domingo, setembro 04, 2011

O peso certo


Como todos os obesos o estado tem o direito de desejar perder peso. Se tem gorduras a mais é justo que faça os possíveis para as dispensar. Já o desejo de fazer os impossíveis me parece algo exagerado, até eventualmente perigoso. Haverá  um peso certo, um equilíbrio desejável. Olhando para os esforços que este governo vai desenvolvendo fico um pouco confuso. Há por ali uma desordem, uma ânsia, uma angústia meio marada. 

Será que o estado pretende livrar-se de tudo o que não lhe (nos) interessa ou, ai Jesus!, está a cumprir um plano mais ambicioso e menos confessável? Privatizar serviços de interesse público não parece medida muito católica. Entregar nas mãos dos mercados, sempre tão nervosos, voláteis e volúveis, sectores como, por exemplo, o das águas não augura nada de bom. Mas será que o ensino ou a saúde irão resistir por muito tempo ao apetite dos tais mercados que, desta forma, estão a ficar, eles sim, obesos e gordos como porcos bons para fazer presunto? 

Há, no entanto, sectores que parecem sagrados e intocáveis. A justiça e a segurança pública não correm riscos de privatização. É como se os governantes estivessem orientados no sentido da criação de um estado cuja preocupação exclusiva é a manutenção de um ambiente suficientemente seguro e estável para que se possam desenvolver um certo número de negócios rentáveis em benefício de uma elite económica que, ela sim, é gorda e governa o mundo em que vivemos.

Será que o peso certo dos estados pós-democráticos em que habitamos é resumir os seus gastos na administração de uma espécie de justiça caricatural, garantindo a ordem pública através do investimento em forças militares e policiais que mantenham os cidadãos nos seus cantos específicos sem gerarem ondas de perturbação que possam por em causa a saúde psíquica dos tais mercados?

Estaremos nós a assistir ao nascimento de uma nova ordem social onde, em nome do bem-estar dos mercados de capitais, os cidadãos vêem esvaziados os direitos sociais que tanto suor lhes custou a adquirir? A Europa vai desaparecendo na paisagem e nós assistimos passivamente, com a canga a pesar-nos no costado.

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