sábado, outubro 30, 2010
Irmãs (quase) gémeas
Quanto mais progredimos na preservação da vida humana, estendendo progressivamente o nosso tempo de habitantes do planeta Terra, mais abrimos a porta à doença e à pobreza.
O envelhecimento da população aumenta o número de casos de doenças relacionadas com o desgaste das peças que constituem o nosso organismo. A doença de Alzheimer é um exemplo paradigmático.
Mas os problemas sociais relacionados com as dificuldades crescentes em garantir uma velhice em condições dignas e razoáveis a todos os séniores da população são, também, angustiantes e parecem impossíveis de resolver satisfatoriamente principalmente num mundo em que a Economia domina sobre todas as coisas.
Ao prolongarmos a vida humana estamos a semear alimento para essa irmãs (quase) gémeas; a doença e a pobreza. Será este um preço a pagar por tentarmos contrariar a ordem natural das coisas? Estará Deus chateado connosco por brincarmos a fazer de contas que somos Ele?
terça-feira, outubro 26, 2010
A Portuguesa (página 1)
Eva Nave Silvares venceu outra vez o prémio do Festival de Banda Desenhada da Amadora, escalão B. Tal como no ano passado (ver aqui) a BD da Eva mereceu um olhar especial do júri do concurso. Este post e os 3 anteriores apresentam reproduções de cada uma das pranchas de A Portuguesa. Clicando sobre as imagens consegue-se uma ampliação que permite a leitura do texto e uma visão mais interessante do grafismo desta história. Como sou pai da Eva já não sei o que mais dizer sem parecer que estou a exagerar. Portanto fico-me por uns "parabéns miúda". E tremo um bocadinho por dentro.
Causa ideal
Tenho a sensação que as pessoas preferem causas a ideais.
Um ideal aloja-se-nos no cérebro. Uma causa infecta-nos a alma.
Uma causa é como um incêndio a lavrar em mato seco, alimenta-se de tudo o que pode e quando se apaga restam muito poucos vestígios reconhecíveis. Fica tudo queimado.
Um ideal dá muito mais trabalho a cuidar. É como tentar meter uma floresta num jardim.
Acho que um ideal é mais flores e uma causa é tipo cinzas. Ou se calhar não.
domingo, outubro 24, 2010
Olhos que não vêem, coração que não sente
Surpresa e choque! Perante as revelações de que a tortura de civis no Iraque é uma prática corrente à qual os militares ocidentais fecham os olhos ou nela participam, nós ficamos surpresos e chocados. Pessoalmente isto cheira-me a hipocrisia. Chocado? Não sei se fico. Surpreso? De forma nenhuma.
Estou a beber uma cervejinha de lata, fresquinha, comi agora mesmo um pimento recheado com queijo fresco, mmmhh, picante e suave, um contraste complementar maravilhoso para as minhas papilas gustativas. Vou lendo as notícias sobre os horrores e desventuras dos meus irmãos humanos lá para as bandas do Iraque. Embora me queira convencer do contrário, cá no fundo estou-me a borrifar para esta história. A distância é demasiado grande e o meu coração já está calejado.
No remanso dos nossos lares, confortáveis nas nossas pantufas, indignamo-nos com a violência em terras longínquas. Sabemos que os nossos soldados por lá andam, metidos em guerras, e estamos à espera de quê? Que eles se comportem como cavalheiros? É absurdo imaginar que um tipo saído dos confins dos Estados Unidos da América, borrado de medo num lugarejo perdido em território iraquiano, com uma metralhadora nas mãos, seja capaz de agir de acordo com normas de conduta que consideramos civilizadas. É como pedir a um homem a morrer de sede que espere calmamente pela sua vez de beber um copo de água.
A guerra só pode ser cruel e violenta. Não há outra hipótese. É como um monstro esfomeado à solta num infantário. Uma vez iniciada só podemos fazer tudo o que for possível para encontrar forma de lhe por um fim. Tenho muita pena. Lamento muito. Mas só isso. Tenho o coração calejado e estou protegido pela distância.
sábado, outubro 23, 2010
Mercado bom é mercado morto!
