Vou no balanço meio aéreo do comboio. Subo a linha da Beira Alta, em direcção a casa. As férias continuam o seu caminho, encarreiradas nesta linha férrea.
À minha volta as pessoas parecem ter sido mordidas por uma mosca tsé-tsé. Vai tudo a dormir ou a dormitar. Ainda assim não vislumbro nenhum fio de baba a escorrer dos muitos cantos de bocas abertas, isso aborrece-me. Queria ver alguém a babar-se para dar mais colorido a este post.
A paisagem abre-se de vez em quando, para lá das árvores que ladeiam a linha. As árvores trazem o horizonte para cima das nossas cabeças, impedidndo que o olhar se alongue na liberdade do espaço. Lá fora corre o portugalzinho do costume; muitas casinhas, de vez em quando uma casona, como que a casa mãe das pequeninas ou o antro de algum animal predador de grande porte.
O sol e o calor, a estação de Santarém.O lugar ao lado do meu é o único vago em toda a carruagem. O mundo lá fora, ao largode Portugal, parece que corre também assim, monótono e habitual, em direcção a um fim que promete ser início de outra coisa qualquer.
Nos ouvidos trago enfiados uns auscultadores que agora me cantarolam uma cançãozinha dos Pop Dell'arte. à minha frente o computador onde vou distraindo a escrita nesta coisa que estás a ler. Estou meio recortado no espaço da carruagem, tento contruir (e dominar) um lugar só para mim, uma coisa exclusiva que vou partilhando contigo.
Sinto-me uma espécie de ciborgue imperfeito, cujas funcionalidades
artificiais se encontram todas (ainda) fora do corpo. Agora o dispositivo
auditivo vai debitando "The Passenger" na versão de Iggy Pop. Nada
mais apropriado!
PS reparo agora na semelhança entre a foto que está na sidebar e a do
cabeçalho deste blogue. Ele há coisas...
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