sexta-feira, abril 30, 2010

Colóquio aí na parede, pleeeease...


(na sequência do post anterior)

E se o vírus dos "tags" que infesta as paredes da cidade estiver relacionado com esta ânsia de estar constantemente a registar imagens de nós próprios? Como diz José Gil, e se a necessidade de "inscrevermos" a nossa existência no universo que habitamos nos leva a procurar todas as formas possíveis de darmos notícia de nós próprios?

Camões deixou a frase imortal e perfeita: "E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da Morte libertando", escreveu-a num tempo em que apenas aos heróis era reservado um lugar no edifício complexo do nosso imaginário colectivo. Mas "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades".

O ambiente da cidade, saturado de prédios, saturado de pessoas, de ruído, de lixo, de automóveis, é assombrado pela suprema saturação da informação global. O ambiente virtual, repleto de pequenos lugares mais ou menos visíveis, gera constantemente heróis instântaneos que se libertam não da Lei da Morte mas da Lei do Anonimato Absoluto.

Warohl tinha falado de algo vagamente semelhante a isto quando profetizou que no futuro todos teríamos direito aos nossos 15 minutos de fama. Esse tal futuro é hoje e, como percebemos, coisa não é bem assim mas a metáfora "warohleana" cumpre-se de certa forma a cada momento que passa.

Os "tags" são geralmente mal vistos pelos cidadãos comuns. Sejam eles mais ou menos artísticos, demonstrem mais ou menos capacidade técnica de quem os inscreve nas paredes da cidade, são quase sempre considerados como lixo, meros elementos de poluição visual num universo saturado de todo o género de poluições.

Imagino que para os seus criadores, os "tags" surjam com a maior naturalidade. Qual é o problema de pintar nas paredes? Afinal de contas está-se a criar um pequeno espaço ordenado no meio do caos visual circundante! O artista contribui para o "embelezamento" da cidade (pelo menos na sua óptica) apesar de ninguém lhe ter encomendado a obra. Além disso satisfaz a sua necessidade de se colocar no centro de uma certa narrativa urbana, faz parte de uma espécie de sociedade mitológica das pequenas divindades de lata de spray em punho, divindades com uma capacidade especial para gerar formas coloridas.

Finalmente (até porque este post já se alonga e não teria fim à vista se dissesse tudo o que me falta dizer) importa considerar que toda esta arte de rua, vista deste lado que é o lado de fora, carece de uma reflexão mínima sobre si própria. O "tag" parece-me uma coisa menor, uma masturbação esforçada (pelo individualismo da mensagem, pela falta de conteúdo e pela solidão que implica o acto), algo desinteressante em termos colectivos e vagamente satisfatório mesmo quando encarada sob o ponto de vista de quem o pinta. Mas, admito, posso estar redondamente enganado.


Esta noite, às 21,30, cumpre-se a 2ª sessão do colóquio sobre graffiti organizado pelo Ateliê de Artes da Escola Secundária Anselmo de Andrade. A primeira parte do colóquio teve lugar a 16 de Abril. Hoje como no dia 16, a coisa dá-se no Fórum Romeu Correia em Almada, na sala Pablo Neruda.

quinta-feira, abril 29, 2010

Imagens a metro


Domingo de manhã na loja da FNAC há sempre (ou quase?) uma sessão de contos infantis. Umas senhoras muito simpáticas levam um livrinho e, no pequeno palco repleto de "pufos" coloridos com criancinhas a enfeitar cada um deles, contam uma historinha. Os pais espalham-se pelas mesas do Café FNAC enquanto os infantes fruem a magia do momento. Uma ilha de humanidade no oceano de informação eléctrica que submerge constantemente cada um de nós. Os bébés também.

No final costuma haver lugar a troca de ideias com os espectadoreszinhos (estranha esta palavra! Será que existe? Passa a existir...) que, para acabar a função, fazem uns desenhos ou algo do género. Lindeza!

No Domingo passado calhou estar presente com o jornal e uma chávena de café assentes no tampo da mesa. Durante o desenrolar de toda a cena havia pais com máquinas fotográficas a disparar sobre as cabecinhas dos bébés. Plano picado, plano rasante, americano, grande plano, uma lufa-lufa de clics perante a total indiferença dos fotografados.

