sexta-feira, outubro 18, 2019

Uma coisa na ponta dos dedos

Olhar para um écran de televisão e ver o que se vai passando na Catalunha deixa-me uma estranha sensação alojada no peito. Ontem dei por mim a pensar baixinho que, se estivesse em Barcelona, decerto seria um dos muitos milhares que povoavam as ruas. Mesmo não sendo catalão, decerto estaria ali.

A questão não é legal, a questão é política. É uma questão de Liberdade para decidir. Escrevo estas palavras e percebo que tenho o coração na ponta dos dedos, que, se calhar, as coisas são muito mais complicadas, que não percebo nada do que se passa, que haverá explicações racionais capazes de desarmar os meus sentimentos com a facilidade de quem rouba um chupa-chupa a uma criança. Mas não há nada a fazer. Coração é coração.

Em miúdo, li o Spartacus, de Howard Fast. O livro marcou-me para a vida. Mais do que A Ilha do Tesouro ou As aventuras de Huckleberry Finn, outras das obras que me aconchegaram a adolescência. A luta dos escravos pelo direito de serem livres impressionou-me, mas o que mais me deixou a pensar foi a sua derrota e o castigo absoluto que sofreram.

Na minha mente juvenil formou-se uma coisa que nunca mais me abandonou. Não sei explicar bem o que é mas sei que é essa coisa que me leva o coração para a ponta dos dedos quando escrevo que a questão catalã é uma questão de Liberdade.

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