sexta-feira, março 03, 2006

Duas coisas


Primeira coisa: vi hoje (quantas vezes já vi eu esta merda?) um manifestante muçulmano na Índia dizendo que não queria Bush no seu país. Ele (o manifestante) e os seus amigos (outros como ele) são avessos à presença do Presidente americano porque é responsável pela morte de muitos muçulmanos. Grande novidade! A conversa do tal manifestante mais a responsabilidade do tal presidente nas tais mortes.
Gostava de ouvir a opinião do dito indiano relativamente à morte de muçulmanos no Iraque ás mãos de outros muçulmanos.

O repórter terá colocado esta questão ao afogueado manifestante? Decerto que ele estará tão indignado com a carnificina terrorista quanto eu ou o meu caro leitor. Mas ficamos na dúvida, na ignorância, ficamos apeados na distância que nos separa culturalmente e naquela que os meios de comunicação social vão cavando implacavelmente. O ódio (podemos falar de ódio?) que nutrimos uns pelos outros é alimentado da ignorância em que vivemos.

"O sono da razão engendra monstros" reza a gravura do imortal Goya. Pois engendra. Somos nós, adormecidos, com a pança cheia de coisa nenhuma.

Segunda coisa: Vejo-me e desejo-me para explicar aos meus alunos de História da Cultura e das Artes, 11º ano de escolaridade (por enquanto ainda não-obrigatória) conceitos básicos relacionados com o Cristianismo. A cagar e a tossir lá vamos avançando, como bois a lavrar terra com arado de madeira.

Entretanto (o programa da disciplina é longo e implacável) abordamos o capítulo relativo à "Europa sob o signo de Alá". A estranheza é semelhante. Os meus alunos estão mais ou menos a cagar-se para o assunto. E a tossir também.

É tudo a mesma coisa. Ignorância e indiferença. Os meus parcos conhecimentos sobre tão complexos períodos históricos revelam-se impotentes para despertar a curiosidade e alimentar o tão desejado espírito crítico que deveria germinar nas mentes da catraiada.

Nós consumimos. Os árabes são consumidos.

Entre uns e outros a caricatura de Deus.

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