quinta-feira, junho 08, 2023

Goodbye Maria Ivone

     Ao que tudo indica a China será, num futuro não tão distante quanto isso, o novo farol da Humanidade em substituição do já gasto e confuso farol norte-americano. É, mais ou menos, a ordem natural das coisas. O império americano estafou-se. Goodbye Maria Ivone.

    Esta aparente inevitabilidade deixa muitos de nós, ocidentais, a torcer as mãozinhas e o nariz em simultâneo (eu, por exemplo, torço mais o nariz e menos as mãozinhas): então o que vai ser dos Direitos Humanos? Onde vai parar o Estado Social? O que vai acontecer à Liberdade de Expressão? Talvez estas questões sejam mais inquietantes para os europeus do que para os americanos ou, bem vistas as coisas, dentro de algum tempo talvez a maioria dos cidadãos nem se preocupe muito com tais direitos...

    Vamos por partes. Quanto aos Direitos Humanos tanto os américas como os europeus preocupam-se sobretudo com os seus próprios, quero dizer, os Direitos Humanos dos outros são normalmente questões relativas. Veja-se, por exemplo, a preocupação com a situação dos migrantes que vão alimentando os cardumes do Mediterrâneo ou com os outros que batem de chofre no muro da fronteira mexicana. Batemos muito no peito mas não é por isso que deixamos de beber a nossa cervejola enquanto comentamos o último naufrágio com um prato de caracóis. Liberdade de Expressão? talvez este seja o último anel que resta do tesouro que nos foi prometido com o regime democrático. Já o Estado Social é coisa que nos EUA não se percebe o que seja e é visto como uma perigosa manigância de regimes comunistas. 

    Mas, pensemos um nadinha, tanto os europeus como os américas têm manifestado vontades políticas muito pouco higiénicas sempre que têm sido chamados a votar. De Trump a Meloni, de Meloni a Le Pen, de Le Pen a todos aqueles políticos obscuros dos quais não sei o nome mas que se vão chegando ao poder um pouco por todo o continente europeu, a ascensão fascista parece uma pandemia descontrolada. Então qual o problema de um mundo dominado pela China? Pois é. Vou pensar nisso. Agora calo-me que o post já vai comprido.

2 comentários:

rui sousa disse...

Respondendo à pergunta "Então qual o problema de um mundo dominado pela China?".
Posso dar a minha opinião: irei sempre preferir viver num mundo com defeitos ( o nosso ) do que nos chamados mundos "perfeitos", os mundos das chamadas utopias. Fujo deles a sete pés. O bom do chamado mundo Ocidental é que não engana ninguém. É o pior dos sistemas , etc., etc., como dizia Churchil. Não promete o paraíso. Basta ver no que a China se tornou e no que anda a fazer pelo mundo, sobretudo em África e quem quiser que tire as suas conclusões. Quem gosta de liberdade nunca irá viver conformado se não a tiver ... e em último caso dá a vida por ela. A China nunca será nenhum farol porque um país sem liberdade não ilumina coisa nenhuma. É o que eu acho.
Os EUA são aquilo que todos sabemos. Eles não escondem nada. Fazem filmes, escrevem livros sobre as misérias e as virtudes daquela sociedade. Mas foram e são um farol para o mundo, não pelo exemplo de justiça social que apresentam mas pelo laboratório de ideias e de pensamento livre que sempre foram.
Os sistemas são todos a mesma merda. Usam as pessoas e no fim dão-lhes um pontapé no rabo. Mas nuns podemos gritar e falar, noutros comemos e calamos. É mais ou menos isto que eu acho.
De resto é-me indiferente que existam pessoas que gostem de regimes totalitários. Acho só que se estão a enganar a elas próprias. Mas até isso é um direito que assiste às pessoas. Um abraço.

Silvares disse...

Concordo contigo (quase) absolutamente. A minha questão prende-se com uma nítida inclinação fascizante de certas populações iluminadas pelo actual farol. Estarão os "ocidentais" assim tão preocupados com a liberdade (de circulação, de expressão, religiosa, de associação...)? A percentagem dos inimigos da liberdade nas suas várias facetas vai aumentando. Bem como a dos indiferentes. Daí a questão sobre qual o problema de um mundo dominado pela China... estou a pensar nisso! ;) Abraço.