terça-feira, agosto 06, 2019

Números redondos

Ando a ler um livrinho intitulado As 10 invenções de Picasso. É interessante e dinâmico, bastante razoável... mas, o que me leva a escrever este texto não é o livro, em si, é o número "10".

É aquela suposta magia do número redondo. Porquê 10 invenções? Não terá havido mais uma? Ou menos outra? Ou duas para trás e quatro para a frente da fronteira mítica do número 10? Que raio, estará a autora a torcer os números por forma a chegar ao redondinho que faz o título da obra?

Os números redondos infectam a informação e lixam-nos o imaginário. Ele são os 100 dias de governação que servem para medir o sucesso ou a popularidade de um governo recém-empossado, o Top 10, 30, 50, o Top 100 das músicas mais ouvidas, os 500 filmes que fazem a felicidade de uma vida de cinéfilo, etc. Os exemplos de arredondamento numérico são mais que muitos.

Quantos filmes de merda foram enfiados à força na tal lista para termos 500? Que autores interessantes ficaram fora da lista de best-sellers de modo a não estragar a redondeza numérica? Qual o problema dos números angulosos e agudos, que mal poderá vir ao mundo se uma lista de excelência for composta por 11 títulos ou 23 ideias geniais?

Assim se constrói um mundo artificial.

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