O meu
problema com a direita tem diversas fontes de alimentação. Por exemplo, causa-me
problemas a postura dos defensores da troika
Passos-Portas-Cavaco quando confrontados com o governo de Costa. Passada a
lamentação patética da suposta ilegitimidade do novo governo, o discurso dos
simpatizantes da PàF alerta-nos para uma putativa incapacidade da esquerda para
governar o país. Num tom que oscila entre o alarmista e o jocoso, sugerem que,
com Costa ao leme, a Nau Catrineta que é a nação portuguesa irá encalhar e
naufragar, levada nas vagas alterosas do mar da TINA (ou o NHA- Não Há
Alternativa, como designou João Miguel Tavares o mundo impiedoso em que
vivemos).
Para que este alerta pudesse ter alguma validade seria necessário que
o governo da troika
Passos-Portas-Cavaco fosse minimamente sério ou minimamente competente.
À
medida que os dias vão passando e a troika
Passos-Portas-Cavaco vai perdendo o pulso sobre as notícias que chegam até nós,
percebemos que o seu governo não era uma coisa nem outra. Percebemos como esse
governo se assemelhava mais a coisa nenhuma, que foi uma treta; que não há IVA
para devolver, que o desemprego afinal não definha, que a economia abranda…
despida de propaganda a troika
Passos-Portas-Cavaco revela-se escanzelada, feia e repulsiva, até para alguns
dos direitistas mais encartados.
O meu
problema com a direita é também alimentado pela constatação de que a troika Passos-Portas-Cavaco mais não foi
(mais não é) que um instrumento para eternizar as desigualdades sociais,
contribuindo mesmo para a sua agudização. Veja-se a forma como as desigualdades
entre os mais ricos e os mais pobres se vêm acentuando nestes tempos de crise,
como se nacionalizaram os prejuízos e se privatizaram os lucros das empresas
públicas. Eu sei que este processo vampírico tem tido a colaboração do Partido
Socialista. É precisamente por isso que a solução governativa agora encontrada
traz consigo a esperança de que as coisas sofram uma inversão acentuada. Com o
Bloco e o PC à perna, o PS terá de se comportar como o partido de esquerda que
afirma ser e não como o partido de direita que tem sido, limitando o apetite
dos seus clientes quando se aproximam da gamela do poder e açaimando as feras
mais gulosas.
O meu
problema com a direita tem também a ver com a mania de que acreditar na Utopia
é o mesmo que acreditar num conto de crianças. Erro. A Utopia é um conto para
adultos, da autoria de Thomas More que, tal como o Capuchinho Vermelho alerta
as meninas para os perigos da pedofilia, nos alerta, a nós “cidadões”, para os
perigos da desigualdade na divisão da riqueza.
Finalmente, o meu problema com a
direita da troika
Passos-Portas-Cavaco é ela ser tão sobranceira, rasteira e ignorante, que só é
capaz de pensar em economia e, ainda por cima, erradamente.
2 comentários:
A esquerda olha para a direita como se fosse só o clube dos " Tio Patinhas " e a direita olha para a esquerda como se fosse só o secretariado geral da lamechice. É a clássica incapacidade de nos percebermos uns aos outros. Eu gosto e revejo-me na frase que desafia as pessoas a perguntarem o que podem fazer pelo seu país e não o que o país pode fazer por elas. É assim que se constrói um país, uma comunidade e não a pedir ou a exigir. Um país constrói-se a dar. Infelizmente nós não temos isso no nosso adn e parece termos orgulho nessa forma de estar. Eu tenho vergonha. Não gosto de pedir nada. Infelizmente em Portugal nós temos o pior da esquerda, que é o corporativismo e o pior da direita que é o conservadorismo bacoco ( tb conhecido por corporativismo de direita ), e a maior das desgraças que é comum a todos, sejam de direita ou de esquerda que é a imensa inveja, que nos corrói a todos até ao tutano. Para terminar, estou contente pelo A. Costa. Deu um banho de xadrez político à direita. Mostrou até que ponto a democracia é fascinante e as infinitas capacidades que ela encerra. Se fosse a direita a fazer o mesmo eu diria exactamente a mesma coisa, mas tenho as minhas dúvidas que, se isso acontecesse, a esquerda não se comportasse da mesma forma que se comportou a direita.
Rui, haja coragem para sabermos o que queremos.
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