Durante a minha infância vivi em estado semi-selvagem. O máximo de tecnologia a que tive acesso era um velho aparelho de televisão a preto e branco que de vez em quando se recusava a funcionar e a minha avó paterna arranjava com uns valentes murros na caixa.
Quando cheguei à adolescência foi com alguma emoção que recebi (já não sei de onde terá vindo) um leitor de cassetes, daqueles mono, como os que usavam os repórteres dos anos 70 para fazer entrevistas. As cassetes que tocava nesse aparelho primitivo eram todas dos Doors.
Ouvia as cassetes tantas vezes que as fitas se partiam e tinha de as arranjar com pedaços de fita-cola. E voltavam a rodar e a rodar e a fazer-me sonhar já não me lembro com quê. Aquela música hipnotizava-me. Nos dias de hoje tenho vários dos discos dos Doors na minha prateleira e, de vez em quando, regresso a eles mas falta-me a frescura da adolescência para nadar até à lua.
Ontem faleceu Ray Manzarek. Lá se foi mais um pedaço do tempo. É estranho quando recordamos uma destas personagens. Ray tinha 74 anos mas, para mim, será sempre aquele jovem com grandes patilhas, óculos sem aros e longo cabelo escorrido e louro, debruçado sobre o órgão; genial, absolutamente extraordinário.
Um homem assim nunca morre de verdade enquanto não morrer o mundo em que viveu.
2 comentários:
olha pois, é isso mesmo, é também essa a imagem que eu guardo dele, e essa é que conta
Também guardo as maravilhas que ele arrancava no teclado.
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