"O que os mercados estavam à espera era de alguma coisa, de um Orçamento", esclarece João Zorro, "e em qualidade corresponde ao que os mercados esperavam, em particular, relativamente às reduções salariais". (vê aqui, caso tenhas pachorra)
Já estou farto desta merda dos mercados. Que raio de coisa são, os mercados?
Estão sempre nervosos e expectantes, atentos a tudo o que fazemos enquanto estrutura social. Particularmente atentos às variações das políticas económicas, estes mercados sabujos parecem dominar as nossas vidas, mas alguém sabe o que são, como são constituídos, qual o seu aspecto? Têm cornos, os mercados? São peludos ou lisinhos como um rabo de bébé?
Apesar de viverem numa zona de sombra húmida e escondida dos olhares humanos, os mercados esperam coisas, reagem e sussurram ordens aos ouvidos dos economistas, os sacerdotes de serviço. E é por imposição dos mercados que os nossos salários vão ser reduzidos e que a nossa vida parece desenrolar-se numa antecâmara do inferno desde que começaram a ficar com tiques nervosos.
Porra que são susceptíveis à brava, os mercados. Piores que meninas ricas ou putas mal pagas ou polícias bêbados, mal lhes parece que as coisas estão a derrapar para longe dos seus caprichos misteriosos, logo começamos a sentir a sua má disposição. Começam as queixinhas nos noticiários, depois vem a berraria nas bolsas de valores e pronto, estamos feitos num oito!
Se alguém vir um desses mercados, por favor, enfie-lhe imediatamente um pontapé na boca e uma faca entre as costelas. Se ainda estrebuchar enterre mais a faca, até ao cabo, até ao punho, até o filho da puta do mercado deixar de mexer um cabelinho que seja.
Obrigadão.
Já estou farto desta merda dos mercados. Que raio de coisa são, os mercados?
Estão sempre nervosos e expectantes, atentos a tudo o que fazemos enquanto estrutura social. Particularmente atentos às variações das políticas económicas, estes mercados sabujos parecem dominar as nossas vidas, mas alguém sabe o que são, como são constituídos, qual o seu aspecto? Têm cornos, os mercados? São peludos ou lisinhos como um rabo de bébé?
Apesar de viverem numa zona de sombra húmida e escondida dos olhares humanos, os mercados esperam coisas, reagem e sussurram ordens aos ouvidos dos economistas, os sacerdotes de serviço. E é por imposição dos mercados que os nossos salários vão ser reduzidos e que a nossa vida parece desenrolar-se numa antecâmara do inferno desde que começaram a ficar com tiques nervosos.
Porra que são susceptíveis à brava, os mercados. Piores que meninas ricas ou putas mal pagas ou polícias bêbados, mal lhes parece que as coisas estão a derrapar para longe dos seus caprichos misteriosos, logo começamos a sentir a sua má disposição. Começam as queixinhas nos noticiários, depois vem a berraria nas bolsas de valores e pronto, estamos feitos num oito!
Se alguém vir um desses mercados, por favor, enfie-lhe imediatamente um pontapé na boca e uma faca entre as costelas. Se ainda estrebuchar enterre mais a faca, até ao cabo, até ao punho, até o filho da puta do mercado deixar de mexer um cabelinho que seja.
Obrigadão.
sexta-feira, outubro 22, 2010
Fado do Desgraçadinho
Se não chegas ao Jornal Nacional (ou lá como se chamam os serviços noticiosos na televisão, sejam lá eles quais forem desde que sejam à hora em que o pessoalzinho está sentado defronte ao cubo mágico), se não chegas a essa coisa, então é muito provável que não existas.
Se, por ordem inversa de acontecimentos (im)prováveis, lá apareces, iupi!, podes começar a pensar na melhor forma de te pareceres com alguma coisa que não seja um miserável elemento dos Homónimos Anónimos. Se o teu corpo físico surgir plasmado no espelho cego dos nossos sonhos é tempo de colocares a questão: Quem sou eu? (quem és tu?)
