"A cultura é a soma de todas as formas de arte, amor e pensamento que, ao longo dos séculos, permitiram ao homem ser menos escravizado." escreveu André Malraux. Se não foi exactamente assim terá sido um pouco mais ou menos.
Numa época em que estamos a observar o progressivo desmoronamento da utopia democrática, com um olhar entre o desencantado e o nostálgico, uma frase deste género proporciona uma reflexão algo melancólica.
Malraux não parece admitir o fim da escravatura, apenas um certo alívio dessa condição. A cultura funcionará (funcionaria) como uma espécie de lenitivo, pouco mais, algo menos, suavizando apenas a inevitabilidade do sofrimento característico dos escravos. Viveríamos no Purgatório. Vivemos?
Temos a arte, temos o amor, temos o pensamento livre. Ao que tudo indica, a possibilidade de libertação encontra-se encerrada no coração dos indivíduos. Poderemos algum dia ampliar o seu raio de acção ao colectivo, abrir-lhe a porta da gaiola que temos encerrada no peito? Como fazê-lo? Não sei, não sei, sinceramente, sinto-me às escuras.
Continuo convencido que o mais essencial dos bens a que podemos aspirar enquanto colectivo social é a liberdade de expressão. Se a democracia nos proporcionar esse direito essencial já estaremos a afastar-nos suficientemente da condição de escravos? Desculpa lá, Malraux, mas penso que, apesar da força da tua opinião, a liberdade está mais próxima de nós do que aquilo que propuseste. Quero acreditar nisso, Ardentemente.
6 comentários:
acaso o senhor se lembra que o purgatório já não existe? aqui há muito pouco tempo os doutores da igreja de Roma acabaram com ele.
e eu fiquei assim descoroçoado, é que pensava que era o sítio onde vivia...
Fomos repelentemente despejados.
Estou contigo no desejo, espero é que não morras queimado.
É aproveitar enquanto há tempo!
A democracia é um meio para atingir fins. Não um fim em si mesmo. A liberdade está sempre em perigo. Basta uma crise de certa dimensão para se pôr tudo em causa. Os "valores" tedem a submeter-se à economia. A economia submete-se à finança. E a finança à ganância. Difícil sair daqui!
Jorge, comentei este comentário no Varal de Ideias.
:-)
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