segunda-feira, janeiro 07, 2008

Lá vai outro


O escritor e crítico literário Luiz Pacheco, que faleceu sábado, no Montijo, vai ser cremado terça-feira, pelas 19:00, no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, disse hoje à Lusa fonte próxima da família.

Outubro, 15. Noite em Vieira do Minho friorenta e agitada por pesadelos, incongruências, palpitações. Já de madrugada, O Mensageiro das Trevas aparece-me na cama, agarra-me quase ao colo com os seus dedos de aço nos braços e diz-me baixo, numa voz irónica mas simpática (ou cínica e trocista?): "Ontem (referência, parece, a um sonho meu da véspera, em que me surgira A Morte, com a sua caveira comum, de dentuça à mostra, cara desgraçada!), ontem viste-me com a minha triste cara verdadeira, hoje venho alegre (a face dele era uma máscara apalhaçada, coberta de giz) mas é para te dar uma má notícia, coitado:
AMANHÃ MESMO MORRERÁS!
Acordo aos estremeções, aflito, com uma consciência muito nítida do encontro, e começo por fazer figas debaixo da roupa ao Intruso, mas depois, cheio duma superstição infantil (que me ficou da criança que fui, entenda-se), faço o sinal-da-cruz. E para não tirar as mãos debaixo do quente das mantas, engrolo gestos e palavras mesmo sobre o peito, à matroca, como um aprendiz de catequese faria. Sossego mais. Começo a pensar como morrerei. Desastre? colapso? ou loucura súbita e logo suicida? Adormeço nisto.


Excerto de "O Libertino passeia por Braga, a idolátrica, o seu esplendor" texto completo em http://www.triplov.com/luiz_pacheco/


Afinal de contas Luiz Pacheco morreu sossegado, de morte macaca, na paz de um quase esquecimento apenas agitado por um ou outro aprendiz de feiticeiro interessado em aproximar-se do xaman maior de coisa nenhuma. Fica bem, ó Luiz, que um gajo por cá vai continuar a fumar umas cigarradas e a emborcar uns copos valentes quando der para isso. Pode até acontecer que, de vez em quando, um gajo se lembre de ti e diga uma ou outra fila-da-putice bem apanhada. Como tem de ser.

4 comentários:

Anónimo disse...

Todos vamos morrer um dia!
Gostei do seu texto.
Que ele fique em paz!

Abçs

Luiz Santilli Jr disse...

A "morte" é a coisa mais democrática do universo: todos terão a sua!

Silvares disse...

Este Luiz Pacheco foi um escritor mais que maldito. Uma personagem incrível e de uma incorrecção política absoluta. Agora que morreu é elevado à categoria de santo incompreendido. O costume.

Jo-zéi F. disse...

Abençoado Luiz Pacheco, Grande Escritor e Rebelde Sempre.