Melhor será, caso passes a existir por obra e graça dos mass media, que te questiones sobre o que pareces. Então perguntas ao espelho mágico: O que pareço eu? (o que pareces tu?)
Enquanto vegetas do lado de cá do écrã sabes perfeitamente que não existes e, no entanto, estás aqui. Vais preparando a ficção da tua realidade virtual, uma narrativa que te assente como uma luva, uma luva que sirva na perfeição da tua mão direita. Cada dedo um momento grandioso, a palma da tua mão um espírito nobre, o espírito que te anima e joga aos dardos com o teu anjo da guarda, na tasca da tua alma.
Enquanto estás a dormir (e ainda não existes) o teu esprito e o teu anjo, jogando e bebendo canecas da cerveja amarga fabricada com o sentido da tua vida liquefeito, continuas a ser um desgraçadinho. Um desgraçadinho que sonha e sabe que a esperança é a última coisa a morrer. Mas também morre.
Se, por ordem inversa de acontecimentos (im)prováveis, lá apareces, iupi!, podes começar a pensar na melhor forma de te pareceres com alguma coisa que não seja um miserável elemento dos Homónimos Anónimos. Se o teu corpo físico surgir plasmado no espelho cego dos nossos sonhos é tempo de colocares a questão: Quem sou eu? (quem és tu?)
Melhor será, caso passes a existir por obra e graça dos mass media, que te questiones sobre o que pareces. Então perguntas ao espelho mágico: O que pareço eu? (o que pareces tu?)
Enquanto vegetas do lado de cá do écrã sabes perfeitamente que não existes e, no entanto, estás aqui. Vais preparando a ficção da tua realidade virtual, uma narrativa que te assente como uma luva, uma luva que sirva na perfeição da tua mão direita. Cada dedo um momento grandioso, a palma da tua mão um espírito nobre, o espírito que te anima e joga aos dardos com o teu anjo da guarda, na tasca da tua alma.
Enquanto estás a dormir (e ainda não existes) o teu esprito e o teu anjo, jogando e bebendo canecas da cerveja amarga fabricada com o sentido da tua vida liquefeito, continuas a ser um desgraçadinho. Um desgraçadinho que sonha e sabe que a esperança é a última coisa a morrer. Mas também morre.
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quotidiano delirante
domingo, outubro 17, 2010
Medo
O segredo consiste em espalhar o medo.
Medo da crise; medo dos vírus; medo do dentista e medo das alturas. Medo das armas, medo do amor. Medo do futuro, medo do mar, medo do medo. Medo de tudo e medo de nada.
Por fim, o pior de todos os medos que é ter medo de mim.
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quinta-feira, outubro 14, 2010
quarta-feira, outubro 13, 2010
33 Lázaros
Acabo de ver imagens do resgate de um dos 33 mineiros chilenos. São imagens comoventes de um homem que sai do cilindro que o foi buscar à barriga da terra que se preparava para o digerir lentamente.
É o triunfo da tecnologia humana sobre a morte anunciada. Não tão radical quanto a ressurreição de Lázaro narrada na Bíblia, mas suficientemente impressionante para nos deixar a sorrir de boca aberta com os olhos cravados no pequeno écrã do computador.
terça-feira, outubro 12, 2010
O lixo como bela-arte
Mão amiga fez-me chegar à caixa de correio um power-point com imagens de fotografias de um tal Chris Jordan. Procurando no google encontramos o site deste senhor logo à cabeça da página. O "truque" consiste em clicar sobre as imagens e deixá-las vir ao encontro dos nossos olhos até que nos cheguem ao cérebro em condições de serem compreendidas. Não sei se me espante ou nem por isso.
Olhando as fotos de Chris Jordan fico a imaginar o que faria Marcel Duchamp com todo o tipo de lixo que o mundo actual nos oferece e nas quantidades industriais em que o faz. A sociedade contemporânea é muito mais generosa para com os seus artistas do que épocas pré-consumistas-compulsivas. Jordan que o diga. Que arte iria ele fazer se não fosse toda a porcaria que largamos constantemente sobre o nosso querido planeta?
segunda-feira, outubro 11, 2010
Dia inteiro na gaveta
Quero lembrar o que trago debaixo da pele, não quero ser esfolado.
