Dizem por aí que há menos crianças em Portugal logo é
natural que haja menos professores, menos escolas, menos investimento na
educação. Há quem queira reduzir o problema a uma questão de números. Regressa
o velho espírito merceeiro que caracterizou a política nacional durante o tempo
da Outra Senhora.
Quando Salazar governou não consta que houvesse falta de
crianças. Nesses tempos, que tantos de nós recordam com um suspiro saudosista,
havia muitas crianças. As aldeias do interior pululavam de vida, os portugueses
não necessitavam de incentivos governamentais para se reproduzirem.
Na época
dourada do fascismo saloio ter filhos era uma riqueza familiar. Mal pudessem
com a sachola, as crianças estavam aptas a entrar na idade adulta, cavando
terra, semeando miséria. Não faltavam crianças nem faltavam professores ou
escolas. O ditador sabia bem que a ignorância lhe facultava os cidadãos
necessários à implementação da sua visão socioeconómica. Vivemos 48 anos de
aposta contínua na pobreza, fosse pobreza material ou de espírito.
Depois da
Revolução acreditámos que o conhecimento e a educação seriam factores
determinantes para equilibrar uma sociedade que se pretendia democrática. A
Escola Pública passou a ser um direito e a qualidade do sistema educativo uma
paixão declarada por sucessivos ministros pouco dados a investir nas coisas do
amor. Com o passar dos anos começamos a compreender que nem a Escola Pública é
encarada como um direito por aqueles que nos governam, nem Portugal conseguiu
ultrapassar o estigma salazarista de gerações de crianças a quem sonegaram a
infância.
Ainda hoje a Educação é por muitos considerada mera ferramenta de
ascensão social. Não interessa o Saber ou o Conhecimento, interessa, isso sim,
o título de Doutor. Valoriza-se o “parecer”, dá-se muito pouca importância ao
“ser”. Os nossos governantes parecem inteligentes. Afinal de contas não são,
todos eles, doutores?
As medidas educativas que vão sendo largadas sobre a Escola
Pública têm o efeito de um bombardeamento da 2ª guerra mundial ordenado por um
general meio louco a quem faltasse também o mapa da zona a bombardear. Não se
vislumbra um plano, uma estratégia, um objectivo. Quando um dia as bombas se
esgotarem não vai haver pedra sobre pedra mas haverá sempre escolas privadas.
Podem estar descansados.
6 comentários:
Lindo texto se não fosse a desgraça de que trata. Herdamos, mais uma vez, esse descaso com a Educação, e essa mania de se formar engenheiros e doutores médicos para serem caixa de bancos privados. Para acelerar o crescimento do país, sempre com medidas paliativas e emergenciais, vamos dar um "choque de capitalismo" na economia brasileira. Vamos privatizar portos, aeroportos, ferrovias e estradas. Ainda não chegamos na Educação. Esse "choque" deverá demandar centenas de novos postos de trabalho. Haverá emprego para muitos analfabetos funcionais, e universitários desempregados. E assim caminha a humanidade!
Eduardo, o Brasil merece muito mais e muito melhor. Olhem para os erros dos outros e evitem cometê-los. Eu pensava que era fácil mas, afinal, é mesmo complicado não errar!
Errar é fácil, complicado é não errar!!! srsr C:-)
Eduardo, estamos de acordo.
:-}
Caramba! Brilhante, a sua análise e acima de tudo...é tão verdade!!!
Olá, Silvares.
Educar é preciso, viver também é preciso.
Afinal, não é para a escola, mas para a vida que aprendemos. Chegou-se a este ponto então, aí.
Mal, muito mal.
Com os referidos merceeiros e bombistas, não parece haver muita esperança de solução a curto nem a médio prazo à vista.
Isto preocupa, até fora das fronteiras portuguesas, onde o caso não tem reflexos diretos.
Digo isto porque pessoalmente acho inadmissível haver descaso, negligência governamental para com a educação, não importa onde, em que país.
O preço é alto demais.
Abraço.
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