Quando penso nas lutas sociais que constantemente são travadas neste mundo que habito sinto um nó no estômago. De que lado devo colocar a minha força e a minha vontade?
Desde sempre tive uma vida razoavelmente desafogada. A minha família, com maiores ou menores dificuldades, há várias gerações que pertence ao que poderia designar por "classe média", mesmo quando essa classe era uma espécie de coisa incipiente, nos tempos da ditadura salazarista.
Olhando para o tempo que já vivi posso dizer que nunca passei fome por necessidade embora, nos meus tempos de estudante, tenha passado alguma fomeca por opção. Gastava o dinheiro noutras coisas que, à época, me pareciam mais essenciais do que a paparoca. Tartava-se de uma questão de opção.
Nos tempos que correm sinto-me privilegiado. Tenho emprego fixo e uma condição social razoável. Posso preocupar-me com assuntos muito para além da satisfação das minhas necessidades básiicas. Ao mesmo tempo vejo aumentar a fome e a miséria entre os mais desfavorecidos, pessoas que tiveram a pouca sorte de nascer em meios sociais estigmatizados, pessoas que não têm opção e se vêm empurradas para uma luta que se parece com o esbracejar de alguém que se afoga no mar alto.
Quando chega a hora de tomar um lado nas barricadas das lutas sociais sinto que devo lutar contra alguns dos privilégios que fazem da minha vida algo agradável, sinto que deveria ser capaz de viver com menos e partilhar mais. Sou inimigo de mim próprio?
Confesso que este dilema me confunde mas, no entanto, continuo a comer bem, a dormir melhor e a acordar todos os dias com uma boa disposição que não me incomoda. Mas, no entanto...
sábado, janeiro 31, 2015
quarta-feira, janeiro 28, 2015
O futuro
As coisas são o que são e têm um tempo de gestação próprio. Não adianta muito querer correr mais depressa que o futuro.
O novo governo grego, as reuniões e negociações que hão-de vir com a troika, as consequências desta aventura para o futuro da União Europeia e da Zona Euro, ai Jesus, tanta dúvida a afundar-se na densidade do nevoeiro, não se vê bem, não se percebe nada!
Estranhamente a maioria dos políticos europeus e os seus donos, os habitualmente nervosos Mercados, não têm mostrado grandes sinais da sua proverbial histeria sempre que a realidade se limita a acontecer conforme Deus quis que acontecesse. A vitória do Syriza não os tirou do sério... mmmmmh... não percebo muito bem o que está a acontecer. Que fazer?
Talvez possa matar uma galinha e espalhar as tripas da bicha em cima da mesa da cozinha tentando ler o futuro entre o sangue e os órgãos do galináceo. Deve haver muitas entradas para páginas que ensinam a ler tripa de galinha se procurar no Google como deve ser.
Talvez possa sentar-me uma tarde inteira a assistir a debates entre especialistas das mais variadas áreas do Saber e da Ignorância vertendo ciência certa e desvendando as imprecisões do futuro.
Ou talvez possa ir vivendo a minha vida e esperar que o futuro venha ter com o tempo presente como costuma fazer todos os dias. Vou estar atento, nunca se sabe quando nos cruzamos com o futuro e podemos dar-lhe uma palavrinha, meter uma cunha pelos nossos sonhos, vender-lhe um ou outro dos nossos anseios.
O novo governo grego, as reuniões e negociações que hão-de vir com a troika, as consequências desta aventura para o futuro da União Europeia e da Zona Euro, ai Jesus, tanta dúvida a afundar-se na densidade do nevoeiro, não se vê bem, não se percebe nada!
Estranhamente a maioria dos políticos europeus e os seus donos, os habitualmente nervosos Mercados, não têm mostrado grandes sinais da sua proverbial histeria sempre que a realidade se limita a acontecer conforme Deus quis que acontecesse. A vitória do Syriza não os tirou do sério... mmmmmh... não percebo muito bem o que está a acontecer. Que fazer?
Talvez possa matar uma galinha e espalhar as tripas da bicha em cima da mesa da cozinha tentando ler o futuro entre o sangue e os órgãos do galináceo. Deve haver muitas entradas para páginas que ensinam a ler tripa de galinha se procurar no Google como deve ser.
Talvez possa sentar-me uma tarde inteira a assistir a debates entre especialistas das mais variadas áreas do Saber e da Ignorância vertendo ciência certa e desvendando as imprecisões do futuro.