Dei por mim com a chávena de café suspensa nas pontas dos dedos e a boca aberta, hesitando entre enfiar um golo goela abaixo e o espanto de constatar que aquelas criancinhas convivem com as máquinas fotográficas com mais naturalidade do que conviveriam com um cão ou com um gato. A máquina fotográfica está, assim, ao nível do animal doméstico.

Os bébés nem sentem os clics, não lhes passam cartão, ser fotografado é menos que nada. As máquinas digitais aligeiraram de tal modo o disparo fotográfico, democratizaram-no tanto que, mesmo para os fotógrafos, o clic parece mais fácil do que nunca. Disparam-se dezenas, centenas (não quero abusar dizendo que se disparam milhares) de fotos em menos que nada. O mundo, já de si uma fonte de imagens, vê-se soterrado em reproduções incessantes de si próprio.

A relação destes cidadãozinhos com a imagem terá de ser substancialmente diferente daquela que os pais deles desenvolveram. Não me parece que o velho álbum de família resista muito mais tempo. Desaparecem definitavamente os fotógrafos que andavam pelas praias ou junto aos monumentos e ficam apenas as fotos automáticas disparadas por um robô escondido quando visitamos um daqueles locais de culto do tipo montanha russa ou museu de cêra.

É o mundo a acomodar-se a si próprio na mudança.

quarta-feira, abril 28, 2010

Próximo do fim


A crise; a bancarrota; o chão enegrecido pelo sangue sêco; uma página a mais; a água; um olho caído; o vôo da gaivota sobre o parque de estacionamento. Páro um momento. O écrã iluminado; trafulhice; o político; a pomba da paz com um colete anti-bala; o carro; a casa; o jornal; o calor... tanto calor! Não me passa nada pela cabeça. Fumo outro cigarro (nunca podemos fumar duas vezes o mesmo cigarro!). Levanto-me e caminho um pouco; escrevo com um pé sobre o outro, como se fosse um flamingo a fingir. Abano ligeiramente a cabeça. Estou cheio de informação, como um ovo cheio... daquilo que enche os ovos. A mulher curvada sobre o carrinho de bébé; a árvore; o cãozito a ladrar quando me viu; as pilhas gastas; os pincéis; a pintura.... o dia de amanhã.

O dia de hoje está próximo do fim.

sábado, abril 24, 2010

Um Profeta


Na 4ª feira passada lá fui ver "Um Profeta", o filme vencedor do Grande Prémio do Júri no ultimo Festival de Cannes. Duro e frio como um muro de granito, conta a história de um rapaz árabe que se faz homem no ambiente pouco prometedor de um prisão francesa.

A fotografia tem uma luz dominante demasiado baça, a acentuar a ausência do brilho dos bons sentimentos que atravessa toda a narrativa.

Malik, a personagem central, não chegou a conquistar-me. Observei-o sempre com um certo afastamento, como (imagino) um cientista observa o comportamento de uma cobaia durante uma experiência de rotina. Levei o filme todo a pensar "onde é que esta merda vai parar?", incapaz de me identificar com quem quer que fosse naquela galeria de cromos atirados para os confins da colecção da espécie humana.

O filme é eficaz. O argumento é convincente e os actores, principalmente Tahar Rahim no papel de Malik, resolvem com excelência a representação das personagens. Falado em francês, árabe e corso (que me pareceu uma mistela de francês com italiano) "Um Profeta", apesar de longo, nunca ameaça enfastiar o espectador. Um filme a ver, não digo que com prazer, mas a ver... com curiosidade. Pelo menos. Muito bom, caraças.

sexta-feira, abril 23, 2010

O Belo


Era apenas uma pequena viagem de automóvel dentro da cidade. Uma daquelas que se fazem quase de olhos fechados, das que nem tempo dão para articular dois pensamentos seguidos ou ouvir qualquer coisinha na rádio. Distraídamente.

O cruzamento, entre uma rua que sobe e desce para quem vai em sentido contrário e que corta uma outra, meio inclinada para um dos hemisférios, lá estava no seu lugar de permanência. Aproximei-me vindo de cá. Do outro lado vinham dois carros. Na passadeira, logo à entada da rua inclinada, dois peões preparavam-se para meter os pés no asfalto zebrado. Eram um rapaz daqueles que agora se parecem todos uns com os outros, de boné branco coberto pelo capuz de um blusão vermelho tipo "gangsta" e uma senhora velhota, meio tombada para o lado do saco de plástico que lhe pendia numa das extremidades. Outro carro se aproximava, vindo da minha esquerda.

Um carro, dois carros, duas pessoas, mais o meu carro, todos os objectos se dirigiam para o mesmo ponto com velocidades variáveis e, tudo indicava, iriam atingi-lo em simultâneo sem um semáforo que lhes intermediasse os movimentos.Desastre?

Não; maravilha!!!

Graças a um conjunto meio difuso de factores (desde a experiência quotidiana dos intervenientes às regras do Código da Estrada) o momento de colisão transformou-se numa situação de rara beleza, em que todos os elementos se cruzaram com suavidade, quase sem pararem. Uns abrandaram graciosamente, outros aligeiraram os passos e, aquele momento em que nos cruzámos uns com os outros, momento decerto único nas nossas existências, foi simplesmeste deslumbrante, tal a fluidez dos movimentos.

Ordem, equilibrio, proporção, alguns dos principais atributos da Beleza tal como a demandavam os clássicos estavam ali presentes. Agora posso afirmar, com uma audácia prima afastada da audácia de Marinetti, "um cruzamento na cidade ao início da tarde é mais belo que a Vitória de Samotrácia".

terça-feira, abril 20, 2010

Um pouco de sol


Está um tempo assim a dar para o mais ou menos, entre o esperado e o que poderia levar ao desespero as almas mais instáveis. Ora chove, ora faz sol, as pessoas, como de costume, queixam-se que "o tempo anda maluco", talvez por não saberem falar de mais nada com tamanha convicção.

Ainda me lembro (se bem que vagamente) de estudar as estações do ano. Andava eu de calções e media menos de um metro e meio de altura.

Eram quatro. Magníficas e imutáveis, perfeitamente caracterizadas em sábias palavras enformadas na mais prosaica experiência de vida: Primavera, Verão, Outono e Inverno. O mundo a fazer sentido, o universo perfeitamente ordenado. Penso que a sucessão metódica das estações que aprendíamos a papaguear com alguma elegância na velha escola primária, servia também para provar a existência de Deus. A coisa vista assim dava Dele a imagem de um cientista com queda para a matemática e possuidor de uma alma de artista, capaz de criar as coisas mais maravilhosas, ainda que bem temperadas de horrores climatéricos inomináveis e outras bizarrias que não vêm agora a propósito.

Mas, naquela época, o mundo era mais pequeno. Melhor dizendo, era um mundo incompleto. Faltavam-lhe satélites a rondar constantemente o globo suspenso no cenário divino e faltava-lhe a INTERNET. Não havia tantos aviões a ligar os continentes e a levar tudo e todos para todo o lado. Era um mundo menos histérico, mais desinteressante, menos consumido.

Podiam morrer centenas de pessoas numa enxurrada no Brasil ou uns milhares num tremor de terra no Chile que um gajo continuava a dormir descansado por não ter maneira de saber nada do que por essas bandas se passava. Deus é que sabia de tudo, os homens não. Não tinham nada a ver com isso. As notícias chegavam como ecos de um passado mais ou menos distante. O terror levava muito mais tempo a ganhar uma forma que assustasse.

Agora não. Agora estamos sempre à espera da grande notícia do dia, a grande catástrofe que pode surgir online a todo o momento. Ele é o vulcão que tapa o céu com um cobertor de cinza ou a falência eminente do estado português. A extinção de mais uma espécie exótica na selva do Bornéu ganha uma familiaridade inesperada, comparável à da morte de uma vizinha velhota.

Mas, não terá sido sempre assim? Não houve sempre vulcões e falências um pouco por todo o lado? Espécies que se descobrem, que morrem ou são esquecidas? O Caos do mundo não existe desde a eternidade?

O problema, o nosso problema, é que agora estamos constantemente ligados ao Caos e não temos cabeça para lidar com isso. Os nossos cérebros simplesmente não têm capacidade para lidar com as torrentes de informação que os submergem. E nós afogamo-nos a cada minuto uma e outra vez, todos os minutos que passam.

Primavera, Verão, Outono, Inverno. Não é preciso ser um cientista para perceber que nem sempre foi assim e que, decerto, em breve irá deixar de o ser. Dêem-me um pouco de sol pela manhã e já poderei ser feliz mesmo debaixo de uma chuvada intensa que venha inundar a parte da tarde.


domingo, abril 18, 2010

Terrorismo vulcânico


Um vulcão com um nome impossível de pronunciar acaba de protagonizar uma autêntica acção terrorista com prejuízos avultados para as economias europeias em geral e para as companhias de aviação em particular.

