Ninguém sabe ao certo quantos eram. Eram um rio, fizeram um mar de gente. Milhares e milhares de cidadãos manifestando-se de forma pacífica, uma forma de expressão muito portuguesa. Havia mamãs com bebés em carrinhos, pais que levavam os filhos às cavalitas, crianças que batiam com pandeiretas na cabeça dos pais, velhinhos muito velhinhos e raparigas e rapazes jovens. Punks de crista colorida e tias da linha com os seus óculos enormes e roupas de marca. Havia gente de todas as cores, de todos os tamanhos, formas e feitios.
Bandeiras... quase todas portuguesas (vi uma bandeira islandesa). Palavras de ordem... ou eram complicadas e ninguém conseguia repetir o que alguém gritava através do megafone ou eram simples e, de vez em quando, elevavam-se coros de vozes "FMI, fora daqui".
Mas, a palavra de ordem que todos sabiam, os que costumam participar em manifestações de rua e os que nunca haviam antes experimentado esta liberdade, os que já eram crescidos quando rebentou a Revolução e os que ainda nem sequer tinham nascido, a palavra de ordem que me trouxe lágrimas aos olhos por tudo o que significa, pelo seu maravilhoso fundo quixotesco, pela esperança quase infantil que transporta, a palavra de ordem que entoei com os outros, que me fez sentir eles e compreender que eles se sentiam eu, a maravilhosa palavra de ordem foi a imortal "o povo, unido, jamais será vencido, o povo, unido, jamais será vencido, o povo, unido, jamais será vencido".
O mundo pode acabar tal como o compreendemos, podem matar-nos a todos de todas as formas possíveis e inimagináveis, mas o povo, quando sai à rua, é a coisa mais bela do mundo!
Que se lixe a troika, no sábado tivemos a nossa vida de volta!
7 comentários:
Rui, ninguém e nem nada vai calar este povo.
(meus olhos encheram-se de lágrimas ao ler tua escrita.)
Beijos
Rui, é engraçado, percebendo eu exactamente aquilo que queres dizer, sinto o oposto. Acho que há um lado de catarse social que é arrepiante ( no bom sentido ) nestas manifestações, e que também me contamina e me impressiona, mas eu quando vejo muita gente junta a minha primeira atitude é afastar-me. Sinto sempre que a multidão esmaga a individualidade, a criatividade e sinto-me sempre oprimido ali ( com todo o respeito por quem sente o contrário ). Se calhar estou a parecer um pouco reaccionário e não é essa a minha intenção. Mas falando de multidões, numa coisa eu penso recorrentemente, que é na energia que pode estar ali concentrada. Aquela é verdadeiramente a energia mais valiosa do planeta ( mais que as EDP's e Galp juntas ) e por isso penso sempre no que se poderia fazer se aquela multidão conseguisse descobrir aquilo que nos une a todos, aquilo que verdadeiramente importa na vida. Será isso a utopia?
Aqui no Brasil não se vê mais manifestações como essas. Há uma apatia e descrença impressionante. A força dessa gente na rua é impressionante, comovente e às vezes surpreendente. O poder só teme o povo na rua. E não há regime político, nem exercito capaz de silênciar u´a manifestação popular espontânea, livre e verdadeira.
Foi magnífico! E havia uma alegria imensa no ar, algo que não sentia há muito tempo.
Ciúmes meu? Não, acho que não... Orgulho? Certamente...
Concordo com o post e os comentários. Tb eu me divido qd vejo muito povo, mas às vezes tem de ser. E foi!
Li, não sei bem como vai acabar esta história mas este capítulo foi bonito de viver.
Rui, aquela multidão era (é) muito sui generis. Todos diferentes, todos iguais.
Eduardo, o resultado imediato da manifestação foi obrigar os governantes a repensar algumas atitudes menos ponderadas. O futuro...
Beto, o povo é povo mesmo, seja onde for e quem dele faz parte não fica indiferente, onde quer que seja.
Jorge, não temos que temer a multidão se fizermos parte dela.
:-)
Enviar um comentário