quarta-feira, janeiro 15, 2025

Apocalipse Chunga

     É estranho. Os cidadãos do chamado Mundo Ocidental parecem viver num acentuado estado de zombificação. O modo como vêm aceitando e escolhendo líderes medíocres (sendo benevolente na avaliação e contido na escolha da palavra) deixa-me estupefacto. O nivelamento do pensamento pelo zero é uma opção inesperada. Será isto resultado da massificação absoluta da informação?

    Talvez a tendência tenha sido sempre esta, talvez que Musks, Trumps, Zuckerbergs e outras merdas do género tenham estado sempre no subconsciente das massas, adormecidos, à espera que os piores receios de Deus pudessem enfim encarnar, iniciando a sua caminhada sobre a Terra. Eles aí estão.

    São os Cavaleiros do Apocalipse Chunga, com eles assistimos ao início da derradeira etapa desta civilização em direcção ao Abismo. O que aconteceu a grandes civilizações do passado? Como desapareceram da face da Terra quase sem deixar rasto? Tiveram também os seus Musks e Trumps e Putins a conduzi-las como o Flautista levando ratazanas e crianças em direcção ao precipício? Imagino que assim tenha sido.

segunda-feira, janeiro 13, 2025

Ser como a lesma

     Tenho uma ideia nova. Esqueço-a. Não sei bem se a perdi pois que dela guardo apenas uma vaga recordação. Vá-se lá saber! Talvez não tenha perdido grande coisa. Na verdade nem sei bem se não terei ganho algo. Por vezes tenho ideias que me parecem muito boas e, mais tarde, envergonho-me, não sei se de as ter tido se de as ter imaginado como algo que fizesse sentido. É assim que na minha cabeça se define mais ou menos o conceito de embaraço. Perdi uma ideia, não sei se estou embaraçado ou haveria de vir a está-lo. Assim fiquei. Tudo na mesma. Como a lesma.

sábado, janeiro 11, 2025

Fartura

     Suportar o tédio é um exercício complexo. No início podes até sorrir, menear a cabeça com leveza, tamborilar com os dedos o tampo da mesinha mas, à medida que o tempo vai passando, a bonomia transforma-se em aborrecimento doloroso, não tarda vai já em  modo de agressividade eléctrica. E assomam aos teus lábios palavras proibidas.

    Mas que porra!? Esta gente não se enxerga? Terão consciência das enormidades que arrastam atrás das ideias que tentam expor? Procuram manter os pezinhos bem assentes no vazio que os sustenta mas sente-se-lhes a insegurança como se fosse sala atapetada a pão-de-ló. Na dúvida resolvem preencher o tempo com palavreado sem sentido. Que chatice!

    Estou farto disto.

quinta-feira, janeiro 09, 2025

Os porcos e as vacas

    Sangue, dor e sofrimento, eis a perfeita trilogia da essência da notícia. Notícia que é notícia não prescinde do tom apocalíptico transmitido em directo do local (o diferido também é aceitável mas perde algum impacto) com repórter enquadrado no palco (ou parte dele) onde a ocorrência acontece(u). 

    Guerras, desastres (naturais ou de outra índole), aberrações, conspirações, coisas extraordinariamente estapafúrdias que possam ser servidas em pequenas doses (3 minutos é longa-metragem), constituem a base do sistema informativo que engolimos como porcos e regurgitamos como vacas. Diariamente, 24 sobre 24 horas.

    

terça-feira, janeiro 07, 2025

Ser quadrado

     Vivemos uma vida inteira apontando o nariz a rectângulos de dimensões variadas. Portas, janelas, telas, ecrãs, folhas de papel e páginas de livros; os quatro lados do rectângulo enquadram a informação que recebemos.

    Será por isso que estamos a ficar tendencialmente quadrados individual e, sobretudo, colectivamente? Sim, o quadrado é, como sabes, um rectângulo particular por ter os lados todos iguais. Transformamo-nos naquilo que olhamos?

terça-feira, dezembro 31, 2024

2024 ao fundo

     O pior cego é o que não quer ver, o mais ignorante o que não quer aprender. É a pescadinha com o rabo na boca, o cão que persegue a cauda a mordiscar na atmosfera, o imbecil que continua a julgar-se um grande cromo. Somos nós.

    Tentamos novas soluções apoiados em velhas ideias, repetimos os erros convictamente, seremos assim até à dissolução do ser, pouco mais poderemos projectar que não esbarre na parede inevitável. Mas, no entanto, poderia não ser exactamente assim. Poderíamos errar com panache, poderíamos ter orgulho por, pelo menos, tentarmos ser criativos. Mas não. Somos tugas, erramos como sempre e temos ódio a quem nos aponte uma possibilidade diferente para o exercício da nossa atávica estupidez.

    O ano acaba hoje. Amanhã seremos os mesmos de sempre. Tudo bem, cá andaremos com a cabeça entre as orelhas.

domingo, dezembro 29, 2024

O que Deus quiser

     Não sei se acontece contigo, estimado leitor, mas há dias em que me sinto um pouco cansado, um tanto murcho, como planta a quem a água seja desviada da raiz. Não percebo porquê, de onde vem esta canseira, mas também não procuro compreender. Deixo andar, a coisa que se arraste.

    E vem o dia seguinte e vem o dia de amanhã e... nada. Sempre esta secura, esta falta de vontade que me impede de erguer o olhar, os olhos sempre a fitar o muro, muro cinzento e sem graça. Não sei se te acontece também a ti, não acontecendo é mais complicado explicar.

    A verdade é que também não me apetece ir mais além do que já fui, este lugar serve muito bem para te dizer adeus. Faço o esforço de erguer o braço, dedos esticados, aceno. Adeus ou até à vista; seja o que Deus quiser.