Foi no sul da Islândia (que é como quem diz: no extremo norte da mítica Europa) que o planeta voltou a vomitar. Desta vez uma tremendíssima nuvem de cinza que ensombra o Velho Continente, a fazer lembrar um espectro de outras épocas, esse despertado pela ira das classes trabalhadoras perante a emergente gula do monstro capitalista... mas isso é outra história pois vem nas páginas dos livros de História. Não foi fenómeno natural apesar de ter sido resultado de um muito compreensível reflexo animal.

Ainda aqui há uns meses atrás a Islândia tinha deixado o mundo de queixo caído por termos visto a sua Economia, essa adulada deusa contemporânea, a mostrar um corpo disforme e frágil, repleto de chagas e pústulas fedorentas, quando as célebres agências de rating nos asseguravam tratar-se de uma moçoila formosa, de rijas tranças loiras e rosadas carnes firmes fosse nos pés ou fosse na cabeça. Uma coisa boa e confiável. Mera ilusão de óptica e cegueira capitalista, como se veio a perceber.

Desta vez a gelada Islândia vomitou com desprezo para os céus uma muito compreensível nuvem de indignação, a mostrar que o planeta se está a cagar para os bichitos saltitantes que puluam no seu dorso. A cinza cuspida pelo Eiafialaiocul (a grafia é minha para tentar uma coisa que se leia) faz temer prejuízos mais avultados para as companhias aéreas do que os provocados pelo famigerado atentado de 11 de Setembro contra as torres gémeas de Nova Iorque. As imagens que mostram milhares de pessoas espalhadas pelos aeroportos de todo o mundo, reféns da cinza voadora, lembram-nos como é frágil a organização cronometrada da economia mundial.

Fala-se do célebre Efeito Borboleta, embora neste caso se trate de um Efeito Vulcão, e de como um acontecimento localizado pode provocar ondas de choque tremendas um pouco por todo o lado.

Ninguém escapa aos reflexos do fenómeno natural. Seja o turista acidental ou o chefe de estado em passeio oficial, todos são afectados e, de súbito, vêem-se obrigados a pôr os pés no chão já que os céus ficaram intransitáveis. Regressamos a um mundo mais terra-a-terra, literalmente, e aquela doce vertigem da deslocação em velocidade sobre-humana que os aviões nos oferecem a preços de saldo, foi reduzida a uma marcha lenta nos costados terrestres do planeta em automóvel ou comboio, muito mais dispendiosa e limitativa.

Aqui há uns anos valentes Stanislaw Lem imaginou um mundo em que todos os computadores tinham crashado definitivamente, atirando a humanidade de regresso a um estado pré-histórico que provocaria, em última análise, a sua própria extinção e escreveu um contozinho (de que não recordo o título) a ilustrar tão apocalíptica visão.

Esta vulcânica situação, provocado por uma acção de terrorismo natural, mostra-nos como é etéreo e perecível o nosso modo de vida, como ainda estamos longe de conseguir dominar e orientar os destinos da Natureza em proveito próprio. Não estamos longe, é absolutamente impossível!

Na verdade, a realidade contemporânea e pós-moderna não passa de uma ilusão.

sexta-feira, abril 16, 2010

Comentários


Este post traz para a frente do blogue o conjunto de comentários a este outro, do dia 14 do corrente. A troca de ideias é uma coisa maravilhosa.


