sexta-feira, junho 30, 2023

Emojis

     Releio o post anterior e penso "ás vezes dá-me práquilo". Acontece. A coisa não é de particular responsabilidade. Isto é só o 100 Cabeças, um blogue perdido numa ruela sombria da Zumbisfera, que mal poderá vir ao mundo quando um gajo como eu escreve uma coisa como aquela? (emoji sorridente)

    Não sei se tens a mesma necessidade, acalorado leitor, mas eu preciso de esparvoar com alguma regularidade e frequência. Como sou um gajo contido prefiro esparvoar por estas bandas, em ambiente privado. (emoji a rir com a boca aberta)

    Parece-me necessário ter, de vez em quando, atitudes mais ou menos inesperadas, fazer uma ou outra cena um pouco mais marada. Mas como sou um gajo endireitado pela vida, estas loucuras de pacotilha podem resultar em cenas bem foleiras. (emoji com uma linha recta por boca)

    Atalhando na conversa que vai torta: eu sei que não sou ninguém mas, no entanto, estou aqui. (emoji com expressão dramática)

    Este final foi um bocado aparvalhado, não foi? (emoji que não sabe o que responder sem ofender o interlocutor)

quarta-feira, junho 28, 2023

Poema indolente

     Há tanta coisa a ver, a ter, a não perder,,, roda-me a cabeça.

    (rima fácil) 

    Tanta coisa a desejar, a explorar, o mundo todo para viajar... deus meu, nem sei para onde me virar, serei um bronco completo caso não seja capaz de aproveitar.

    Dizem-me que cada crise é afinal uma oportunidade, cada vez que ouço "não" estou, na verdade, perante uma sugestão de superação. Se perseverar haverei de lá chegar. O segredo é não desistir, ser positivo, acreditar!

    Mas sinto que sou um bocado lento, tenho por hábito pensar e dou por mim a dizer: ide-vos mas é foder, eu quero é descansar.

domingo, junho 25, 2023

Era tão fixe que o mundo fosse fixe!

     Era tão fixe que as coisas do mundo se desenrolassem de acordo com aquilo que nos parece ser mais correcto e mais justo. Era tão fixe que existisse, de facto, um Deus capaz de amar a Humanidade e de influenciar os seus caminhos e horizontes temporais. Era tão fixe que fosse assim: que houvesse justiça, que vislumbrássemos uma nesga de esperança, um plano a longo prazo bem delineado, iluminado por uma centelha divina. Era tão fixe.

    Se fosse assim, aquela marcha sobre Moscovo ontem iniciada não se teria diluído à medida que comia a distância e ia assustando o pequeno Putin. Que palhaçada! Oh, como teria sido um momento de justiça poética que o pequeno homem tivesse sido abafado por um mero cozinheiro, um merdas tão merdas quanto ele. Mas, no entanto..

    ... no entanto ninguém sabe o que poderia acontecer logo a seguir. Não temos bem a noção da cáfila sanguinária (eu sei que a imagem é um tanto surreal) que se perfila para tomar a cadeira de Putin. Um camelo apeado, logo substituído por um camelo maior e mais sedento de maldade não é cenário agradável. Daí que seja avisado termos alguma cautela com os pedidos que fazemos ao génio enquanto lhe esfregamos a lâmpada.

    Concluo manifestando uma vez mais a minha perplexidade com a extraordinária ausência de qualidades humanas que normalmente caracterizam os "grandes" deste mundo.

sexta-feira, junho 23, 2023

Exercício de sobrevivência

     Não saber o que fazer, eis algo verdadeiramente angustiante mas com um pequeno leque de soluções estupidamente simples. 

    Solução nº1: não fazer nada, aceitar a paralisia sensorial; solução nº2: pegar num livro e olhá-lo, se for caso disso o livro responde e temos o problema resolvido; solução nº3: ligar a televisão segurando o comando à distância com indolência e ir carregando nos botões, provável efeito hipnótico e esvaziamento do cérebro garantido; solução nº4: ligar  o computador; solução nº5: colocar um suporte em branco no cavalete começando a colar-lhe coisas, a riscar, deixar o mundo entrar em nós.

