Apercebi-me da facilidade com que os jovens de hoje (leia-se os meus alunos) amam ou odeiam todas as coisas do mundo circundante. Mais do que amar, eles adoram isto ou adoram aquilo tão espontâneamente como odeiam outra coisa qualquer.
Quando tinha a idade deles (que conversa tão paternalista!) eu gostava ou não gostava das coisas com que sentia necessidade de me relacionar. Também amava ou adorava ou odiava, mas resguardava um pouco estes sentimentos para situações muito específicas. Não os declarava com a leveza de espírito que julgo observar nos meus jovens parceiros de quotidiano.
Parece-me evidente que a escala de valor que os miúdos aplicam às coisas é mais vasta e extremada do que aquela que era usual utilizar quando vivi os intervalos de tempo em que eles agora se encontram. Fiquei a pensar por que razão isto poderá acontecer (se é que, na realidade, acontece).
Cheguei a uma leve conclusão. Talvez a minha educação católica esteja relacionada com a dificuldade em declarar amor, adoração ou ódio. Ensinaram-me que se adora a Deus acima de todas as coisas. Adorar outra coisa seria pecado próximo do mortal, logo era enfiar um pézinho no inferno.
Assim sendo, o ódio era coisa para sentir quando o diabo andasse por perto. Era preciso ter muito cuidado com esse tipo de sentimento.
O tempo passou e a minha adoração pela divindade esfumou-se por completo, mas aquilo que me entrou pelos miolos abaixo cá ficou. Os putos agora não passam pelo crivo da cataquese e não sentem qualquer prurido em declarar adoração por um cantor da moda ou ódio por uma marca de jeans.
Não só a escala deles é muito mais vasta e extremada, como as coisas parecem ter todas um valor aproximado. Deus é colocado na balança dos amores e dos ódios juntamente com um penteado ou um jogo de consola e, à partida, todas as coisas podem ser pesadas em conjunto, chegando-se a um resultado perfeitamente aceitável.
Será que esta facilidade de adorar e odiar está relacionada com a banalização do sagrado? Mmmmmh, pode ser isso... pode ser isso.
7 comentários:
Pode ser isso! E se for é bom!
Aqui os jovens são iguais! Amam ou odeiam qualquer coisa. Não há outra escala. Só extremos!
Verdade!
Hoje eles são só extremos!
A liberdade de pensar e falar é veloz como a net!
Outros tempos.
O futuro (que está cada vez mais próximo e rápido)nos dirá.
Tb não me recordo de odiar e amar com tanta facilidade e rapidez. E minha educação foi de contrastes; o colégio era católico, e em casa a palavra de ordem era "não confie e nem acredite nos padres muito menos fique a sós com eles!" Aprendi desde cedo que o pecado vinha de mãos dadas com a igreja.
Mas havia muito respeito e temor aos mais velhos. Acho que por isso entre o amor e o ódio havia um longo percurso. Acho...
Acho que éramos parecidos. Utilizávamos outros termos que, no idioleto etário significava o mesmo. Quer dizer, o sentido com que abraçávamos ou rejeitávamos as coisas com que povoávamos o nosso mundo tinha a radicalidade atual. Lembro-me bem das grandes discussões sobre a música (inevitável) a que se foi acrescentando o cinema e a literatura (em Portugal não havia mais "nada"): ou era nosso, mesmo que não muito bom e era defendido com unhas e dentes, ou não era nosso e era desprezado. Em abstrato não noto diferença no ênfase. Só mais tarde é que a abertura se foi instalando e o mundo reconfigurou-se alargando-se.
Novos tempos,com a internet,as mudanças através do tempo.Elês nascem preparados para a sua geração.
Vim conhecer e gostei muito,já estou a te seguir.
Felicidades.
http://wwwavivarcel.blogspot.com/
Éramos mais judaico-cristãos e mais cinzento-salazarentos.
Eduardo, não lhe parece um nadinha excessivo?
Li, você focou um aspecto importante: o respeito pela velhice. Lembro-me bem de morder a língua muitas vezes para não contrariar opiniões com as quais não concordava só porque vinham de cabeças brancas. Não morri por isso, nem fiquei menos contestatário. Pelo contrário, pude amar, de facto, os mais velhos.
Luís, pessoalmente penso que noto uma grande diferença no ênfase. Pelo menos na forma insensata como ele é atirado para o ar, com toda a força. A adolescência anda brava!!!
Fênix, seja bem-vinda. O mundo virtual estará a destruir as fronteiras geracionais?
Jorge, éramos isso e muito mais (ou muito menos). Tenho consciência de que as coisas hoje não são melhores nem piores; são diferentes.
:-)
De fato Rui, amar e respeitar os mais velhos esta no nosso DNA.
Vamos ver se conseguimos dar essa continuidade na cadeia evolutiva.
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