O resultado das eleições italianas enervou os mercados e
muitos políticos de carreira. Parece que eleger um palhaço como Beppe Grillo
desagrada aos que acreditam que a Democracia só funciona se forem sempre eles a
desempenhar os papéis de maior relevo, em alternância, é bom de ver. Por cá
PSD/CDS e PS torceram o nariz à coisa. Sim, porque a Democracia tem custos,
como fez notar Zorrinho, o Relvas de Seguro, que pensa que é um Audi de alta
cilindrada que lhe confere credibilidade. Quanto a palhaços ficamos
conversados.
As manifestações contra a Troika e os seus Miguéis de
Vasconcelos juntaram muitos milhares de portugueses em protesto pelas ruas da
nação. Os manifestantes foram tantos e tão variados que, nos últimos actos
eleitorais, muitos deles terão, inevitavelmente, votado ora em Relvas, ora em
Zorrinho ou noutros seres vivos de idêntico calibre. Pelas ruas os portugueses arrastaram
no passado Sábado a sua amargura, mas o que irão fazer quando forem de novo
chamados a cumprir o frete do voto? É que, se somos governados por gente que
ninguém suporta, é preciso ver que esses governantes foram legitimados por
sufrágio universal e voto popular. Quantos dos que hoje protestam a liderança
de Passos Coelho votaram nele ainda ontem?
Desde que vivemos em Democracia (se exceptuarmos o PREC)
sempre fomos governados pelos partidos chamados do Arco do Poder. A cada novo
governo as negociatas foram a norma, umas vezes cor-de-laranja, outras
cor-de-rosa, com o camaleão CDS a raspar o fundo ao tacho. Agora até o PCP se
vem juntar à indigna interpretação da “lei” da limitação de mandatos. Cada qual
defende como pode a respectiva capelinha.
O que vamos nós, tristes manifestantes de fim-de-semana,
fazer quando formos de novo chamados a escolher os nossos homens-do-leme? Até
que ponto estaremos dispostos a arriscar uma votação tão dadaísta como a que
elegeu Beppe Grillo para o parlamento italiano? Cantar a Grândola é bonito,
comove até às lágrimas, mas não chega. É preciso inventar uma nova canção e
arriscar um futuro diferente.
Carta enviada à directora do jornal Público
6 comentários:
É tudo produto da crise. "Quando falta pão, todo mundo grita, ninguém tem razão". A eleição de Beppe Grillo na Itália, não é um fato isolado. Em épocas de crise o voto de protesto elege "postes", "Cacareco" ou palhaços como já elegeu no Brasil. Nada disso põe em risco a Democracia. O que ameaça de fato as liberdades democráticas é o descontrole financeiro, a irresponsabilidade fiscal, a má gestão da coisa pública. Quando partidos no exercício do poder, eleitos pelo povo cometem desmandos econômicos, o mesmo povo que os elegeu, e os legitimou, paga a conta, com juros e correção monetária. Não há milagre. Atravessar as crises financeiras dói e deixa marcas profundas na sociedade. O protesto é legítimo, válido, mas não resolve. Remédios doces são paliativos. Só os muito amargos fazem efeito. E, claro, ninguém provar por prazer.
Eduardo P.L. disse...
É tudo produto da crise. "Quando falta pão, todo mundo grita, ninguém tem razão". A eleição de Beppe Grillo na Itália, não é um fato isolado. Em épocas de crise o voto de protesto elege "postes", "Cacareco" ou palhaços como já elegeu no Brasil. Nada disso põe em risco a Democracia. O que ameaça de fato as liberdades democráticas é o descontrole financeiro, a irresponsabilidade fiscal, a má gestão da coisa pública. Quando partidos no exercício do poder, eleitos pelo povo cometem desmandos econômicos, o mesmo povo que os elegeu, e os legitimou, paga a conta, com juros e correção monetária. Não há milagre. Atravessar as crises financeiras dói e deixa marcas profundas na sociedade. O protesto é legítimo, válido, mas não resolve. Remédios doces são paliativos. Só os muito amargos fazem efeito. E, claro, ninguém prova por prazer.
11:11 AM
Rui, estas manifestações começam a ser difíceis de definir. Juntar pessoas que reivindicam justiça social com pessoas que reclamam não perder regalias no mesmo espaço não me parece uma equação fácil de resolver. A pergunta que me ocorre recorrentemente diante destas manifestações é a seguinte: o que é que nos une hoje, como país, e o que é que estamos dispostos a fazer por ele. Se a resposta do povo continuar a ser confundir perca de privilégios com injustiça social, então a canção da "Grandola" já não faz sentido nenhum e o povo há muito que deixou de “ordenar”, o que é uma constatação do completo fracasso a que todos nós ( como povo ) chegámos e um completo fracasso em relação ao que hoje temos para oferecer aos nossos filhos no futuro.
pois...
e esta: "Andy Warhol foi o artista plástico mais vendido em leilões em 2012" que dizes?
Eduardo, comentei o teu comentário no Varal.
:-)
Rui, após a queda das duas, uma: ou nos levantamos e tentamos recuperar ou nos deixamos ficar e sempre podemos dormir um sono eterno.
Dear Zé, digo que o velho Andy deixou por aí muita coisa espalhada. Talvez por isso haja muita coisa à venda.
É preciso outra receita e encarar a doença de frente. Pode é ser ainda pior. Mas terá de ser. O resto é ilusão.
Enviar um comentário