    Se as propostas de solução anteriormente apresentadas não surtirem efeito experimenta outras. Alguma coisa haverá de acontecer. A verdade é que "não saber o que fazer", longe de ser o fim da linha, é o princípio de algo, eventualmente uma grande aventura. O segredo é não haver grande segredo.

    Assim sendo vou experimentar a solução nº5 do segundo parágrafo.

    Até breve.

quinta-feira, junho 22, 2023

O carnaval sim, são 3 dias

     E os dias vão passando, serenos, quase agradáveis. Adivinha-se a canícula, o que poderá transformar esta pacatez quotidiana em ligeira angústia, desejo de frescura impossível de satisfazer. Mas nada de muito preocupante. Ainda há algum tempo, alguma folga para ir gozando esta suavidade existencial a fazer pensar em veludinho azul e bolas de algodão doce que não se colem aos dedos nem provoquem uma impressão repulsiva nos dentes.

    Um dia seremos confrontados com a factura a pagar por vivermos tal desafogo. Mas, até lá, gozemos as benesses que o capitalismo imperialista ainda nos proporciona. Não vale a pena estarmos a pensar nas gerações anteriores que sofreram as passinhas do Algarve para que tenhamos os confortos de que hoje desfrutamos; nem será aconselhável pensarmos no sofrimento que as gerações futuras (pouquinhas segundo Harari) irão ter de suportar. Vivamos.

    Um dia de cada vez, que a vida já não são três.

domingo, junho 18, 2023

Os cartazes

 

    Dependendo das situações dou por mim a indignar-me, ou não, com questões relacionadas com racismo. Tenho consciência de que, dada a palidez da minha pele, sou um potencial privilegiado num espaço sociopolítico dominado por homens velhos tão ou mais brancos do que eu.

    Talvez por isso, quanto à cena do nosso primeiro-ministro e dos cartazes com o focinho de porco com lápis espetados nas cavidades oculares, não consiga decidir se são ou não são racistas. Parecem-me apenas vulgares, mal concebidos, com uma linha estética simploriamente boçal, definida por uma vontade um tanto infantil de provocar ofensa. Nem sequer julgo que sejam de particular mau gosto. Não chegam a tanto.

sexta-feira, junho 16, 2023

Todos os fantasmas morrerão

     Os dias passam e o mundo cada vez mais parece menos: menos habitável para a generalidade das espécies, menos respirável, menos amável, definitivamente menos explorável. Cada dia para a frente dá a sensação de ser também um dia para trás, como se duas paredes paralelas de comprimento infinito se fossem aproximando, inexoravelmente, e eu (e tu, nós, todos) percorresse o corredor formado pelos muros à procura de qualquer coisa semelhante a esperança. Uma brecha, um desabamento, cimento húmido; mas - nada!

    O calor aperta também. Falou-se do degelo constante mas a notícia não durou mais que um dia. A guerra, a comissão de inquérito, as transferências de jogadores de futebol, são tantos os assuntos interessantes que o Apocalipse perde espaço noticioso. Já se sabe que todos havemos de morrer.

    Não consigo evitar a sensação de que assistirei ao fim de uma civilização. Serei um velho a observar o desabar do orgulho desmedido de uma certa parte da Humanidade (da qual fiz - ainda faço? - parte), talvez isso me proporcione algum distanciamento, alguma tirada filosófica para os anais que, azarucho, estarão prestes a encerrar as entradas de citações por caducidade absoluta do tempo da civilização.

    Sinto uma certa frustração por nem a vaidade sobreviver. Morrendo as pessoas do futuro morrerão também todas as pessoas do presente e do passado e todos os deuses (sim, com Jeová e Maomé de braço dado e à cabeça) por falta de memória que mantenha vivos todos os fantasmas.

sábado, junho 10, 2023

Verdade

        Notícia do Expresso – manchete – China regista, em Maio, a inflação mais baixa do mundo – Os preços no consumidor subiram apenas 0,2% em Maio, segundo os dados publicados esta sexta-feira pelo Gabinete Nacional de Estatística em Pequim. Até à data apenas cinco economias no mundo registaram em Maio inflação abaixo de 1%. As Seicheles entraram em deflação. 

