Os artigos que têm vindo a ser publicados no jornal Público sobre
os negócios da Tecnoforma com protagonismo mais ou menos relevante de dois
figurões do actual governo, nada mais nada menos que o 1º ministro e o seu
principal sequaz, são paradigmáticos.
O que incomoda mais, ainda mais do que as
toscas manobras à boa maneira do tradicional chico-esperto aproveitador de
oportunidades obscuras para deitar a mão a uns trocos que lhe componham o
estrato bancário, é a evidente inépcia dos promotores da marosca.
Miguel Relvas,
Passos Coelho e respectivos comparsas de ocasião podem argumentar que agiram
dentro da legalidade, mas, tanta falta de visão, tanta incapacidade para prever
o desajustamento dos programas que propuseram para aplicar verbas europeias,
prefiguram, na melhor das hipóteses, uma inocência que não é admissível em
políticos e gestores da coisa pública.
Poderão até argumentar que estavam a
aprender, que é com os erros que se aprende, que agora estão mais aptos a
evitar escorregadelas ridículas e mais atentos a desvios perigosos. Pois sim,
para aprender há escolas e sapateiros a tocar rabecão ainda vá que não vá, já
analfabetos espertalhões a passar por doutores é caso de polícia, é crime que
põe em risco a vida de pessoas ou a saúde de uma sociedade inteira, a merecer
castigo severo.
Como podemos dormir descansados quando são estes seres vivos
responsáveis pelos destinos de Portugal numa hora como a que atravessamos? Como
podemos dormir descansados quando alguém que foi capaz de levantar a “problemática
geral dos aeródromos e heliportos municipais” nos termos relatados nos artigos
de António Cerejo seja agora responsável pelo negócio de privatização da RTP,
só para dar um exemplo inquietante?
Mais à frente leio outro artigo, “A
alternativa responsável”, assinado por António José Seguro e o desânimo é
absoluto. É isto que 40 anos de estado democrático tem para nos oferecer? Políticos
de pacotilha que aprenderam tudo o que sabem nas reuniões das juventudes
partidárias e nos recantos menos iluminados dos corredores da Assembleia da
República?
As historietas da Tecnoforma mais não são que a ponta do rabo do
gato escondido. Houvesse mais jornalismo de investigação na decadente imprensa
deste país adiado e o espelho a que nos olhamos reflectiria visões simplesmente
insuportáveis.
Já que não há justiça que julgue esta comandita que seja o povo
a fazê-lo nos locais onde ainda vai tendo uma palavra a dizer: primeiro na rua,
depois nas urnas. Talvez ainda haja tempo para, pelo menos, lavarmos a cara e
olhar para o espelho com uma réstia de esperança.
9 comentários:
Rui, a Islândia resolveu o problema à sua maneira, mas parece que no mundo ninguém está muito interessado em conhecer aquela história, incluindo os políticos, comunicação social mas sobretudo nós, o povo. Vejo diariamente no facebook lamentos e protestos contra a actual situação. Eu decidi colocar no facebbok o seguinte comentário:
"Será que é possível fazer isto aqui em Portugal? A história recente da Islândia ( no video em baixo ) não passa nos jornais, mas mesmo que passasse duvido que os portuguesinhos a quisessem saber. A revolução pacifica foi feita na Islândia com o poder e o saber do povo, mas com sacrifício. Durante dois anos viveram quase sem dinheiro e tiveram que começar tudo do zero. Quantas das pessoas que desfilam nas nossas manifestações estariam dispostas a isso? Quantos centrais sindicais e partidos de esquerda ( porque os de direita nem é bom falar ) aceitariam partir do zero para reconstruir o país. E a função pública bem remunerada ( juízes, médicos, militares, professores ), que também desfilam nas manifestações ao lado de quem verdadeiramente sofre a crise, estariam dispostos a isso? "
E não é que ninguém se pronunciou. Porque será?
E enquanto o mundo vai caindo de podre os islandeses vão reconstruindo o seu país, com trabalho e sacrifício dos que não abandonaram o barco, e com mão pesada para os corruptos que demoraram a abandonar o barco. Só posso sentir respeito e admiração por um povo assim.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=lNt7zc6ouco
http://www.informacaosindical.net/site16/informacao-sindical/305-cavaco-silva-versus-olafur-grimsson
Quanto ao post, não vejo grande diferença entre estes e outros, futuros e passados. E isso é que assusta. A qualidade de governantes vai sempre piorando e quando julgamos que já batemos no fundo, ainda descemos mais.
Quanto à Islândia, penso que não há comparação possível, excepto a nossa inveja. Um país com menos de 1 milhão de pessoas. Com estruturas e mentalidades diferentes. Com apoio da Dinamarca e da Noruega. Sem estar no euro... Penso que é comparar alhos com bugalhos e não adianta nada para a nossa felicidade.
Rui, a Islândia é um caso extraordinário e os islandeses merecem, sem sombra de dúvida, a nossa mais profunda admiração. Também tenho pensado muito sobre o que temos nós de abdicar para podermos ser livres? As respostas que se me vão formando no espírito são dúbias e, todas elas, de extrema dureza. É um debate importante.
Jorge, concordo contigo mas também discordo. Talvez seja tempo de começarmos a misturar alhos com bugalhos para ver no que dá. A separação dos ditos tem dado nisto que conhecemos.
A Islândia deveria ser uma grande fonte de inspiração para todos nós, exactamente porque o que se passou lá tem muito pouco de ideológico e é apenas a democracia pura a funcionar, tudo ao serviço de um povo e de uma nação. É difícil? Claro que sim. Se fosse fácil também não estariam agora orgulhosamente a festejar. Eles não gostam de festejar vitórias fáceis. Ninguém deveria gostar.
Rui, há uma linha na vida que nunca deveríamos ultrapassar. Perder o orgulho, a dignidade e a nossa independência deveria ser para todos nós muito pior que perder qualquer beneficio material, fosse ele qual fosse. Sentir que isso não é um factor de união nas pessoas deixa-me profundamente triste.
Rui, só se perde algo que se tenha adquirido. Para muitos de nós coisas como orgulho, dignidade e independência mais não são que conceitos absolutamente abstractos.
Talvez alguma coisa esteja a mudar. Talvez esteja a nascer uma consciência política entre a população. Parece-me que será um processo lento... mas para que algo mude é necessário alterar por completo vários aspectos da nossa vida, seja como indivíduos seja como comunidade. Estaremos prontos?
É isso. A tua pergunta faz todo o sentido. Eu acrescentaria ( se calhar dizendo a mesma coisa mas de outra maneira ): o que é que hoje nos une, verdadeiramente, como povo e como nação? O que é que estamos dispostos a fazer por esta coisa a que chamamos Portugal? É mesmo importante para nós sermos livres?
Depende. Uns tempos atrás pensava que uma inserção completa na UE nos daria mais força e independência no mundo globalizado. Agora já não sei.
Rui, sem liberdade haverá alguma coisa que faça sentido?
Jorge, partilho as tuas dúvidas.
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