Eduardo P.L disse...
Mais uma vez: Esta faltando indignação, e quanto ação..., só agem os INDIGNADOS!INDIGNAI-VOS
11:55 AM
Eduardo P.L disse...
Seu post, por oportuno, foi para o Ladinho do Varal de hoje!Abçs
12:00 PM
Caçador disse...
O que vale é que temos um Plano de Estabilidade ou lá que merda é aquilo, e por isso ainda há fé.
1:09 PM
Tiago Alves disse...
Vi este cometário no YouTube, num dos vídeos relacionados com o da deputada e penso que se adequa ao post:" Hoje não é o estado que trabalha para o povo. O povo é que trabalha para o estado. Roubaram o que é nosso. "Será que é mesmo isto que anda a acontecer ? Será que andamos a trabalhar para Partidos, Estado ou até mesmo em nome de uma coisa que se chama "democracia" ?Lucro, lucro, lucro. Contas no fim do mês e PEC's para entreter. Números que ninguém percebe muito bem o que significam, vozes partidárias contra e a favor, a confusão chega a ser tal que acabamos por não querer saber. Deixa andar.E soluções ?Haverá melhor sistema que a democracia ? Mas aquela democracia a sério, não é esta dos partidos, políticos, analistas e libertinagem mascarada de liberdade de impressa que depois é censurada.Aquela a sério, aquela do "demo + kratos".
4:31 PM
Beto Canales disse...
A democracia é o pior sistema de governo que existe, exceto todos os outros
5:20 PM
Lina Faria disse...
Que roubaram nosso Estado de Direito se sabe.Também é facil falar em indignação e nada fazer vivendo em seus mundinhos elitistas.A Cidinha é ótima. Sempre foi e sempre soube do porque foi eleita.Acabo de discutir com um taxista sobre o direito humano. Como explicar que o carro está para servir o homem, por exemplo, e não o contrário?Que o objetivo do Estado é o homem, não ao contrário?Penso que a questão está, não no dna mas na formação de caráter, sim.Imagem instigante a ilustrar!
9:39 PM
Rui Sousa disse...
Rui, eu acho que há pessoas que criam ilusões e depois desiludem-se. Nunca ouvi ninguém dizer que a democracia era um poço de virtudes, antes pelo contrário, houve até quem dissesse que era o pior dos sistemas com excepção de todos os outros. As expectativas que cada um cria têm que ser geridas pelo próprio. A democracia é isto mesmo que nós temos, com todos os defeitos e virtudes, temos é que saber jogar o seu jogo. As regras são claras, todos nós sabemos como isto funciona… e é assim em todos os países, todos eles têm os mesmo problemas que nós temos aqui, só que há países que são mais ricos que outros e por isso quando o estado é fraco o país não se ressente tanto como em Portugal, porque a economia e a justiça continuam a funcionar ( vejam o caso da Itália ). Lembremo-nos que no inicio a democracia ( na Grécia ) até compreendia a existência de escravos e só uma elite participava ( nesse aspecto até evoluímos ). O problema é que hoje criamos uma classe média enorme na Europa e essa classe média tem a fasquia elevada. Como é que se sustenta uma sociedade assim? O mundo não aguenta. Basta dizer que na teoria somos todos contra a pobreza mas se algum dia a China ou a Índia tiverem ¼ da população a viver com se vive na Europa o mundo rebenta logo ( e se tiverem liberdade de expressão e puderem fazer greves, então ainda rebenta mais cedo do que pensamos )……. Mas que a Cidinha foi um verdadeiro “ show de bola “ como se diz no Brasil, lá isso foi. Venham mais como esse.
9:50 AM
Eduardo P.L disse...
Rui,vou ignorar o comentário dessa "senhora" que teima em me desafiar!INDIGNAI-VOS SIM! Estejam em que "mundinhos" estiverem.
1:07 PM
Silvares disse...
Eduardo, grato pela atenção. Estejamos em que mundinho estivermos, em volta haverá sempre o grande mundão que nos permite a tal indignação. Rimou!

Caçador, não há plano que nos valha enquanto a macacada andar à solta nesta selva.

Tiago, a democracia a sério ainda tem de ser inventada e só se poderá inventar se trabalharmos por ela. Diáriamente.

Beto, essa aí foi de Mr. Churchill, estou em crer. O facto de ser o melhor não significa que não tenha de ser melhorado! É que, sendo o melhor, ainda se parece demasiado com um monte de merda!

Rui, a democracia é uma espécie de "work in progress" e este "progress" não tem de significar, obrigatoriamente, consumo desenfreado. Na palavra democracia interessa-me particularmente o "demo".:-)
Lina, transformar o DNA social é um trabalho quase impossível. Quase, não totalmente.

É amanhã


Graffiti, colóquios 16 de Abril e 30 de Abril de 2010,

sextas-feiras, às 21,30,

Fórum Romeu Correia em Almada,

sala Pablo Neruda.

A primeira sessão será apresentada por Luís Miranda e Rui Silvares, a partir dos exemplos de J. Michel Basquiat, Keith Haring e Banksy e da sua utilização dos espaços públicos como suporte e cenário para o seu trabalho. Nesta sessão discutir-se-á o aspecto de intervenção e de "arte pública" que o graffiti pode ter e as suas possíveis ligações com o campo da arte.