Quero saber o que sou sem ter de me esforçar muito além do que é suposto ser, não sendo pago.
Quero ser esperto sendo isso, num gajo como eu, algo muito além do esperado.
Não serei nada, nem ninguém ou coisa alguma.
Não existirei para lá do mar, nem das portas estreitas que lá fora fecham as estrelas.
Esperança, fundo em mim, é tal e qual coisa nenhuma.
E quando a luz sobre a mesa da cozinha, mais do que se lhe pede, brilha, invade-me o ancestral temor que de azuis o mundo todo oculta e enegrece.
Torno-me curtíssima fronteira de mim mesmo.
Hoje é o tal dia em que nada de mau acontece..
domingo, outubro 10, 2010
Ignóbeis
Os prémios Nobel agitam a sociedade industrializada. Os galardoados com o Nobel são pessoas especiais, capazes de descobrir coisas ou realizar feitos muito acima da mediania. Apesar de não fazer a mínima ideia do assunto tratado pela maioria dos prémios Nobel da Física ou da Química, por exemplo, acredito que o resultado dos trabalhos destes artistas da lógica e do pensamento humano são assombrosos e podem contribuir para a evolução da espécie humana.
Já os prémios IgNobel parecem mais acessíveis ao intelecto comum do homem da rua. Para comprovar esta arrojada tese (da minha exclusiva responsabilidade) basta passar os olhos pela lista dos Prémios Ig Nobel de 1991 até 2009. Este ano os IgNobel revelaram mais uma vez a extraordinária capacidade dos seres humanos para inventar... o que quer que seja! Os IgNobel premeiam sempre investigadores imaginativos que fazem do senso comum uma coisa fora do vulgar.
sábado, outubro 09, 2010
Luxo e merda de cão
No dia 5 de Outubro fui até Lisboa assistir, ao vivo e a cores, às comemorações do centenário da república. A imagem mais forte que retive não foi a dos "grandes" do regime sentadinhos nas cadeiras ouvindo-se uns aos outros discursando, nem os guardas republicanos alinhados como soldadinhos de chumbo, brinquedos de criançolas traquinas.
O que mais me chamou a atenção foram as dezenas de viaturas topo de gama que ocupavam os estacionamentos ou entupiam as ruas em redor da praça do município. Carrões pretos, grandes, impecavelmente lavados e luzídios com os chauffeurs por perto, numa manifestação de fausto que não se encaixa na realidade precária das actuais contas do estado.
Aqueles carros são símbolos perfeitos da república portuguesa tal como ela é nos tempos que correm. Aqueles carros dão a imagem de governantes que são servidos muito mais do que servem, são os veículos que os afastam das ruas e das pessoas, transportando-os para níveis de realidade que nós, comuns cidadãos, não conseguimos compreender. Os nossos governantes não pisam o chão que pisamos e vão perdendo a noção da nossa realidade. Eles movem-se num mundo que nos é estranho, onde não há merda de cão nos passeios nem lixo espalhado ao acaso. Vivemos uma situação extrema de incomunicabilidade.
Estão convencidos de que a dignidade dos cargos que ocupam justifica aquela exibição despudorada de riqueza e poder. Estão enganados. A dignidade dos cargos que ocupam justificava outra postura e outra atitude. A sobranceria e falta de escrúpulos dos nossos governantes ainda vãodeitar tudo a perder.
Melhor seria que pisassem merda de cão no passeio e tivessem uma visão mais justa da realidade em que vivemos.
O que mais me chamou a atenção foram as dezenas de viaturas topo de gama que ocupavam os estacionamentos ou entupiam as ruas em redor da praça do município. Carrões pretos, grandes, impecavelmente lavados e luzídios com os chauffeurs por perto, numa manifestação de fausto que não se encaixa na realidade precária das actuais contas do estado.
