domingo, fevereiro 07, 2021

La Strada

Ontem revi La Strada, o filme de Fellini com Giulietta Masina e Anthony Quinn. Tinha dele uma muitíssimo vaga memória, resumida à imagem de Massina com cara pintada de palhaço e um chapéu preto empoleirado na cabeça.

Quando tinha visto o filme? Não consigo recordar. Decerto o vi na televisão, durante a minha infância ou na adolescência, o mais tardar, quando tudo era a preto e branco. Ontem revi-o como se fosse a primeira vez. É isto que o tempo faz às memórias, funde e confunde tudo.

Fiquei a matutar como teria interpretado aquela história triste e sórdida no meu primeiro visionamento. A pobreza de uma Itália meio destruída não me terá espantado pois o Portugal em que eu vivia não era muito diferente, talvez mais pobre ainda. 

Havia saltimbancos também na minha aldeia, embora com menos glamour que Zampanó e Gelsomina. Os "meus" saltimbancos eram Estrela e Delfinzito, um casal improvável de uma mulher gorda e enorme e um homem franzino e magro mas rijo como um varapau. Tinham um filho (não me recordo do nome) que hoje terá aproximadamente a minha idade e também participava nas momices e acrobacias daquela trupe miserável.

O filme tem uma estranha sonoridade, com as vozes desajustadas dos movimentos labiais (Quinn falava italiano?), característica das "italianadas" que tantas tardes e noites preencheram no meu passado. Assim funcionam as memórias, com os acontecimentos correndo desajustados da realidade.

Ontem revisitei esse passado para verificar que está definitivamente esquecido mas não completamente perdido.

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