quarta-feira, fevereiro 22, 2012

O dia seguinte

Entrudo e Carnaval são coisas de gente pobre e, como são dias de virar o mundo às avessas, a gente ri, mas lá no fundo estamos a gritar tristeza. O Rei Momo é um palhaço (quererá isto dizer que somos governados por palhaços?) e os seus súbditos saltam como macacos, fazem esgares de macaco e guincham como macacos. São festejos onde os pobres têm direito a deitar para fora tudo o que lhes vai na alma e com isso enchem ruas e avenidas das mais destrambelhadas atitudes, em desfiles alucinados.

Quando a festarola chega ao fim, o mundo é devolvido à sua ordem natural. Os macacos do desfile voltam a vestir os seus fatos de gente verdadeira, os Reis de Facto regressam às cadeiras do poder e metem outra vez tudo nos eixos. O mundo não é aquela coisa distorcida e grotesca. É distorcido e grotesco mas de outra forma. A regra não é o samba nem a batucada. A alegria, obrigatória do Carnaval, volta a ser acidental, acontecendo de vez em quando.

Os homens e as mulheres que andam a limpar o chão da rua não estão mascarados de varredores.

4 comentários:

banzai disse...

desde os primórdios a História já nos ensinaram a dar lhes o ´pão e circo´ e assim caminha a humanidade.
madoka

Jorge Pinheiro disse...

Reparem na inteligência do nosso PM. Ao "proibir" o Entrudo, exacerbou os pobres. Os pobres vieram para a rua ainda mais aos gritos e assim escusam de gritar por razões sérias. Brilhante!

Regis disse...

Como há cada vez mais pobres, logicamente, teremos cada vez mais carnaval.
Refiro-me, é claro, à Europa, pois cá no Brasil os pobres são, cada vez mais, raridade.
Pergunto (sem maldade): quando o autor fala em macacos refere-se aos negros?

Silvares disse...

11 anos depois leio este comentário. E respondo: não Regis, quando falo em macacos não me refiro aos negros nem aos brancos nem aos amarelos, refiro-me a pessoas que fazem caretas e se assemelham a macacos.