Aqueles carros são símbolos perfeitos da república portuguesa tal como ela é nos tempos que correm. Aqueles carros dão a imagem de governantes que são servidos muito mais do que servem, são os veículos que os afastam das ruas e das pessoas, transportando-os para níveis de realidade que nós, comuns cidadãos, não conseguimos compreender. Os nossos governantes não pisam o chão que pisamos e vão perdendo a noção da nossa realidade. Eles movem-se num mundo que nos é estranho, onde não há merda de cão nos passeios nem lixo espalhado ao acaso. Vivemos uma situação extrema de incomunicabilidade.
Estão convencidos de que a dignidade dos cargos que ocupam justifica aquela exibição despudorada de riqueza e poder. Estão enganados. A dignidade dos cargos que ocupam justificava outra postura e outra atitude. A sobranceria e falta de escrúpulos dos nossos governantes ainda vãodeitar tudo a perder.
Melhor seria que pisassem merda de cão no passeio e tivessem uma visão mais justa da realidade em que vivemos.
sexta-feira, outubro 08, 2010
quinta-feira, outubro 07, 2010
Sonho de fim de dia de trabalho
É em dias como este, quando chego a casa cansado após um dia de trabalho, que sinto verdadeiramente o drama dos que estão desempregados. Mais do que não ter dinheiro imagino o sofrimento atroz de não ter que fazer nem poder sentir-se útil. Nestes dias cresce em mim o desprezo por aqueles que exploram o trabalho alheio. A esses...
terça-feira, outubro 05, 2010
100 anos de República e algumas bananas
O presidente da câmara de Lisboa desbobinava a conversa mole do costume perante uma plateia de notáveis. O parque de estacionamento do Cais do Sodré estava apinhado com carros pretos topo de gama e os respectivos cahuffeurs iam limpando alguns vestígios de pó na pele dos assentos ou cavaqueavam indolentemente nas redondezas.
Eis senão quando os Homens da Luta surgem na Rua do Arsenal vindos da Praça do Município empurrados por agentes da polícia municipal (ver aqui um texto deslavado sore o assunto). A confusão não era muito grande mas o povo tinha ali algo para o despertar da soneira provocada pelos discursos. Gel e Falâncio, acompanhados de mais alguns companheiros de luta, gritavam "Viva a república das bananas!" e o povo parecia compreendê-los muito melhor que ao macarrónico António Costa que continuava a declamar coisas chatas para dentro do microfone.
A coisa durou algum tempo. Perante tantas testemunhas os polícias empurravam os Homens da Luta com a suavidade possível. Atrás deles vinham inúmeros operadores de câmara de diferentes estações de televisão, alguns radialistas e uma mão cheia de fotógrafos. Empunhando bandeiras rematadas por apetitosas bananas os Homens da Luta lá fizeram o seu número até serem colocados a uma distância considerada satisfatória pelos polícias. Quando estes os empurraram com mais força foram vaiados pelos populares que assim demonstravam estar de acordo com a palavra de ordem, principalmente com a parte da "república das bananas". Um republicano mais agastado teve de ser levado dali enquanto berrava e esbracecejava contra os Hokens da Luta chamando-lhes fascistas. O dito republicano não estava a ver bem o filme.
Finalmente, já lá mais para o fim da rua, cantaram-se os "parabéns a você" dedicados à dita república, a das bananas. Os Homens foram embora, os chauffeurs continuaram por ali enquanto os que eles conduzem continuavam a brincar aos macaquinhos, sentados nas cadeiras VIP na Praça do Município, ouvindo os discursos banais de homens mais banais uns do que os outros. Sócrates e Cavaco a baterem-se pelo título do Rei da Banalidade em dia de comemoração da República.
Eis senão quando os Homens da Luta surgem na Rua do Arsenal vindos da Praça do Município empurrados por agentes da polícia municipal (ver aqui um texto deslavado sore o assunto). A confusão não era muito grande mas o povo tinha ali algo para o despertar da soneira provocada pelos discursos. Gel e Falâncio, acompanhados de mais alguns companheiros de luta, gritavam "Viva a república das bananas!" e o povo parecia compreendê-los muito melhor que ao macarrónico António Costa que continuava a declamar coisas chatas para dentro do microfone.
