sábado, outubro 31, 2015

Rastejantes

Há uma paz podre que alimenta larvas e insectos rastejantes. Esta bicharada, acostumada a encher a boca com os detritos do costume, agita-se, patinhas nervosas, antenas a espadanar, barrigas a raspar o soalho em rápidos movimentos curvilíneos, sempre que tem a sensação de que virá alguém limpar a porcaria de que se alimentam.

O problema, argumentam estes seres rastejantes, é que ninguém poderá garantir que o corpo decrépito e apodrecido que lhes garante sustento, venha a ser substituído por outra coisa que os mantenha vivos e em ascenção permanente. O mundo húmido e penumbroso no qual progridem está posto em causa. Não admitem luz que os venha a repelir.

Assim se passam os dias.

sexta-feira, outubro 30, 2015

Esperança

Há quem deposite todas as suas esperanças em coisas que não valem nada. Os desesperados, os miseráveis, os ingénuos, os frágeis e os mais frágeis entre os mais frágeis, aqueles a quem a sorte e os poderosos não reconhecem capacidades para serem considerados seres humanos, precisam de algo ou de alguém que lhes possa dar um pouco de esperança.