Ou talvez possa ir vivendo a minha vida e esperar que o futuro venha ter com o tempo presente como costuma fazer todos os dias. Vou estar atento, nunca se sabe quando nos cruzamos com o futuro e podemos dar-lhe uma palavrinha, meter uma cunha pelos nossos sonhos, vender-lhe um ou outro dos nossos anseios.
Etiquetas:
quotidiano delirante,
reflexão
segunda-feira, janeiro 26, 2015
Pequena Esperança
E pronto, o Syriza ganhou as eleições na Grécia. Está feito, a sorte está lançada, etc. e tal.
Agora resta-nos observar. O que irá acontecer? Algo vai mudar, de facto? A Europa poderá suportar tal prova de rebeldia dada por um povo inteiro? Não sei, caro leitor, não sabemos. Ainda.
O que me faz sonhar um pouco é perceber que ainda há quem tenha impulsos corajosos, quem não tema o desconhecido. Como diz a canção: pra pior já basta assim! A Esperança renasce um pouquinho, débil, temerosa, pequena Esperança esta mas Esperança!
Talvez o mundo não tenha de ser como nos querem obrigar a acreditar. Talvez o Destino não seja mais que uma mentira que nos querem impingir. Talvez possamos ter uma palavra a dizer na construção das nossas vidas.
Ou então não.
Agora resta-nos observar. O que irá acontecer? Algo vai mudar, de facto? A Europa poderá suportar tal prova de rebeldia dada por um povo inteiro? Não sei, caro leitor, não sabemos. Ainda.
O que me faz sonhar um pouco é perceber que ainda há quem tenha impulsos corajosos, quem não tema o desconhecido. Como diz a canção: pra pior já basta assim! A Esperança renasce um pouquinho, débil, temerosa, pequena Esperança esta mas Esperança!
Talvez o mundo não tenha de ser como nos querem obrigar a acreditar. Talvez o Destino não seja mais que uma mentira que nos querem impingir. Talvez possamos ter uma palavra a dizer na construção das nossas vidas.
Ou então não.
quinta-feira, janeiro 22, 2015
Liberdade
A liberdade de cada um depende da gaiola em que está metido.
A liberdade total é a lei da selva.
Felizes são as feras.
A liberdade total é a lei da selva.
Felizes são as feras.
Etiquetas:
filosofia de tasca,
reflexão
terça-feira, janeiro 20, 2015
Sonho de uma manhã de Inverno
Eram 3 mulheres feias e tristes. Não sei se tristes por serem feias, se feias por serem tristes. 3 mulheres no deserto da praia, escavando juras e feitiços. 3 mulheres deitadas nas pedras duras e frias, calçada abaixo. 3 mulheres sonhando com espelhos negros e cavaleiros brancos. 3 mulheres que choviam, ácidas, e vinham dissolver os anseios da multidão no medo de uma noite prematura. 3 fadas malditas e tristes. Não sei se tristes por serem malditas, se malditas por serem tristes.
quinta-feira, janeiro 15, 2015
Ser ou não ser
As reacções descabeladas dos muçulmanos mais
radicais perante a publicação de uma nova caricatura de Maomé na capa do
Charlie Hebdo mostram que não há qualquer possibilidade de entendimento entre o
nosso mundo e o deles, que vivemos em mundos distintos, que não há, nem de um
lado nem do outro, a mínima intenção de encontrar uma plataforma comum de
convivência. Parece absolutamente impossível explicar aos radicais islâmicos
que uma coisa é o Estado, outra coisa é a Religião, que as pessoas são
diferentes de Deus. Nunca compreenderão a frase de Jesus “dai a César o que é
de César e a Deus o que é de Deus”, nem nós seremos capazes de compreender a
inevitabilidade da submissão da vontade humana aos desígnios de Deus. Azeite e
água misturam-se melhor?
Levámos séculos até conseguirmos separar Deus e
Estado, até alcançarmos a liberdade religiosa proclamando a tolerância como
valor universal. Está bem abelha, vai contar essa aos radicais islâmicos ou aos
grupelhos de extremistas xenófobos e racistas que pululam por aí. Para gente
desta qualquer pretexto é bom para matar, estropiar, destruir, intimidar; a
violência parece ser parte essencial da mensagem divina ou finalidade última da
actividade cívica. Assassinar em nome de Deus não é considerado blasfémia,
matar outro Ser Humano não é considerado crime. Blasfémia é desenhar
caricaturas de uma certa personagem histórica, crime é ser estrangeiro, ser
diferente. Este mundo é lixado! Vá-se lá desvendar-lhe um sentido.
