segunda-feira, abril 02, 2012

Sonhos


O meu sonho era poder discutir estética com o homem do talho; a beleza de um bife bem cortado, a grandiosidade de uma carcaça de vaca pendurada do gancho ou o mistério contido numa fileira interminável de chouriças de porco.

O meu sonho era debater questões religiosas com a senhora que limpa as escadas; como lavar o pecado da alma sem recorrer a produtos corrosivos ou como interpretar as manchas de gordura deixadas pelos vizinhos evitando a tentação de os considerar animais indignos de piedade?

O meu sonho era falar de futebol com um grande filósofo; como considerar epistemologicamente os erros dos árbitros ou como superar os limites da brutalidade provocada pela paixão clubística?

O meu sonho era discorrer sobre meteorologia com um economista encartado; acha que vai chover hoje? Ainda há pouco estava tanto calor, como é possível esta súbita sensação, este calafrio que sinto, agora que estou ao pé de si?

O meu sonho era saber o que sonhei esta noite. Infelizmente o meu sonho é estar acordado.

6 comentários:

Anónimo disse...

Andas filosofando poeticamente!

Silvares disse...

Por vezes dá-me para isto :-)

Anónimo disse...

Faz bem para o espírito e alma. Continue!

Jorge Pinheiro disse...

Para além da hermenêutica da exegese, um texto carregado de metáforas de um quotidiano opressivo e indeciso. E se sonharmos a dormir não é pior?

Silvares disse...

Jorge, sonhar é sempre bom. Seja a dormir, seja acordado.

Jorge Pinheiro disse...

Pois... e de facto ninguém sonha por nós, era só o que faltava.