enviar um comentário