Os líderes muçulmanos radicais vêm uma vez mais ameaçar
de morte, guerra e destruição indiscriminada o espaço ocidental; isto na maior
das calmas: voz pausada, olhar seráfico, pose flutuante, como se tivessem
conferenciado com o Profeta há coisa de cinco minutos e este lhes tenha
transmitido ordens directas do Big Boss.
Sentem-se ofendidos com um punhado de desenhos e umas bocas foleiras. Tretas. Eles
querem é um pretexto para justificar as suas acções terroristas, os seus
impulsos criminosos e a sua agenda política, tal como do lado de cá uns certos
hipócritas justificaram ataques assassinos em território muçulmano com a
existência de armas de destruição maciça que afinal eram refinada mentira. É tudo
farinha do mesmo saco. De um lado e do outro os líderes mais agressivos e sem
escrúpulos conseguem arrebanhar exércitos, semear a discórdia e fazer a guerra
com uma facilidade assustadora. A guerra será lucrativa para alguém, decerto
para uns e outros, caso contrário haviam de se esforçar por viver em paz.
Acredito que a maioria das pessoas do outro lado
sejam pessoas como eu. Acredito que tenham as suas convicções, que tenham os
seus ódios e as suas fidelidades absolutas, que tomem um lado da barricada em
caso de guerra mas que, acima de tudo, querem é viver em paz, ver os filhos
crescer e pensar na vida como ela é, não na vida como nos querem convencer que
devia ser.
Etiquetas:
cartoon,
filosofia de tasca,
liberdade
quarta-feira, janeiro 14, 2015
O Sentido da Vida
O Sentido da Vida? Caraças, não me digas que não és capaz de perceber o sentido da Vida! Até os animais mais estúpidos conseguem lá chegar.
O Sentido da Vida é a preservação da espécie.
É preciso ser mesmo muito burro para nunca ter pensado nisso, uma coisa tão simples. Repara como até as galinhas, estúpidas entre as mais estúpidas das espécies, parecem ter interiorizado esta lei, das mais óbvias que a Natureza tem para impor aos seus filhos. Lá andam elas a bicar, a bicar, a ser galadas, a pôr ovos no ninho, a aquecê-los até nascerem pintaínhos, and so on, and so on...
Enquanto seres humanos somos impelidos a preservar também a nossa Cultura. Daí que possamos considerar que o Sentido da Vida humana é ligeiramente diferente do das galinhas ou das minhocas. Acrescentamos ao comer-procriar-comer-procriar a necessidade de ensinar aos outros aquilo que nos parece ser essencial para a nossa sobrevivência e, caso os outros não se mostrem interessados em aprender, enfiamos-lhes a nossa crença pela cabeça abaixo.
Se encaramos a Vida sob esta perspectiva não me digas que a Vida não faz Sentido, porra!!! Ainda por cima é coisa de macho, impor vontades, andar à porrada.Isto sim é viver em plenitude a nossa superior humanidade. O mais forte subsiste, o mais forte é o mais bonito: o mais forte tem sempre razão!
O Sentido da Vida é a preservação da espécie.
É preciso ser mesmo muito burro para nunca ter pensado nisso, uma coisa tão simples. Repara como até as galinhas, estúpidas entre as mais estúpidas das espécies, parecem ter interiorizado esta lei, das mais óbvias que a Natureza tem para impor aos seus filhos. Lá andam elas a bicar, a bicar, a ser galadas, a pôr ovos no ninho, a aquecê-los até nascerem pintaínhos, and so on, and so on...
Enquanto seres humanos somos impelidos a preservar também a nossa Cultura. Daí que possamos considerar que o Sentido da Vida humana é ligeiramente diferente do das galinhas ou das minhocas. Acrescentamos ao comer-procriar-comer-procriar a necessidade de ensinar aos outros aquilo que nos parece ser essencial para a nossa sobrevivência e, caso os outros não se mostrem interessados em aprender, enfiamos-lhes a nossa crença pela cabeça abaixo.
Se encaramos a Vida sob esta perspectiva não me digas que a Vida não faz Sentido, porra!!! Ainda por cima é coisa de macho, impor vontades, andar à porrada.Isto sim é viver em plenitude a nossa superior humanidade. O mais forte subsiste, o mais forte é o mais bonito: o mais forte tem sempre razão!
Etiquetas:
filosofia de tasca,
reflexão
terça-feira, janeiro 13, 2015
Obrigadinho, ó coisa
Hoje faço 52 anos. Não tenho por hábito festejar o meu aniversário, nem mesmo comentar com colegas ou coisa assim. A coisa passa, discreta e sossegada. Mais logo os meus pais irão telefonar-me, um ou outro familiar irá fazer o mesmo, talvez algum amigo. A minha mulher e a minha filha haverão de lembrar-se; talvez até tenha direito a um presente. É assim que este dia costuma encaixar-se nos outros, sem nada de especial.
Mas agora há quem se preocupe comigo, graças aos deuses. Hoje, ao abrir o meu e-mail, tinha 3 mensagens de parabéns de empresas diferentes. Todas elas me congratulavam pelo dia dia especial que é o dia de hoje e me ofereciam presentes! Claro que teria de pagar pelos presentes que me eram oferecidos mas com desconto. O meu presente era, na verdade, um desconto de 10% ou 5€ a menos no preço e portes grátis, pequenas maravilhas!
Esta amizade automática deixou-me um pouco acabrunhado. A suave magia que costumo fazer, deixar escoar o meu dia de aniversário sem que quase ninguém disso se aperceba, está ameaçada pela solicitude interesseira de quem tem por objectivo vender (livros, neste caso). Nem sequer é um vendedor untuoso, sorriso forçado e simpatia de plástico barato, a tentar impingir-me o produto, não; uma merda de uma máquina, senhores! Uma merda de uma máquina a desejar-me Feliz Aniversário!!!
Ok; obrigadinho, ó coisa.
Mas agora há quem se preocupe comigo, graças aos deuses. Hoje, ao abrir o meu e-mail, tinha 3 mensagens de parabéns de empresas diferentes. Todas elas me congratulavam pelo dia dia especial que é o dia de hoje e me ofereciam presentes! Claro que teria de pagar pelos presentes que me eram oferecidos mas com desconto. O meu presente era, na verdade, um desconto de 10% ou 5€ a menos no preço e portes grátis, pequenas maravilhas!
Esta amizade automática deixou-me um pouco acabrunhado. A suave magia que costumo fazer, deixar escoar o meu dia de aniversário sem que quase ninguém disso se aperceba, está ameaçada pela solicitude interesseira de quem tem por objectivo vender (livros, neste caso). Nem sequer é um vendedor untuoso, sorriso forçado e simpatia de plástico barato, a tentar impingir-me o produto, não; uma merda de uma máquina, senhores! Uma merda de uma máquina a desejar-me Feliz Aniversário!!!
Ok; obrigadinho, ó coisa.
Etiquetas:
quotidiano delirante
quarta-feira, janeiro 07, 2015
Incomodidade
A coisa aquece lá para os lados da Grécia. As sondagens indicam vantagem do Syriza nas intenções de voto. Os mercados começam a ficar nervosos. Os mercados e os líderes dos países mais pesados na União Europeia.
À medida que força do partido extremista grego aparenta crescer os recados vão sendo mais numerosos e sobem no tom de ameaça. Resumindo: se os gregos se atreverem a escolher um partido que desagrade aos mercados e à senhora Merkel a coisa vai tremer.
Há quem diga que um lado e outro vão fazendo bluff : nem o Syriza será tão atrevido nas suas acções, caso chegue ao poder, nem os mercados entrarão em colapso nervoso caso isso aconteça. Será? Não dá para fazer previsões sobre tão complexa situação.
O que quero fazer notar é que no presente panorama económico e político que vivemos na Europa a democracia tornou-se uma coisa incómoda e dispensável. Tudo seria mais belo e mais fácil se os gregos obedecessem ao ditames da troika e da comissão europeia sem respingar, tal como fazem os bons alunos.
À medida que força do partido extremista grego aparenta crescer os recados vão sendo mais numerosos e sobem no tom de ameaça. Resumindo: se os gregos se atreverem a escolher um partido que desagrade aos mercados e à senhora Merkel a coisa vai tremer.
Há quem diga que um lado e outro vão fazendo bluff : nem o Syriza será tão atrevido nas suas acções, caso chegue ao poder, nem os mercados entrarão em colapso nervoso caso isso aconteça. Será? Não dá para fazer previsões sobre tão complexa situação.
O que quero fazer notar é que no presente panorama económico e político que vivemos na Europa a democracia tornou-se uma coisa incómoda e dispensável. Tudo seria mais belo e mais fácil se os gregos obedecessem ao ditames da troika e da comissão europeia sem respingar, tal como fazem os bons alunos.
Etiquetas:
democracia,
europa,
grécia
Subscrever:
Mensagens (Atom)