        A mesma notícia no Observador – manchete – Inflação na China acelera para 0,2% - O valor da inflação homóloga na China verificou um aumento de 0,2%. Verificou-se um aumento nos preços de alguns alimentos, nomeadamente carne de ave, óleos e frutos secos. 

        Esta entrada com excertos de duas notícias respigadas em edições online quando andava à cata de informação noticiosa sobre a China serve para recordar que a "verdade" e a "realidade" não são sempre a mesma coisa. Estou convicto que nós fabricamos a "verdade" enquanto a "realidade" existe para lá da nossa percepção, envolvendo tudo como uma espécie de camada de ozono, uma camada factual inverificável.

        Penso poder afirmar sem que me tremam as pernas de vergonha que o ponto de vista individual, a convicção ou a vontade de acreditar em alguma coisa contribuem de forma decisiva para que a "verdade" ganhe consistência dentro das nossas almas (ou será nos nossos cérebros?). A imparcialidade é possível?

        A ser verdade (!!!) isto provaria que a realidade é algo mais abrangente, albergando tantas verdades quantas as que os indivíduos (ou os grupos) forem capazes de engendrar: a realidade como universo, a verdade como constelações ou sistemas planetários. Sei que isto é algo entre a filosofia de tasca e poesia de merda mas, na verdade (hihihi), é o que, de momento, se arranja.

        Talvez pudesse continuar a especular e a acrescentar exemplos e banalidades mas é tempo de concluir: a verdade é uma coisa muito nossa.

 

quinta-feira, junho 08, 2023

Goodbye Maria Ivone

     Ao que tudo indica a China será, num futuro não tão distante quanto isso, o novo farol da Humanidade em substituição do já gasto e confuso farol norte-americano. É, mais ou menos, a ordem natural das coisas. O império americano estafou-se. Goodbye Maria Ivone.

    Esta aparente inevitabilidade deixa muitos de nós, ocidentais, a torcer as mãozinhas e o nariz em simultâneo (eu, por exemplo, torço mais o nariz e menos as mãozinhas): então o que vai ser dos Direitos Humanos? Onde vai parar o Estado Social? O que vai acontecer à Liberdade de Expressão? Talvez estas questões sejam mais inquietantes para os europeus do que para os americanos ou, bem vistas as coisas, dentro de algum tempo talvez a maioria dos cidadãos nem se preocupe muito com tais direitos...

    Vamos por partes. Quanto aos Direitos Humanos tanto os américas como os europeus preocupam-se sobretudo com os seus próprios, quero dizer, os Direitos Humanos dos outros são normalmente questões relativas. Veja-se, por exemplo, a preocupação com a situação dos migrantes que vão alimentando os cardumes do Mediterrâneo ou com os outros que batem de chofre no muro da fronteira mexicana. Batemos muito no peito mas não é por isso que deixamos de beber a nossa cervejola enquanto comentamos o último naufrágio com um prato de caracóis. Liberdade de Expressão? talvez este seja o último anel que resta do tesouro que nos foi prometido com o regime democrático. Já o Estado Social é coisa que nos EUA não se percebe o que seja e é visto como uma perigosa manigância de regimes comunistas. 

    Mas, pensemos um nadinha, tanto os europeus como os américas têm manifestado vontades políticas muito pouco higiénicas sempre que têm sido chamados a votar. De Trump a Meloni, de Meloni a Le Pen, de Le Pen a todos aqueles políticos obscuros dos quais não sei o nome mas que se vão chegando ao poder um pouco por todo o continente europeu, a ascensão fascista parece uma pandemia descontrolada. Então qual o problema de um mundo dominado pela China? Pois é. Vou pensar nisso. Agora calo-me que o post já vai comprido.

quarta-feira, junho 07, 2023

Ainda a respeito da Economia

    

Temos vivido tempos políticos conturbados, não por questões de política propriamente dita, mas por aquilo a que os francófonos chamam "faits divers". É extraordinário que se possa continuar a discutir a legalidade de uma acção que poderá ter sido (ou não) tomada por fulano a mando de sicrano que nega tudo e o seu contrário, como se fôssemos figurantes de uma ópera bufa à escala nacional. Enquanto andamos nesta treta as coisas verdadeiramente importantes ou parecem menores ou simplesmente passam de fininho. 

