Há 40 anos
era muito pior. Há 40 anos uma percentagem assustadora dos nossos não sabia ler
nem escrever embora fosse capaz de fazer contas. Uns contavam pelos dedos
outros faziam contas de cabeça.
Há 40 anos poucos (mas mesmo muito poucos) dos
nossos sabiam quem era Miró que ainda por aí andava a fazer coisas daquelas. Há
40 anos o nosso Secretário de Estado da Cultura actual já sabia ler e, decerto,
já saberia escrever.
Muitos de nós passavam uma fome de cão e tinham de se meter no comboio para “as franças” de garrafão em punho e chouriço no bolso.
Muitos de nós passavam uma fome de cão e tinham de se meter no comboio para “as franças” de garrafão em punho e chouriço no bolso.
Há
40 anos éramos um povo de pobres labregos, um país sem estradas nem comércio e,
apesar de termos já muitos ladrões de fato e gravata, estávamos longe de
atingir os níveis de corrupção de que hoje nos orgulhamos nas reuniões da
Internacional Capitalista.
Há 40 anos Portugal era a preto e branco, hoje já
vai havendo uns arco-íris a espreitar detrás da porta do armário. Há 40 anos éramos
governados por um bando de velhacos hoje… bom, hoje somos governados por um
grupo de senhoras e senhores que me abstenho de classificar.
Há 40 anos foi-nos permitido sonhar que a Educação haveria de pôr muita coisa no lugar que nos parecia devido mas não fomos capazes de imaginar que, 40 anos e 26 ministros mais tarde, a Educação haveria de ser considerada novamente um empecilho.
Há 40 anos foi-nos permitido sonhar que a Educação haveria de pôr muita coisa no lugar que nos parecia devido mas não fomos capazes de imaginar que, 40 anos e 26 ministros mais tarde, a Educação haveria de ser considerada novamente um empecilho.
Hoje, como
há 40 anos, poucos dos nossos (mas ainda assim muitos mais do que há 40 anos)
têm consciência de quem foi Miró e o que fez enquanto por aí andou. Hoje o Secretário
de Estado sabe ler, escrever e assinar despachos (deve ser lixado representar a
Cultura num governo como este!).
O pessoal já emigra de avião, com uma revista
científica debaixo do braço. Hoje temos muitas autoestradas e o Presidente da
República, embora pouco mais faça que descerrar placas comemorativas, é eleito,
efectivamente, por nós. Continuamos a ter muitos tubarões aldrabões mas isso é fado
de um país que vive junto ao mar.
Miró faz-me pensar no resto, no que era
realmente importante e ficou por cumprir. As 85 telas do mestre apenas servem
para mostrar quão surreal é o mundo em vivemos. O “caso” Miró lembra a quem
pode a urgência de uma verdadeira revolução, uma revolução Dadaísta, que faça
dos urinóis deste mundo peças de arte nas quais possamos mijar à vontade,
aliviando a bexiga à boleia do alívio da alma.
A sensação com que fico é que,
40 anos depois de termos imaginado um país decente e de alguns de nós, que
ainda por aí andam, terem sonhado com isso, falhámos completamente o nosso
objectivo.
Somos um povo que habita um país falhado. Precisamos de recomeçar tudo de novo mas agora os meninos maus ficam de castigo e os mais estúpidos não podem ser chefes de nada.
5 comentários:
Ai, Rui quanta propriedade na tua escrita!
A propósito do excelente post anterior
não pude deixar de cantarolar, ainda que mentalmente, To Sir With Love.
E isso não será muito elitista? Os estúpidos e outros são muito persistentes. Sabem o que querem. Não sabem o que não querem.
parabéns pelo artigo publicado no PÚBLICO e pelo seu blogue, agora mais atraente!
«precisamos recomeçar tudo de novo». E sim, vivemos num país falhado mas de um povo que não se quer ( não é ) falhado.
Li, grato pelas suas palavras.
Jorge, estou cansado de ser governado por animais pouco (ou demasiado?) racionais.
Céu, grato pela visita e pelo comentário.
:-)
pois. afinal é tão simples e tão longe aquilo de que precisamos
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