A coisa durou algum tempo. Perante tantas testemunhas os polícias empurravam os Homens da Luta com a suavidade possível. Atrás deles vinham inúmeros operadores de câmara de diferentes estações de televisão, alguns radialistas e uma mão cheia de fotógrafos. Empunhando bandeiras rematadas por apetitosas bananas os Homens da Luta lá fizeram o seu número até serem colocados a uma distância considerada satisfatória pelos polícias. Quando estes os empurraram com mais força foram vaiados pelos populares que assim demonstravam estar de acordo com a palavra de ordem, principalmente com a parte da "república das bananas". Um republicano mais agastado teve de ser levado dali enquanto berrava e esbracecejava contra os Hokens da Luta chamando-lhes fascistas. O dito republicano não estava a ver bem o filme.
Finalmente, já lá mais para o fim da rua, cantaram-se os "parabéns a você" dedicados à dita república, a das bananas. Os Homens foram embora, os chauffeurs continuaram por ali enquanto os que eles conduzem continuavam a brincar aos macaquinhos, sentados nas cadeiras VIP na Praça do Município, ouvindo os discursos banais de homens mais banais uns do que os outros. Sócrates e Cavaco a baterem-se pelo título do Rei da Banalidade em dia de comemoração da República.
sábado, outubro 02, 2010
Ritual
Ando a ler 2666, de Roberto Bolaño. A expressão "ando a ler" é quase exacta. É um calhamaço de mais de mil páginas que reúne cinco livros num só. É pesado e volumoso o que não facilita o manuseamento da coisa. Impossível de ler de um fôlego, difícil de ler em qualquer lugar. Na cama torce-me os pulsos, sobre uma mesa exige que pelo menos uma das mãos mantenha as páginas em posição de leitura. Todos os dias leio algumas páginas.
É lendo 2666 que tenho começado os meus dias nos últimos tempos. Ao acordar ponho os óculos, recolho aquele bloco de folhas que mais parece um tijolo e faço um café. Sento-me onde calha e cumpro este ritual passageiro de ler as páginas deslumbrantes de Bolaño.
Quando me perguntam sobre o que é ou de que trata o livro constato, com algum embaraço, que não tenho resposta adequada. Na verdade não sei sobre o que é ou do que trata este livro imenso. Sei apenas que é literatura e descubro com um certo espanto que um livro pode ser "apenas" isso: literatura.
Um dia destes chegarei ao fim da longa viagem através de 2666. Já tenho outro livro em lista de espera; Expiação do meu muito admirado Ian McEwan mas sei que regressarei a Bolaño. É absolutamente necessário regressar a Bolaño.
sexta-feira, outubro 01, 2010
O mundo de cada um é os olhos que tem
Inaugura amanhã, Sábado, dia 2 de Outubro pelas 18 horas, a exposição de Desenho (mais desenho que outra coisa) de Luís Miranda e Rui Silvares, patente ao público na Galeria da Biblioteca Municipal de Palmela até 30 do mesmo mês.
A exposição tem por título genérico "O mundo de cada um é os olhos que tem", frase retirada do incomparável Memorial do Convento. O título foi escolhido não só porque a frase é genial e resume de forma eficaz uma certa perspectiva do fenómeno global da arte contemporânea, mas também porque acaba por constituir uma pequena homenagem ao falecido José Saramago.
Todos os que estão a ler este post podem considerar-se convidados.
Até amanhã.
Todos os que estão a ler este post podem considerar-se convidados.
Até amanhã.
Biblioteca Municipal de Palmela
Largo de São João
2950-204 Palmela
Tel.: 212 336 632
Fax: 212 336 633
Horário:
3.ª feira - 10h30 às 21h00
4.ª feira e Sábado - 14h00 às 19h00
5.ª e 6.ª feira - 10h30 às 19h00
Encerra aos domingos, 2.ªfeiras, 4.ª feiras no período da manhã e feriados.
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