            

          Veio António Costa fazer frente aos que o tentavam açoitar por não dizer a verdade, agitando-lhes à frente do nariz os números da Economia. Faltará Ética mas sobra Economia que é o que interessa! E depois vem a história dos bancos, dos certificados de aforro e dos juros e recordo a célebre afirmação de Luís Montenegro, devidamente enquadrada nos idos de 2014: "a vida das pessoas não está melhor mas a do País está muito melhor" bem na linha de outra reflexão intemporal, esta da autoria de Passos Coelho: "nós sabemos que só vamos sair desta situação empobrecendo".

 

E é muito isto! Neste período pós-geringonça recuperámos a perspectiva dos tempos da “troika”: "nós", o povinho, só nos safamos empobrecendo enquanto "eles", os ricos, não habitam o mesmo planeta e, certamente por isso, ficam cada vez mais ricos. Haverá quem consiga explicar a coisa com clareza mas eu não sou capaz. Faltam-me estudos.

 

Carta enviada ao Director do jornal Público

 

segunda-feira, junho 05, 2023

Seria um prazer

     Visto sob a perspectiva de quem anda por aqui a fazer pela vida, o nosso sistema sócio-político é uma coisa odiosa. Já muitas vezes expliquei que me considero um tipo com sorte. Por nunca ter passado fome que não fosse por opção, por nunca ter tido frio que não fosse por descuido, por ter uma saúde razoável. A tudo isto posso somar o facto de nunca ter tido faltas de dinheiro dramáticas. Enfim, sou aquilo que alguns designam por "nababo". Se bem que em pequena escala.

    "Então, se és um nababo, ainda que em pequena escala, de que te queixas" podes tu perguntar, velho amigo leitor (ou velha amiga). Queixo-me não por mim, mas por outros que vivem vidas de merda por serem, tal como eu, comidos por parvos pelas forças do capital. A diferença é que eu, depois de bem rapado e chupado pela vampiragem ainda vou ficando com uns trocos que me permitem comer bem e beber melhor. Nada de luxos desnecessários até porque, na sua maior parte, são inalcançáveis. E, sinceramente, estou-me bem a cagar para os luxos de um modo geral. Petinga, arroz de feijão e uma boa garrafa de tinto já fazem mim algo próximo de um paxá.

    Mas a verdade é que a forma como somos roubados à descarada pelos bancos e pelas geringonças das finanças não é nada agradável, muito menos justa, absolutamente imoral. Os ordenados miseráveis que auferem largas fatias da população, gente que trabalha para ser pobre, as rendas, os juros, os impostos, as taxas, tornam para mim um mistério a vida destes meus concidadãos. Daí que sinta alguma vontade de lixar a vida aos cabrões que nos lixam a nossa.Seria um prazer.

quinta-feira, junho 01, 2023

Cansaço inquietante (terror infinito)

     Cada dia que passa é menos um dia que vives, mais um dia que viveste. É assim, andas enrodilhado com o tempo, com o espaço, enfiado numa camisa de sete varas que te tolhe o pensamento. Tentas esbracejar mas nada, a coisa não se move, a coisa olha-te com aquele aspecto sobranceiro que têm as coisas como ela. 

    É inquietante.

    Corres para aqui, deslizas para ali. Faz um calor de cozer camelos no deserto, sentes a transpiração nos pés, nas mãos, escorre-te calor costas abaixo, são pingos de suor. Não é suor resultante do esforço intelectual, nem sequer do esforço braçal que te faz acreditar nos benefícios do trabalho. Não. Nada disso. É transpiração produzida por aquela estranha sensação que te deixa petrificado.

    É o terror.

    Esforças-te por acordar. Queres regressar aos lençóis, deixar para trás aquele mar infinito sobre o qual caminhas (sabes que apenas Cristo poderia fazê-lo!) mas não consegues deixar de avançar. Para onde diriges os teus passos? Em direcção ao horizonte que, como sempre fazem todos os horizontes, teima em deslocar-se à tua frente. Nunca o alcançarás.

    É o cansaço.