Joaquim Benite
Há dias em que só me apetece dizer "foda-se"!
Expressão profundamente grosseira, de uma deselegância próxima da boçalidade camponesa que enformou a minha mais tenra infância, "foda-se" é mais do que uma palavra, foda-se é um estado de espírito.
Foda-se a morte, foda-se a vida, fodam-se os mortos e fodam-se os vivos. Dita assim muitas vezes, a palavra foda-se tem qualquer de catártico, esconjurando fantasmas e traumas com uma eficácia desarmante.
Dizer foda-se muitas vezes e de forma apropriada poupa-nos uma ida ao psiquiatra e faz-nos evitar a cartomante da esquina. Foda-se é uma expressão libertadora que contribui para a poupança de uns dinheiros que, de outra forma, seriam (mal) aplicados em terapia desnecessária.
Anteontem faleceu o Joaquim Benite, ontem o eterno deixou de fazer sentido com a morte de Niemeyer. Dizer a palavra (foda-se) ajuda a aliviar a sensação de que há fantasmas que o Inverno liberta e ficam por aí a reclamar vidas a que pensam ter direito, mesmo do outro lado do mar oceano onde nem sequer faz sentido que se morra por não estar o frio que aqui se faz sentir.
Foda-se.
Dickens intuiu a coisa com o seu Scrooge e os fantasmas natalícios. Mas, como era um homem bem educado, não utilizou, no seu conto imortal, a palavra mágica: foda-se. Convenhamos que é a palavra que falta ao conto para que seja uma obra-prima absoluta e não aquilo que realmente é, uma extraordinária obra-sobrinha.
Termino este mal-humorado post com a sugestão: leitor amigo, experimenta dizê-lo alto - FODA-SE. Se porventura não sentiste um leve sopro libertador, então repete, di-lo mais alto, grita-o se necessário for. O mundo não merece mais do que isso. Estranhamente, também não merece menos.
4 comentários:
Tb sou muito a favor de dasabafos altamente foda-se.
Pior é quando dá uma vontade enoooorme de dizer, e por algum motivo, não podemos fazê-lo...
Jorge, alivia um bocadinho.
Ana, a blogosfera (ou zumbisfera) permite-nos estas liberdades.
é, é isso
foda-se!
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