Na segunda sessão discutir-se-ão os aspectos de arte emergente, arte marginal, alternativa aos centros institucionais que "controlam e definem" a actualidade e a pertinência dos percursos artísticos, ou a possibilidade do graffiti se referir fundamentalmente a uma tentativa de afirmação de grupos urbanos, sem intencionalidade ou conceito estético, produzindo poluição visual e descaracterização de espaços. Nesta sessão os graffiters serão convidados a mostrar os seus exemplos de trabalho e a apresentar as suas ideias e propósitos de trabalho.

Organização Ateliê de Artes da Anselmo e F4.

Apoio CM de Almada.

quarta-feira, abril 14, 2010

Cadáver anunciado

clica na imagem (pintura de Banksy)

(na sequência do post anterior)

Assistimos um pouco por todo o planeta a uma crescente desilusão dos cidadãos perante as instituições democráticas que eles próprios elegem. Os parlamentos estão repletos de personagens pouco recomendáveis. O poder económico dita a sua lei e a corrupção ganha mil faces diferentes. As questões de solidadriedade social são frequentemente atiradas para um plano secundário, esvaziando de sentido o sistema democrático. A ditadura dos interesses económicos não é saudável nem para a sociedade nem para o planeta. Tudo morre e seca em redor das chamadas democracias capitalistas.

Perante este panorama cinzento e mal cheiroso os cidadãos sentem uma impotência cada vez mais raivosa que poderá transformar-se em revolta. Durante quanto tempo conseguirá o poder continuar a manter as classes médias em condições de suportar o actual estado das coisas? É como se alguém tivesse armado uma bomba relógio que já está em contagem decrescente para a grande explosão. Resta saber quando vai explodir e arrasar a democracia tal como agora a conhecemos (ou imaginamos que ela é).

Estaremos nós a assistir ao retrocesso da democracia? Está a democracia doente e a definhar sem que exista cura possível para a sua maleita? É como se a democracia tivesse contraído um cancro que a está a roer por dentro. Ainda estamos longe de inventar uma cura para tão tenebroso mal. Muito longe mesmo. Não sei se vamos a tempo de recuperar este cadáver anunciado.

terça-feira, abril 13, 2010

Viva a liberdade de expressão!



O meu peito enche-se de um estranho ar puro quando ouço estas palavras de Cidinha Campos. O mês de Abril em Portugal é cheio de significados políticos. Dentro de dias comemoramos o 36º aniversário da Revolução que nos criou expectativas enormes em relação à possibilidade de uma sociedade democrática. Expectativas essas que, a cada ano que passa, vão esmorecendo até restar apenas uma caricatura da esperança que tivemos. Então surgiu esta senhora, surgiram estas palavras, esta paixão, este arrebatamento, esta beleza quase selvagem e, da primeira vez que ouvi, as lágrimas chegaram-me aos olhos. Não sei quem é esta senhora, estou longe de compreender a política brasileira. Mas não é preciso mais nada. Basta ver e ouvir Cidinha para sentir a chama que se reacende. A paixão pela vida e pela liberdade de expressão encontram aqui um momento bem alto. Viva Cidinha!

sábado, abril 10, 2010

Uma aventura no mundo perdido


O centro comercial continua a surpreender-me constantemente. De cada vez que me desloco a esta Babilónia sensorial dou por mim meio perdido a olhar para o ar (espero que de boca fechada). Hoje, mal saí das escadas rolantes que me içaram desde as catacumbas do estacionamento automóvel até ao primeiro piso de lojas, dei de caras com um écrã em fundo, colocado junto ao tecto da entrada para a FNAC.

Não sou capaz de recordar que imagens dançavam dentro daquele rectângulo luminoso, fixei apenas movimento e cor. Em simultâneo senti a música ambiente que preenchia todos os espaços vazios da imensa galeria comercial, saída de secretas fontes que jorram incessantemente. Imagem e som constantes, sem destinatário específico, presenças absolutas nos sentidos dos transeuntes que, como gado tecnológico, nos deslocamos ao longo daqueles prados onde crescem bens de consumo que pastamos indolentemente.

Estamos convencidos que a produção e difusão de imagens é dirigida a públicos-alvo específicos e bem determinados mas este tipo de comunicação indiferenciada põe em causa este pressuposto. Além de representar um consumo de energia continuado, este género de comunicação não se adequa exactamente às pessoas que o recebem. Tal como não recordo as imagens no écrã, sou incapaz de dizer que tipo de música ecoava por ali. Era apenas ruído. Ruído visual e sonoro. Lixo.

