Quem ler algumas
opiniões que vão sendo publicadas a propósito das Aprendizagens Essenciais
recentemente impostas pelo Ministério da Educação pode ficar com a impressão de
que estamos perante um recomeço ou que esta nova medida administrativa vem
deitar por terra um edifício educativo que importa preservar. Nem uma coisa nem
outra. É mais do mesmo, mais um remendo num edifício estranho, a ameaçar ruína.
A qualidade do ensino sempre foi e será desigual; de escola para escola, de uma
sala de aula para a sala do lado. Há bons professores, outros que são mais ou
menos e alguns dos quais é melhor fugir. Os directores não são todos iguais, as
instalações e equipamentos variam muito. A origem social dos estudantes é um
dado importante mas não é impossível de combater. Em suma, com ou sem Aprendizagens
Essenciais houve e haverá casos de sucesso e casos de insucesso. Colégios para
meninos ricos e escolas para meninos pobres.
Penso que,
numa futura reforma educativa (que não deverá tardar muito), seria importante
debater a relação entre os diferentes ciclos de aprendizagem. Não parece justificável
que a avaliação no Ensino Básico seja estabelecida numa escala de níveis entre
1 e 5 (alguém se recorda porque se instituiu esta escala nos finais dos anos 70?)
para ser alterada no Ensino Secundário, quando os alunos passam a ser
escalonados numa tabela que vai de zero a 20 valores que se manterá até à
conclusão das suas licenciaturas à bolonhesa. O secretário de estado tem razão
quando refere a extensão dos programas disciplinares. Muita gente concorda com
ele. Fica a sensação de que, em algumas disciplinas, se quer ensinar tudo o que
há para aprender no tempo curto que dura o Secundário (quem se der ao trabalho
de analisar, a título de exemplo, o programa de História da Cultura e das Artes,
que é ministrado em dois aninhos apenas, fica com os cabelos em pé!). Talvez
isto se pudesse resolver se não existisse um abismo de incomunicabilidade entre
o Secundário e o Ensino Superior. As Universidades, olhando-se no espelho da
sua pretensa superioridade, reclamam da qualidade da matéria-prima que lhes
chega todos os anos mas não se preocupam em procurar uma solução para o
problema. Queixinhas e inacção, muito à boa maneira portuguesa. Quanto à
choradeira que por aí vai por “Os Maias” deixarem de ser leitura obrigatória,
sempre vos digo, caros amigos e colegas professores, todos nós lemos a obra quando
frequentámos a escola (ou fingimos que a lemos) e, avaliando o estado em que se
encontra o nosso sistema de ensino, podemos concluir que o resultado não terá
sido lá muito famoso.
carta enviada ao director do jornal Público