As deformações causadas pela colocação do observador em relação a um objecto e a perspectiva segundo a qual aborda questões e problemas, nem sempre são levadas em consideração e, por isso mesmo e não só, o resultado de uma reflexão redunda em opinião, que não é sinónimo de verdade.
Confuso, não é? Também me parece.
Vem esta conversa algo obtusa a propósito de uma notícia que, à primeira vista, mais não é que um fait divers, a notícia sobre uma "misteriosa guerra dos portugueses na Índia que só existiu na Wikipedia" (ler aqui).
Sempre que consultamos o oráculo Google, esse semideus do mundo virtual, é usual sermos conduzidos, em primeira opção, direitinhos às "páginas" da Wikipedia.
Ali encontramos informação gratuita e variada sobre os mais abstrusos assuntos, desde o ponto-de-cruz à mecânica quântica, da vida sexual das minhocas à melhor forma de construir uma bomba nuclear.
Tudo nos é oferecido espontaneamente, automaticamente, dispensando o trabalho de pesquisar diversas fontes, de comparar informação e opiniões antagónicas, oferecem-nos o mundo já mastigado, regurgitado e pronto a engolir sem mais trabalho que não seja o de abrir a goela.
Qualquer texto mais complexo e menos esquemático que nos surja nas ruelas esconsas deste mundo "internético", qualquer leitura que nos obrigue a mais que meio minuto de concentração é, por nós, quase imediatamente rejeitada. Não temos tempo, não temos paciência, não há espaço mental para pensar e ninguém nos paga para isso.
A gente ou "like" ou então nada!
Na ilusão de que temos ao nosso dispor uma imensidão infinita de conhecimento e sabedoria engolimos a maior das patranhas misturada na mais profunda das verdades reveladas. É tudo a mesma coisa, não há distinção entre uma colherada de merda e uma garfada de fillet mignon. Sabe tudo ao mesmo, tem tudo o mesmo odor, não temos de mastigar; apenas engolimos.
O conflito de Bicholim está aí, é uma pequeníssima fraude. Que mal pode dali vir a este mundo?
2 comentários:
Excelente reflexão. É de facto preciso checar muito bem tudo o que se lê na net. Mas é uma fonte. Infelizmente tens razão e crescente divinização deste espaço, como fonte única de conhecimento, pode matar a verdade.
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