Para sabermos ao certo aquilo que queremos talvez tenhamos de simplificar o leque das nossas opções. Precisamos de um desenho simples, uma linha clara preenchida com cores planas, sem sombreados ou modelações complexas. Mais De Stijl e menos Dada.
Será que apenas após compreendermos a clareza essencial da estrutura das formas (e do raciocínio) podemos aventurar-nos em loucuras visionárias sem corrermos o risco de perder o tino?
Toda a simplificação resulta de um afastamento. Um olhar afastado permite desenhar um mapa. A nossa capacidade de abstracção faz o resto, confere-lhe sentido. Consultando a linha que representa a rua onde caminhamos deslocamo-nos no sentido pretendido. Fazemos isso dentro da nossa cabeça e, em simultâneo, caminhando sobre os nossos pés. É um exercício de abstracção absoluto e, no entanto, intimamente relacionado com o mundo real.
Também para compreendermos o que se passa com a nossa sociedade necessitamos de afastamento. Analisar o tempo presente é demasiado confuso, estamos dentro dele e ainda ninguém conseguiu desenhar um mapa conceptual que o possa resumir. Estamos demasiado envolvidos.
A História é um exercício de análise do passado que permite delinear formas simples e mais ou menos lineares. O historiador concentra-se na representação de determinados aspectos e passa-nos uma imagem que somos capazes de compreender (ou pelo menos imaginamos que somos capazes de compreender).
Traçar o mapa dos acontecimentos recentes mostrando a cada um de nós em que ponto da nossa História individual nos encontramos e para onde podemos dirigir-nos sem que percamos o fio à meada é algo do domínio da utopia mais absoluta. Caminhamos às cegas, avançamos por instinto e ninguém pode garantir que não estamos a recuar ou a deslocar-nos em círculos.
Imagino que seria interessante poder olhar um mapa do tempo presente (com indicações seguras em relação ao tempo futuro e mostrando com correcção o caminho até aqui percorrido) e ter aquela indicação que é habitual nos mapas turísticos, com um círculo vermelho bem destacado e a frase mágica "você está aqui".
4 comentários:
A sensação que tive ao ler seu texto foi de que estamos levitando sobre o tal mapa do tempo, imóveis, porque nossos movimentos são insignificantes em relação ao tamanho da história, e é o tempo, como o mapa citado, quem se desloca numa velocidade absurda e constante, sob nossos pés. Quando olhamos para trás, temos vertigens, e quando olhamos para frente esperanças. Mas nada mais do que isso.
A perspectiva histórica é uma análise a posteriori que só nos indica os erros. Quase nunca dá soluções, porque as soluções nunca são as mesmas.
Se a História tivesse respostas não valeria a pena viver o presente. Havíamos de mudar as nossas vidas para o tempo passado.
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