quinta-feira, fevereiro 01, 2018

Antes que o mundo acabe (rascunho)

Santo Patriota (Janeiro 2018)

Desde pequenino que acredito que a arte deve estabelecer comunicação directa com o observador, que o objecto artístico é como, deixa cá ver… como um casaco que se veste. Pode servir-nos ou não, podemos olhar para ele no espelho com o nosso corpo lá dentro, experimentá-lo ou deixá-lo pendurado no cabide, podemos emprestá-lo ao vizinho ou dá-lo a alguém que no-lo peça. A analogia não é muito convincente mas, enfim… tentar explicar algo, chamar o observador para junto da ideia que pretendemos mostrar-lhe, isto não é assim tão fácil. Há sempre a opção de parecer que dizemos algo sublime, muito profundo, algo enorme, tão grande que nem virando a cabeça até a nuca nos bater na coluna vertebral conseguiremos sequer vislumbrar o topo da coisa. Sermos inacessíveis de tão bons. Essa é que é essa!

Temos, então e pelo menos, duas possibilidades (não sei se ficou explícito): ou queremos comunicar ou queremos dar a sensação de que queremos comunicar. Ou, se calhar, nada disto faz sentido e se me disserem o contrário é porque têm razão.

Se a arte for como o tampo de mármore branco de uma mesa toda estilosa; arte fria, arte lisa, escorregadia, arte limpinha e brilhante quando lhe bate a luz, misteriosa, inconcebível, críptica como o olho do cu de uma galinhola, se a arte for assim tem fortes probabilidades de ser considerada uma coisa digna. Se não compreendermos o melhor será fingir que é porque a coisa é muito… extraordinária. Se não compreendermos o melhor será esfurancar uma leitura do objecto, forçar-lhe um sentido, encontrar nele o que lá não está é prova de grande erudição. Como diz o dito: se não os podes vencer junta-te a eles. Se não compreendes o objecto artístico finge que és parte dele. Resulta sempre, só precisas de um pouco de lata, uma certa pose e o domínio de um pequeno conjunto de lugares-comuns, uma ou outra balela sobre A Fonte e o neo-dadaísmo, ou sobre o pós-modernismo e o valor de mercado das obras de Damien Hirst. É tiro-e-queda!

Desde pequenino que gosto de perceber quando não percebo e quando percebo alguma coisa sinto que dou um passinho em direcção à possibilidade de ser feliz. É assim que encaro a arte. Voltando à cena do casaco, gosto que a arte me assente. Mas isso sou eu. Quanto a ti, tu lá sabes ou haverás de saber, se te deres ao trabalho de pensar nisso. Podes até querer passar frio. Da parte que me toca apresento-te imagens na esperança que consigas com elas estabelecer algum tipo de diálogo. Não digo que venham a tornar-se íntimos mas seria agradável se, pelo menos, fosseis capazes de trocar dois dedos de conversa.

Sem comentários: