segunda-feira, dezembro 04, 2023

Garrafas nas ondas

     Com o Tempo a passar-me por cima da cabeça (de mãos dadas com as nuvens) olho o horizonte. Uma linha perfeitamente recta separa o céu do mar que lhe reflecte a cor, fazendo com que a translucidez solidifique, cinzenta. Não há barcos nem navios nem baleias nem golfinhos. Apenas aquela imensidão abruptamente interrompida pelo limite do que a vista alcança.

    Deixo vogar as ideias, garrafas atiradas às ondas com secretas mensagens de amor, de desespero, mensagens que são sonhos, outras pesadelos. Ali fico a vê-las que se afastam levadas pela força do mar. Imagino-as a vogar mar alto adentro, perdidas, para os confins do mundo. Irão elas juntar-se ao Sétimo Continente?

    Assim é. Sentado na areia húmida imagino-me diferente do que sou mas não consigo retirar esse outro eu deste mundo sujo. Olho distraído as ondas que desenham rendas de frol a dois metros dos meus pés. É o mundo a hipnotizar o que aqui está sentado na esperança de libertar o outro que nem ele nem eu sabemos se existe realmente.

    É claro que não! É claro que sim! É evidente, talvez.

Sem comentários: