E pronto, é oficial, o mundo acaba (acabou?) hoje.
Já tantas vezes morto e enterrado, o mundo renasce sempre, transformado, como larva que gera borboleta que gerará nova larva e nova borboleta e outra larva, por aí fora, até que alguma borboleta não encontre mais céu para voar nem raio de luz para disputar. O que não é o caso.
Alguns sinais, discretos mas perceptíveis, provam a morte do mundo: a caixa de correio vazia em vésperas de Natal; o frenesim apático de inteligência que anima os corpos que cruzam o centro comercial em velocidade de cruzeiro fantasma; a falta de esperança no novo ano que se aproxima à distância de poucos dias...
O fim do mundo não é, ao contrário do que pretendem alguns fanáticos alarmistas e maus realizadores de cinema, uma sucessão fantástica de calamidades que tudo arrasa em explosões espectaculares e multidões em fuga para lado nenhum, gritando como manadas de vitelos desmamados. Não. O fim do mundo é uma coisa secreta que acontece todos os dias. Dentro de cada um de nós, fora da realidade comum.
O mundo que hoje acaba (acabou?) é um cadáver há muito adiado. Anunciar o seu fim nos meios de comunicação social apenas tornou visível essa mortezinha quotidiana, faz ver a quem não tem olhos como as coisas são frágeis e transitórias. Nada de mais, mera banalidade essa: a agonia de um planeta inteiro dentro de cada um de nós.
E pronto. O mundo morreu, viva o mundo! É tempo de continuar a viver.
2 comentários:
Eu acho que as pessoas têm um certo prezer mórbido no anúncio de catástrofes. Claro que é a nossa vunerabilidade que provoca essa paranóia. Mas há uma lógica escatológica em todos nós: é a nossa condição mortal que fala.
Jorge, concordo e subscrevo.
Enviar um comentário