Martina Gusman e Ricardo Darin numa cena de infinita ternura...
Aqui há uns tempos largos tinha lido a crónica do Beto Canales (ver aqui) no blogue Cinema e Bobagens (aqui também) sobre o filme O Segredo dos Seus Olhos, do realizador argentino Juan José Campanella e tudo o que ele dizia soava justo e certeiro: um certo cinema argentino passa na tela com uma naturalidade que até parece ser a vida a imitar aqueles filmes e não o contrário. Como se, sentados na sala de cinema, os espectadores fossem aqueles tipos acorrentados na caverna da alegoria platónica.
De Campanella já tinha visto com estranho prazer O Filho da Noiva e, mais recentemente, vi (em DVD, sem legendas, descobri que compreendo o argentino com alguma eficácia) o espectacular Luna de Avellaneda. 3 filmes com Ricardo Darin como denominador comum, além do realizador, está bom de ver. O que me deixa agarrado a estes filmes é a forma escorreita como nos é contada uma história por actores magistralmente dirigidos. A representação elevada à categoria de arte maior.
Mas o que me levou a escrever este post foi uma ida recente ao cinema para ver Carancho (Abutres, na versão portuguesa) de um tal Pablo Trapero. Mais uma vez Ricardo Darin a dar corpo à personagem principal e novamente uma exibição de virtuosismo estonteante. Sem efeitos especiais e (decerto) sem um orçamento astronómico cria-se uma obra de arte cinematográfica exemplar.
O tango que abre a banda sonora de Carancho dá o mote; há um país na Amércia Latina onde os cineastas fazem cinema como se ele nunca tivesse morrido sufocado por toneladas de pipocas ou afogado num mar de Pepsi Cola. Na Argentina assistimos a um autêntico Renascimento cinematográfico. Buenos Aires está para o cinema como Florença esteve para as artes, que agora chamamos plásticas, lá para o fim da Idade Média.
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