Vivemos uma sociedade de consumo absoluta. E produzimos megatoneladas de lixo. São as garrafas e todo o tipo embalagens de plástico, os jornais e revistas, as pilhas, os restos de comida e as imagens e os sons que deitamos constantemente para o espaço em volta dos nossos corpos. É como se tivéssemos uma necessidade insana de preencher todo o espaço numa atitude de horror ao vazio. Eliminamos metódicamente a linha do horizonte, recortando-a em milhentas imagens sobrepostas.

Somos como fantasmas vogando numa imensidão caótica formada por todo o género de detritos que nos empapam o cérebro e nos vão retirando a possibilidade de sermos aquilo que éramos e nos transformam numa coisa que somos mas não sabemos bem o que seja!

quinta-feira, abril 08, 2010

Obra prima


Finalmente vi "O Laço Branco", um excelente filme sem qualquer sombra de dúvida. É tudo tão bem feito que não há nada que eu possa acrescentar às críticas elogiosas que tem merecido. Há, no entanto, um pormenor que me deixou a pensar. As crianças actuam de uma forma absolutamente assombrosa. Percebe-se que foram superiormente dirigidas. Que histórias lhes terão contado para que elas tivessem atingido os níveis de representação que nos deixam de boca aberta quando vemos as suas cenas?

A capacidade de representação das crianças é espantosa. Como se encontram a meio caminho entre a brincadeira de faz-de-conta e o faz-de-conta da vida adulta, são capazes de coisas extraordinárias. Em "O Laço Branco" há momentos para lá do comovente. Não apenas nas cenas interpretadas pelas crianças, é verdade, os actores adultos também conseguem superar o muito bom. Mas, como comentava um amigo meu durante o intervalo, onde foram buscar um grupo de miúdos tão bom? O realizador (a direcção de actores é também de Michael Haneke?) é um autêntico mestre!

Seis estrelas em cinco possíveis!

segunda-feira, abril 05, 2010

Férias são férias!


Após uns diazinhos do mais completo descanso passados lá mais para norte, entre montanhas e com uma Primavera pouco calorosa, regresso ao remanso do lar para completar estas férias que tão bem têm soado aos meus ouvidos.

Leitura e filmes, pouco mais me tem preenchido as horas, e conversas intermináveis sobre as coisas que acontecem ou aconteceram ou poderão vir a acontecer, conversas enroladas e pachorrentas com aquelas pessoas de quem gosto mais do que das outras pessoas todas juntas. Antes de ter viajado vi "Visto do Céu", título português para o filme "The Lovely Bones" do realizador neo-zelandês, Peter Jackson, aplaudido pela triologia de "O Senhor dos Anéis" (de que também revi a primeira parte e um pedaço da segunda, em DVD).

Trata-se de um filme que me pareceu curto para tanta história. Fiquei com a sensação que Jackson não consegue encaixar uma narrativa fluente e equlibrada no tempo "normal" de um filme de longa metragem. Talvez precisasse de outra triologia para conseguir expor todas as personagens com a eficácia merecida e deixar correr a história de forma perfeitamente consequente. Há ali apontamentos de grande vigor que acabam por se diluir em quase nada (a personagem da avó interpretada por Susan Sarandon, por exemplo) num filme que tenta equilibrar o negrume de um certo horror com o brilho luminoso da possibilidade de redenção de uma vida após a morte tenebrosa.

As cenas passadas no Além resvalam perigosamente em direcção ao poster mais kitsch que se possa encontrar na parede do quarto de uma adolescente mimada. Algumas dessas cenas são mesmo de um tremendo mau gosto (digo eu) e divergem estranhamente da maioria dos planos e sequências passadas no "mundo real" que mostram um Jackson bem mais capaz e com um olhar interessante sobre aquilo que connosco partilha no écrã.

Enfim, um filme razoável, em tons predominantemente angustiantes, com fortes probabilidades de marcar um público adolescente mas que acaba por enfastiar um adulto menos receptivo a fotografias tipo "pôr-do-sol-com-palmeiras-e-mar-plano" como é o meu caso.

Vi mais filmes (uns melhores, outros nem por isso) mas guardo a conversa para amanhã que esta aqui já vai um pouco longa de mais.