sexta-feira, julho 23, 2010

Uma coisa negra e luminosa


A Origem, (Inception, no original) é um daqueles filmes que têm tudo para se tornarem objectos de culto. Estranho, arrojado, complexo, repleto de acção e cenas inovadoras, capaz de prender o espectador do primeiro ao último minuto.Não será um filme fácil de seguir se não estivermos disponíveis a aceitar o fundamento da trama.

O que me espanta é como Christopher Nolan (que escreveu o argumento e realizou o filme) pôde pensar, sequer, em meter-se em tamanha enormidade. Como foi capaz contar uma história tão confusa sem nunca perder o fio à meada e, ainda por cima, mantendo o espectador dentro dos acontecimentos.

Outro factor surpreendente é tratar-se de uma super-produção hollywoodesca com duas horas e meia de duração, destinada a um público global (a campanha mediática mostra que é uma aposta comercial) e não fazer a mínima concessão ao facilitismo narrativo, antes pelo contrário. Um objecto cinematográfico tão negro e denso como este filme não liga bem com pacotes de pipocas mas é a esse público devorador de pipocas que se destina.

Enfim, A Origem reúne de forma exemplar uma narrativa extraordinária com uma montagem soberba (as cenas de luta enquanto a carrinha vai caindo, caindo, caindo... são absolutamente excepcionais) mostrando a quem quiser ver que cinema comercial não é, obrigatóriamente, uma pastelice aborrecida e pré-formatada, apesar de ser quase sempre pouco mais do que isso.

Há algum tempo que não via um filme tão eficaz e que me absorvesse totalmente como aconteceu com A Origem.

Um aviso que é também um conselho a quem quiser ver este filme: quanto menos souber sobre ele mais completa será a experiência de o ver.

4 comentários:

Anónimo disse...

Anotado! Mas ando muito sem paciência para filmes de 2:30 horas!

Anónimo disse...

e tem Leo na tela.
Os seus textos sobre filmes dá até gosto de ler e querer ver os filmes, com certeza vou ver.
beijão
madoka

luisM disse...

Ainda não vi, mas essa "liberdade" de meios e orçamento não terá muito a ver com o Di Caprio?
Os produtores deixam fazer o filme mais encriptado, mais arrojado, mais "arty" da história do cinema, investindo milhões, se render! Garantes retorno, levas o investimento proporcional... Se o filme for bom para os padrões cinéfilos, óptimo, vai render durante anos, com as reedições e reposições e a "versão do autor" e o aniversário e a homenagem e tal e tal. O negócio é pragmático em Hollywood! Se venderes até podes cuspir na sopa dos donos do estúdio, e, se cuspir na sopa te permitir vender, eles deixam-te esse pequeno prazer.

Ou não será assim?

Mas, lá está, estamos a falar de produto de consumo e não de cinema. Eles tratam de produtos que por acaso podem ser cinema. Tu estarás a falar de cinema que por acaso pode ser negócio.

Borrifa-te nisso e vai ver outra vez!

Silvares disse...

Eduardo, não percebi a duração do filme no local. Até pensei que tivesse sido mais longo. Li no jornal que tem 2,5 horas.
:-)

Madoka, grato pelas suas palavras e, se for ver, diga o que pensou.
:-D

Luis, quando vejo um filme estas questões não se me costumam colocar à partida. Apenas se colocam "à chegada". Quanto ao Di Caprio parece-me evidente a sua escolha. Não iam pôr o Zé da Escada a fazer o filme!
Pois olha, porque não vais ver?